O jeito mais bacana de nascer


escrito por: Débora, em quinta-feira, novembro 30, 2006 às 12:40 PM.


Para a parteira norte-americana Shari Daniels, do programa Central de Bebês, do canal Discovery Home & Health, dar à luz é um milagre — e todas as mulheres saudáveis deveriam, ao menos, tentar o parto natural

Por Malu Echeverria*Foto Marcela Barros


Em 30 anos de profissão, a parteira norte-americana Shari Daniels trouxe ao mundo mais de 10 mil bebês. O primeiro foi a própria filha, num hospital, no início dos anos 70. O obstetra e as enfermeiras não levaram em consideração as contrações da grávida, deixando-a esperar no quarto. "Tive, então, de parir minha primeira filha sozinha, com a ajuda do meu marido", diz Shari, que tem mais seis filhos, dos quais três são adotivos.Indignada com a humilhação, achou que deveria fazer algo. Foi quando deixou de lado a psicologia e resolveu estudar o parto humanizado. Desde então, ela ajudou a abrir casas de parto nos EUA, no México, em Israel, na Índia, no Equador e na Jamaica. Em 1977, criou a primeira escola americana para parteiras nos EUA, na qual já treinou mais de 500 profissionais de costa a costa. Há dois anos, comanda o Miami Maternity Center, maternidade especializada em parto natural, onde é gravado o programa Central de Bebês, do canal a cabo Discovery Home & Health.Exceto pelo cheiro de hospital, a maternidade tem ares de casa. Fotos de bebês e de mulheres grávidas enfeitam as paredes. Em cada sala de parto, há uma cama de casal e uma banheira, para que as gestantes fiquem à vontade. O pai é presença comum, tanto no pré-natal quanto no nascimento do bebê. Ali, 80% dos partos são dentro d'água - sem anestesia e, salvo raras exceções, episiotomia. Somente 7% deles terminam em cesárea. Nesses casos, as gestantes são encaminhadas ao hospital mais próximo, a cinco minutos da maternidade. A seguir, Shari conta por que, na sua opinião, não existe melhor jeito de nascer.

Por que o parto natural é tão temido?É cultural. Até o século passado, não havia muitas opções. Durante a Segunda Guerra Mundial, com os médicos fora do país, as mulheres começaram a se dirigir aos hospitais para dar à luz. Como tinham de esperar na mesma enfermaria, ouviam os gemidos umas das outras. A histeria, obviamente, alastrava-se. Os médicos começaram, então, a administrar anestesia para acalmá-las. As mulheres descobriram que poderiam optar por não sentir dor ou até mesmo planejar uma cesárea, transformando o parto em algo mais previsível. Foram convencidas de que são fracas e, portanto, não conseguiriam parir sem remédios. Acontece que, em geral, elas desconhecem os riscos envolvidos nessas intervenções, os quais são evitados no parto natural.É possível se preparar psicologicamente para o parto?Sim, basta encarar a experiência como algo natural. Milhões de bebês ao longo da história da humanidade nasceram desse jeito.Como você ajuda as mulheres a lidar com a dor?Há várias técnicas que podem ser úteis. Ter a barriga submersa em água morna, por exemplo, produz um efeito calmante, como podemos observar nos partos que realizamos dentro d'água. Mas o principal é concentrar-se na maravilhosa experiência de trazer uma criança ao mundo.Você é contra anestesia?A prática de evitar remédios durante a gravidez deve ser mantida no parto, a não ser que exista realmente indicação médica. Acreditamos, portanto, que um parto sem o uso de medicamentos é melhor para mãe e bebê.E o que pensa da episiotomia?A episiotomia tornou-se comum em muitos centros obstétricos porque acredita-se que esse procedimento agiliza o trabalho de parto. Com as intervenções, repito, vêm os riscos. Comparo esse músculo a uma toalha. Uma vez roto, torna-se debilitado, afetando futuros nascimentos. O que, mais tarde, poderá causar também problemas na região do ânus. Em raríssimas exceções, a episiotomia se faz necessária. Em toda a minha carreira, realizei menos de 50.É importante ter familiares por perto no parto?O parto é um evento familiar. As mulheres têm escolhas diferentes em relação às pessoas que elas gostariam de ter por perto nesse momento. Mas dar à luz, para mim, é um milagre. Por isso, encorajamos os pais e outros membros da família a participar, dando suporte às mães.Todas as mulheres são capazes de parir naturalmente?Nem todas as mulheres, claro. Algumas condições, como diabete, cardiopatias e pressão alta, são empecilhos. Mas eu encorajo todas as que são saudáveis a tentar. Afinal, a natureza é sábia: as fêmeas mamíferas foram desenhadas para parir. Assim como a amamentação, que é o alimento ideal para o bebê, nunca haverá um jeito melhor para ele vir ao mundo.

