Quem tem medo de Mecônio?
escrito por: Tricia em segunda-feira, dezembro 11, 2006 às 11:08 AM.
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"Comecei a procurar um texto sobre mecônio que eu tinha escrito para a lista
há mais de um ano, porém não encontrei, vou tentar escrever sem recorrer à
tradução simultânea:
Mecônio nada mais é senão o cocô fetal. Há dois motivos para que ele seja
eliminado ainda durante a gravidez, ou seja, para que o feto faça cocô
dentro do útero: MATURIDADE FETAL, porque o intestino está funcionando a
contento, o que é um bom sinal, e SOFRIMENTO FETAL, porque quando o feto
está mal oxigenado aumenta a contratilidade dos intestinos e relaxam-se os
esfíncteres (como quando estamos em uma situação de estresse).
Em um feto bem oxigenado, que elimina mecônio apenas porque está maduro, sua
presença não traz maiores (aliás, nem menores) problemas. Esse feto
maduríssimo e pronto para evacuar a cada instante também faz xixi dentro da
barriga. O xixi fetal é a principal fonte de produção do líquido amniótico,
e quanto mais líquido mais fácil fica de o mecônio se diluir. Um bom volume
de líquido amniótico indica que os rins fetais estão funcionando a contento,
bem perfundidos (ou seja, o sangue chega lá e irriga bem os rins). Esse
mecônio diluído dá o aspecto que chamamos de "tinto de mecônio" ou "mecônio
fluido". Aí, também, sem repercussões desfavoráveis. Evidências
ultra-sonográficas sugerem que o feto pode evacuar algumas vezes dentro do
útero e, ao nascimento, encontrar-se líquido CLARO,
Se o líquido amniótico está diminuído, não há como diluir o mecônio, aí
temos o MECÔNIO ESPESSO, podendo mesmo assumir o aspecto característico de
papa de ervilhas". A preocupação nesse caso é com o motivo pelo qual o
mecônio está espesso, porque o líquido amniótico pode estar diminuído
fisiologicamente no final da gravidez e nas gestações pós-termo (que
ultrapassam 42 semanas) ou por insuficiência placentária, reduzindo o fluxo
sanguíneo para os rins fetais.
O risco de aspiração do mecônio e desenvolvimento de um quadro de pneumonite
grave (Síndrome de Aspiração Meconial) é a maior preocupação nesses casos de
mecônio espesso. Entretanto, o quadro só ocorre em bebês em sofrimento, que
fazem movimentos de 'gasping' dentro do útero e, ao nascer, não têm os
mecanismos fisiológicos para 'clarear' o mecônio. Bebês hígidos, saudáveis,
podem até aspirar mecônio mas os mecanismos pulmonares normais entram em
ação para eliminar esse mecônio.
Concluímos, portanto, que o fundamental é distinguir se o bebê se encontra
ou não em sofrimento. A ausculta dos batimentos cardíacos fetais (BCF)
continua sendo a forma não-invasiva mais eficiente de se monitorizar o
bem-estar fetal, podendo ser realizada de forma intermitente (com o sonar
Doppler) ou contínua (pela cardiotocografia). Uma boa ausculta fetal durante
o trabalho de parto é tranquilizadora. Se há alteração dos batimentos e a
freqüência cardíaca fetal assume um padrão "não-tranquilizador", está
indicada a antecipação do parto, que pode ser por cesariana ou, se o evento
ocorre no período expulsivo, através de fórceps ou vácuo-extração.
Alguns estudos apontam para um possível efeito benéfico da amnioinfusão (instilação de soro na cavidade amniótica por via cervical), no sentido de prevenir as desacelerações freqüentes nos casos de oligo-hidrâmnio, porém ainda não há evidências suficientes para apoiar sua indicação rotineira. De acordo com a revisão sistemática da Cochrane, o procedimento pode levar a redução das taxas de cesariana por 'sofrimento fetal'."
por: Dra. Melânia Amorim
há mais de um ano, porém não encontrei, vou tentar escrever sem recorrer à
tradução simultânea:
Mecônio nada mais é senão o cocô fetal. Há dois motivos para que ele seja
eliminado ainda durante a gravidez, ou seja, para que o feto faça cocô
dentro do útero: MATURIDADE FETAL, porque o intestino está funcionando a
contento, o que é um bom sinal, e SOFRIMENTO FETAL, porque quando o feto
está mal oxigenado aumenta a contratilidade dos intestinos e relaxam-se os
esfíncteres (como quando estamos em uma situação de estresse).
Em um feto bem oxigenado, que elimina mecônio apenas porque está maduro, sua
presença não traz maiores (aliás, nem menores) problemas. Esse feto
maduríssimo e pronto para evacuar a cada instante também faz xixi dentro da
barriga. O xixi fetal é a principal fonte de produção do líquido amniótico,
e quanto mais líquido mais fácil fica de o mecônio se diluir. Um bom volume
de líquido amniótico indica que os rins fetais estão funcionando a contento,
bem perfundidos (ou seja, o sangue chega lá e irriga bem os rins). Esse
mecônio diluído dá o aspecto que chamamos de "tinto de mecônio" ou "mecônio
fluido". Aí, também, sem repercussões desfavoráveis. Evidências
ultra-sonográficas sugerem que o feto pode evacuar algumas vezes dentro do
útero e, ao nascimento, encontrar-se líquido CLARO,
Se o líquido amniótico está diminuído, não há como diluir o mecônio, aí
temos o MECÔNIO ESPESSO, podendo mesmo assumir o aspecto característico de
papa de ervilhas". A preocupação nesse caso é com o motivo pelo qual o
mecônio está espesso, porque o líquido amniótico pode estar diminuído
fisiologicamente no final da gravidez e nas gestações pós-termo (que
ultrapassam 42 semanas) ou por insuficiência placentária, reduzindo o fluxo
sanguíneo para os rins fetais.
O risco de aspiração do mecônio e desenvolvimento de um quadro de pneumonite
grave (Síndrome de Aspiração Meconial) é a maior preocupação nesses casos de
mecônio espesso. Entretanto, o quadro só ocorre em bebês em sofrimento, que
fazem movimentos de 'gasping' dentro do útero e, ao nascer, não têm os
mecanismos fisiológicos para 'clarear' o mecônio. Bebês hígidos, saudáveis,
podem até aspirar mecônio mas os mecanismos pulmonares normais entram em
ação para eliminar esse mecônio.
Concluímos, portanto, que o fundamental é distinguir se o bebê se encontra
ou não em sofrimento. A ausculta dos batimentos cardíacos fetais (BCF)
continua sendo a forma não-invasiva mais eficiente de se monitorizar o
bem-estar fetal, podendo ser realizada de forma intermitente (com o sonar
Doppler) ou contínua (pela cardiotocografia). Uma boa ausculta fetal durante
o trabalho de parto é tranquilizadora. Se há alteração dos batimentos e a
freqüência cardíaca fetal assume um padrão "não-tranquilizador", está
indicada a antecipação do parto, que pode ser por cesariana ou, se o evento
ocorre no período expulsivo, através de fórceps ou vácuo-extração.
Alguns estudos apontam para um possível efeito benéfico da amnioinfusão (instilação de soro na cavidade amniótica por via cervical), no sentido de prevenir as desacelerações freqüentes nos casos de oligo-hidrâmnio, porém ainda não há evidências suficientes para apoiar sua indicação rotineira. De acordo com a revisão sistemática da Cochrane, o procedimento pode levar a redução das taxas de cesariana por 'sofrimento fetal'."
por: Dra. Melânia Amorim
Marcadores: complicações, mecônio, parto
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