O índice de cesáreas no Brasil é o maior do mundo. Ciente dos riscos, a Agência Nacional da Saúde Suplementar está promovendo medidas para reduzi-loCerca de 2,5 milhões de bebês nascem por ano no Brasil. Desses, 88% são realizados no SUS, que apresenta uma taxa de 28% de cesáreas. O restante dos partos ocorre no setor suplementar de saúde, no qual o índice desse tipo de cirurgia é o maior do mundo - 80%. De acordo com estudo recente da Organização Mundial de Saúde, o aumento das taxas de partos cirúrgicos, fenômeno global, implica em piores índices de mortalidade materna e neonatal. A conclusão é que a intervenção médica que salva indivíduos doentes em situações de emergência, quando aplicada em populações saudáveis, mais prejudica do que ajuda.Ciente disso, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) está promovendo medidas para reduzir o elevado índice de cesáreas no Brasil. Entre elas está uma campanha nacional de apoio ao parto normal, com a participação de atrizes globais, que deve irao ar em janeiro. A outra diz respeito à avaliação anual das operadoras, realizada pela ANS. As que apresentarem uma redução na taxa ganharão pontos. A relação das instituições e sua pontuação geral serão divulgadas ao público no segundo semestre."O objetivo é acabar com o mito de que o parto cirúrgico é a melhor opção", diz Alzira de Oliveira Jorge, secretária-executiva da ANS.

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Poema matuto - a parteira


escrito por: Tricia em às 11:49 AM.


dessa vez é pra ouvir...
duvido você não abrir um sorriso... ou encher os olhos de lágrimas.

Clique aqui para ouvir o Poema matuto - A parteira

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Parteira, profissão que renasce


escrito por: Tricia em às 11:40 AM.

Unindo ciência e tradição, enfermeiras obstétricas ganham espaço na assistência ao parto
LÚCIA NASCIMENTO

Às seis horas da manhã de uma sexta-feira, Helka enfrentava as dores do trabalho de parto num congestionamento da Marginal Tietê, na capital paulista. Chegou a pensar em correr para o hospital mais próximo, mas desistiu. Seu primeiro filho, Yan, hoje com 9 anos, nascera num parto cheio de intervenções médicas desnecessárias, e agora ela queria um atendimento mais humanizado, sem correria nem tratamento impessoal.

Quando finalmente chegou à Casa de Parto de Sapopemba, na zona leste da cidade, as enfermeiras obstétricas vieram recepcioná-la na porta, chamando-a pelo nome – apesar de ela ter estado ali apenas uma vez. Helka recebeu massagens e tomou chás para aliviar a dor e logo a bolsa estourou.

Após encontrar uma posição confortável para o parto – ela preferiu ficar na vertical –, sentiu-se pronta e segura para o grande momento. A todo instante as enfermeiras explicavam os movimentos do bebê e o porquê de cada dor, tranqüilizando-a. Às sete e quarenta Rav nasceu e, antes mesmo de ter o cordão umbilical cortado, foi para o colo da mãe.

No imaginário cultural brasileiro, as figuras de assistência ao parto se resumem a médicos, em hospitais, e parteiras, em áreas pobres do interior do país. Uma figura ainda pouco conhecida, mas que tem ganhado o reconhecimento do governo e da sociedade, é a das parteiras profissionais – enfermeiras obstétricas que atuam nas grandes cidades e vêem o parto como um evento natural, que, se estiver bem preparado e livre de complicações, pode muito bem ocorrer fora de um hospital.

Como herança das parteiras tradicionais – que aprenderam o ofício na prática –, essas profissionais sabem da importância de tratar a mulher como protagonista no parto, respeitando seus desejos e aliviando as dores com conforto emocional, técnicas de relaxamento e chás. Diferentemente do que acontece na zona rural, entretanto, elas foram formadas em universidades para fazer o parto de gestantes de baixo risco e são tão capacitadas quanto os médicos obstetras para esse atendimento.

Locais de atuação

O bairro de São Mateus, no extremo leste da capital paulista, tem 400 mil habitantes e é um dos mais pobres da cidade. Lá, o Hospital Geral de São Mateus, pertencente ao Sistema Único de Saúde (SUS), possui um Centro de Parto Natural (CPN), inaugurado em dezembro do ano passado. Nessa unidade, as enfermeiras obstétricas prestam assistência em suítes individuais, que garantem privacidade e segurança, pois têm à disposição todos os equipamentos necessários para cuidar da mãe e do bebê.

A criação de locais acolhedores em hospitais de regiões pobres das grandes cidades é uma conquista, na opinião de Teresa Sá Martins, enfermeira obstétrica e supervisora do CPN de São Mateus. Segundo ela, ali a gestante é incentivada a levar um acompanhante, que pode ficar a seu lado durante o trabalho de parto e o nascimento. Além disso, a mulher tem liberdade de movimentos, escolhe a posição mais confortável, se alimenta se tiver vontade e não precisa ficar recebendo soro. Pode, ainda, utilizar uma banheira de hidromassagem para relaxar nos intervalos entre as contrações.

No Centro de Parto Natural, como o próprio nome indica, as intervenções médicas só ocorrem quando surgem complicações. A filosofia é permitir que a mulher se sinta à vontade e deixe seu organismo agir livremente, sem uso de hormônios para acelerar o processo, sem cortes para facilitar a saída do bebê (a chamada episiotomia) e com a utilização de métodos alternativos de relaxamento.

Márcia, de 21 anos, que teve seu segundo filho em junho deste ano no CPN, declara: "Foi muito bom. As enfermeiras são cuidadosas, deixam comer e andar, não tiram o bebê de perto e também não colocam a gente no soro". Foi esse atendimento diferenciado que Helka Luciana de Azevedo, assistente de fotografia, de 31 anos, buscou na Casa de Parto de Sapopemba.

Diferentemente dos CPN, que ficam dentro de hospitais, as casas de parto tanto podem estar acopladas a um hospital como apenas ter um de referência, para onde são encaminhadas as gestantes que apresentam algum problema durante o trabalho de parto. Helka, no entanto, apesar de ter ficado satisfeita com o tratamento, tem uma queixa: "Bem que podiam ampliar o número de casas de parto, colocando uma em cada região da cidade".

"Hoje, há apenas cinco casas de parto funcionando a pleno vapor no país: a do Hospital Sofia Feldman, em Belo Horizonte; a de Juiz de Fora (MG); a Casa de Parto David Capistrano Filho, no Rio de Janeiro, e duas na cidade de São Paulo: a Casa de Maria e a Casa de Parto de Sapopemba", afirma Isa Paula Hamouche, técnica da área de saúde da mulher do Ministério da Saúde. E a principal razão apontada para a pequena quantidade de locais como esses é a falta de disposição dos governos estaduais e municipais.

Por essa razão, as que existem têm sido cada vez mais procuradas. A Casa de Parto David Capistrano Filho, no bairro de Realengo, na pobre região oeste da cidade do Rio de Janeiro, já atendeu a mais de 500 partos desde que foi inaugurada, em 8 de março de 2004. Como não é acoplada a um hospital, uma ambulância fica de plantão 24 horas por dia, para transportar gestantes que apresentem algum problema até a Maternidade Alexander Fleming, que fica a 8 quilômetros do local. Nesses casos, a equipe do hospital – onde também trabalham algumas das enfermeiras obstétricas da casa de parto – é imediatamente acionada.

Riscos

Além do atendimento em casas de parto e em centros de parto natural, as enfermeiras obstétricas (e também alguns médicos) prestam assistência em casa. Essa modalidade, no entanto, ainda é vista com cautela no Brasil. Em países como Holanda e Inglaterra, o parto domiciliar é incentivado, chegando, respectivamente, a 40% e 47% do total.

Para a socióloga e diretora da organização não-governamental Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação (Cepia), Jacqueline Pitanguy, dar à luz em casa não significa abrir mão do que a tecnologia pode oferecer. Se o bebê está bem posicionado e o pré-natal foi bem feito, não há problema.

A classe médica, em geral, se mostra contrária. "Pode-se fazer parto domiciliar? Sim, mas não se deve. Os riscos são raros, talvez de menos de 1%, mas quando surgem podem ser fatais para o bebê e até para a mãe. Mesmo com uma ambulância à disposição, numa cidade como São Paulo são muitas as variáveis. A mulher precisa saber que corre um risco", afirma Mario Macoto Kondo, diretor técnico do Centro Obstétrico do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC/FMUSP).

Nem todos, no entanto, vêem problema no fato de dar à luz fora do ambiente hospitalar. A começar pelo Ministério da Saúde: "É um direito da mulher escolher onde vai ter seu bebê. No mundo inteiro se discute o movimento de descentralização do atendimento ao parto e a saída desse procedimento da maternidade. Em alguns momentos, o aparato hospitalar pode até ser negativo para a mulher", afirma Isa Hamouche.

"O modelo que deve vingar é o que une a casa de parto – com assistência de enfermeiras obstétricas, ambiente familiar e privacidade – a um hospital, onde a total segurança também está garantida", enfatiza Aníbal Faúndes, coordenador de estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS) e pesquisador do Centro de Pesquisas Materno-Infantis de Campinas (Cemicamp).

De acordo com Simone Grilo Diniz, médica e professora do Departamento de Saúde Materno-Infantil da Faculdade de Saúde Pública da USP, embora o parto ainda seja descrito por muitos médicos como um evento de risco, as mais recentes evidências científicas mostram que, ao contrário, para mulheres que não apresentam problemas de saúde ou alterações durante a gravidez não há nenhum perigo. "O máximo que se puder fazer para não atrapalhar o processo fisiológico, melhor. Isso não significa que não se deva estar atento. A maioria das mulheres só precisa de vigilância – ver se mãe e bebê estão bem – e privacidade", declara.

Essa idéia também é defendida por quem presta assistência a partos domiciliares. "O ambiente acolhedor do lar facilita a liberação de oxitocina e de endorfina, hormônios necessários para que o parto aconteça de forma natural", argumenta Heloísa Lessa, enfermeira obstétrica que atua no Rio de Janeiro e membro da Rede pela Humanização do Parto e do Nascimento (ReHuNa).

Cláudia Orthof, médica e também membro da ReHuNa, trabalha em equipe com Heloísa e garante que nenhuma gestante que possa apresentar complicações terá o parto feito em casa. Por precaução, em todos os nascimentos um obstetra e um pediatra são contatados e ficam em alerta para qualquer eventualidade.

Para Vilma Nishi, enfermeira obstétrica que já realizou mais de 80 partos domiciliares na cidade de São Paulo, o maior problema é a mulher não admitir fraquejar. "Quando combino de atender um parto em casa, já aviso à futura mãe: se eu disser ‘agora é hora de ir para o hospital’, não há por que discutir. Nunca tive de sair correndo, mas há casos em que a gestante apresenta algum bloqueio ou se sente insegura. Nessas circunstâncias, vamos para um hospital." Por via das dúvidas, Vilma mantém um esquema de referência montado. Como a maioria das mulheres que atende possui plano de saúde, orienta as gestantes para que façam o pré-natal com ela e também com um médico do convênio. "Se for preciso ir para o hospital, haverá alguém para – como elas dizem – ajudar no ‘plano B’", declara.

Heloísa completa que ter um esquema de referência por perto é fundamental: "Se estou a três horas de um hospital, o risco de atender em casa pode ser grande. Mas, se puder chegar lá em cinco minutos, não há problema. O parto domiciliar é seguro, desde que os limites sejam respeitados".

Convergência

Um ponto a respeito do qual todos concordam é a necessidade de melhorar o pré-natal, para evitar que complicações imprevistas atrapalhem o andamento do trabalho de parto em mulheres saudáveis e sem alterações. "Uma coisa que pesa muito é o vínculo que se estabelece durante o período de gravidez. O pré-natal, na minha opinião, tem de ser feito de 15 em 15 dias, com pelo menos uma hora e meia de consulta. Quando se procede dessa maneira, trabalhando todas as questões envolvidas, a opção pelo parto domiciliar é praticamente uma conseqüência", afirma Heloísa.

"A questão mais importante é o preparo da paciente, que muitas vezes não acontece de forma adequada. Num pré-natal bem-feito, é possível identificar fatores que podem levar a riscos no trabalho de parto. Mas, de modo geral, o enfoque é muito tecnicista, e a dimensão humana acaba sendo deixada de lado. Essa é uma deficiência, hoje, em obstetrícia. O médico faz exames brilhantes e se esquece do aspecto emocional", declara Mario Kondo.

A convergência entre as duas classes, entretanto, se resume praticamente ao pré-natal. Em 2004, por exemplo, o Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj) tentou impedir, sem sucesso, o funcionamento da Casa de Parto David Capistrano Filho, e entrou com uma ação na Justiça que pedia o fechamento da instituição.

Algumas décadas atrás, o antagonismo não era tão acentuado. Até 1970, as parteiras profissionais eram formadas na faculdade de medicina, no curso de obstetrícia, e trabalhavam em conjunto com os médicos. A partir de meados desse ano, porém, quando a profissão se tornou uma especialização da enfermagem e houve a proliferação dos planos de saúde, os conflitos hierárquicos passaram a ser constantes. "Acaba então a parceria que existia nas clínicas particulares. Um fator relevante foi a má remuneração feita pelos convênios, que incentivou os médicos a aumentar o número de gestantes que atendiam, dando preferência à cesárea – prática na qual enfermeiras obstétricas não podem atuar. No fim da década de 1980, a rivalidade entre as classes já era extremamente crítica", esclarece Dulce Gualda, coordenadora do curso de obstetrícia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP Leste, que, criado em 2005, trouxe de volta a possibilidade de formação universitária de parteiras profissionais.

"Hoje, há muitas mulheres morrendo de causas evitáveis no Brasil, e isso é bastante grave. Os médicos, de maneira geral, não confiam nas enfermeiras obstétricas para a assistência a gestantes de baixo risco, mas como confiar na classe médica como um todo se o índice de mortalidade materna é absurdo?", questiona Heloísa.

Mortalidade materna

É realmente impressionante: 75 brasileiras, em cada grupo de 100 mil mulheres, morrem por complicações do parto ou durante a gravidez. As estimativas, entretanto, são de que esse número chegue a 130, se forem considerados os casos em que a morte não é registrada como decorrência de complicações durante ou após o parto. Em países desenvolvidos, como a Inglaterra, são cerca de dez mortes por 100 mil.

Em parte, o índice de mortalidade materna se deve à elevada taxa de cesáreas no país, que ultrapassa os 15% recomendados pela OMS. As estatísticas falam por si mesmas: no Brasil, pouco mais de 3% das grávidas têm seus bebês em casas de parto ou na própria residência. Entre as que dão à luz no ambiente hospitalar, o parto natural também não é o preferido: de acordo com o Ministério da Saúde, 39,71% fazem cesáreas no sistema público de saúde e, nos hospitais particulares, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), esse percentual sobe para 79,7%.

Esses dados – alarmantes – colocam o Brasil na posição de vice-líder mundial em número de cesáreas, atrás apenas do Chile. "Esse tipo de parto eleva o risco de infecções, de hemorragia e até de a mulher precisar retirar o útero", alerta Aníbal Faúndes. Além de aumentar as probabilidades de complicações graves como essas, e ainda de pneumonia e septicemia, a cesárea traz, para cerca de um terço das mães, problemas como febre, hematoma, infecção no trato urinário ou no útero, ferida cirúrgica e paralisia do intestino ou da bexiga.

"A comparação entre bebês nascidos de cesáreas por razões não-médicas e os de partos vaginais também comprova que, no primeiro caso, é quase cinco vezes maior o risco de haver necessidade de cuidados intensivos ou semi-intensivos, ou ainda de assistência respiratória", alerta Simone.

Além disso, deve-se considerar que há diversos procedimentos médicos invasivos realizados rotineiramente no ambiente hospitalar, como raspagem de pêlos, lavagem intestinal, uso de soro e de hormônios para acelerar o processo, episiotomia e jejum, entre outros. "A maioria dessas intervenções é imposta, ou seja, a mulher nem é consultada. Tudo isso acabou por transformar o parto natural que acontece em hospital em uma coisa horrenda, levando muitas grávidas a optar pela cesárea, por acreditar que é menos dolorida", lamenta Simone.

A perspectiva é que as mudanças iniciadas no modelo de assistência ao parto no Brasil se consolidem lentamente, graças, inclusive, à reabertura do curso de obstetrícia destinado à formação de parteiras profissionais. De acordo com Dulce Gualda, os alunos da EACH (também há homens na graduação: de 60 matriculados, oito são do sexo masculino) recebem "uma visão de parto num contexto mais amplo, de cultura, de sociedade, de envolvimento político, de transformação do sistema. É um curso que começa com a saúde e depois entra na doença, diferentemente do enfoque tradicional, que tende a se fixar nesta última". A absorção desses profissionais no mercado de trabalho ainda é, contudo, uma incógnita.

FONTE: Problemas Brasileiros

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Orientar as mulheres a empurrarem os bebês é prática comum
Pedir que uma mulher 'empurre' o bebê na hora do parto faria uma diferença irrisória no tempo que leva para a criança nascer e poderia até causar problemas de saúde, sugere uma pesquisa.
Os pesquisadores da Universidade do Texas indicam que fazer isso poderia causar problemas para a bexiga das gestantes.
Os pesquisadores observaram 320 mulheres saudáveis que davam a luz pela primeira vez, haviam tido gestações sem problemas e não precisaram de anestesia epidural durante o parto.
Eles estudaram a duração do chamado segundo estágio, quando o colo do útero está totalmente dilatado e o bebê começa a se mover.
Cansaço
Metade das mulheres receberam instruções de empurrar por 10 segundos durante uma contração e a outra metade foi instruída a fazer o que lhes "parecesse natural".
Esse estágio para o primeiro grupo levou cerca de 46 minutos, e para o segundo, 59 minutos.
Das 320 mulheres, 128 voltaram para testes após três meses.
As que receberam instrução para empurrar os bebês, apresentaram uma menor capacidade de bexiga, embora os pesquisadores lembrem que é comum que o órgão volte ao normal com o tempo.
"Geralmente é melhor para a paciente fazer o que é melhor para ela”, diz Steve Bloom, ginecologista que conduziu a pesquisa.
A equipe diz, entretanto, não desejar alarmar desnecessariamente as mulheres.
A obstetra Maggie Blott, da Enfermaria Real de Newcastle, disse que existe uma tendência a deixar que as mulheres se sintam livres para agir com naturalidade na hora do parto.
"Empurrar muito antes da hora pode exaurir a mãe e o bebê, aumentando o risco de que ela precise de assistência durante o parto e de outros problemas", diz ela.
Fonte: BBC Brasil

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Bebés Agradecem!!


escrito por: Tricia em às 8:41 AM.

Segundo um novo estudo, a amamentação é um bom impulso para a saúde mental.

O novo estudo mostra que os bebés amamentados por mais de seis meses têm significativamente melhor saúde mental na infância.

O estudo realizado pelo Telethon Institute for Child Health Research, baseou-se no acompanhamento do crescimento e desenvolvimento de mais de 2500 crianças da Austrália Ocidental, nos últimos 16 anos.

A investigadora Drª. Wendy Oddy diz existir uma crescente evidência de que os factores bioactivos existentes no leite materno desempenham um papel importante no rápido desenvolvimento cerebral que ocorre no primeiro ano de vida.

“Mesmo quando os valores são ajustados tendo em conta factores parentais como: situação sócio-económica, educação, felicidade e funcionamento familiar, verificamos que as crianças que foram amamentadas até aos 6 meses apresentam um risco menor de problemas de saúde mental” comenta a Drª. Oddy.

O estudo descobriu que crianças que foram amamentadas menos que seis meses comparadas com as que foram seis ou mais meses tiveram um aumento de risco de problema de saúde mental de 52% até aos dois anos de idade, de 55% até aos 6 anos, aos 8 anos o aumento de risco foi de 61%, enquanto que aos 10 anos o aumento de risco foi de 37%.

A analise é baseada numa checklist de comportamento infantil reconhecida cientificamente, que avalia o comportamento das crianças do estudo, aos 2;6;8 e 10 anos.

Drª. Oddy revela que as crianças que foram amamentadas tinham particularmente taxas mais baixas de delinquência, agressividade e comportamento anti-social, e de uma forma geral eram menos deprimidas, ansiosas ou isoladas

“Estes resultados são evidências fortíssimas para que seja dado melhor apoio ás mães, para que amamentem por mais tempo”, diz a autora do estudo.

Fonte:
Telethon Institute for Child Health Research

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Cesariana diminui chance de nova gravidez, diz estudo


escrito por: Débora, em quarta-feira, novembro 29, 2006 às 9:04 PM.


Mulheres que dão à luz por cesariana têm menor probabilidade de ter uma nova gravidez, de acordo com estudo realizado na Grã-Bretanha.
A pesquisa – publicada no British Journal of Obstetrics and Gynaecology - foi feita com 25.371 mulheres que deram à luz na Maternidade de Aberdeen, na Escócia, entre 1980 e 1997.
Ela constatou que 66,9% das mulheres submetidas a cesariana tiveram um outro bebê, enquanto 73,9% das que tiveram parto natural fizeram o mesmo.
O estudo revelou que a média do tempo entre partos era maior para as mulheres submetidas à cesariana do que para as que deram à luz por outros processos.
As mulheres submetidas a cesariana também têm maior probabilidade de sofrer complicações em gravidez futura.
Segundo os pesquisadores, não houve diferença nos resultados se a cesariana foi planejada ou um procedimento de emergência.
As mulheres que se submeteram à cesariana também tinham maior probabilidade de uma gestação ectópica – que ocorre quando um óvulo fecundado se fixa fora do útero, como nas trompas de Falópio.
Os pesquisadores acreditam, contudo, que são necessários mais estudos para ajudar a explicar o resultado de sua pesquisa.

Fonte: BBC Brasil

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meu bebê está sentado e agora?


escrito por: Tricia em às 8:57 AM.


Primeiro, calma!
O bebê pode se virar e ficar cefálico até na hora do parto. O importante é não se desesperar, e se informar sobre os exercicios. Até que todas as alternativas tenham sido tentadas, acho precipitado cogitar a possibilidade de cirurgia.

Existem alguns exercicios que você pode fazer para ajudar no posicionamento. No livro da Janet Balaskas tem alguns, não lembro de todos, mas um deles dizia para a gestante ficar em posição de cachorrinho (de quatro) por 10min, várias vezes ao dia. Outro dizia para ela se deitar sobre uma pilha de livros, colocando-os embaixo do quadril, e permanecer nessa posição por alguns minutos. Nesses exercicios as chances do bebe virar são muito grandes, algo em torno de 90%.

Outra dica é que ela escute seu corpo, se conecte com o seu filho, medite e converse com o bebê. Já vi casos de mães que conseguiram que o bebê virasse após uma conversa, um carinho, uma sintonia maior com ele. Pode ser usada uma luz também, uma luminária proximo da barriga, na parte de baixo, irá causar interesse no bebê fazendo com que acabe virando sozinho.

O mais importante é não se desesperar, ainda é muito cedo! A partir da 37º semana há uma leve diminuição na quantidade de liquido aminiótico, é por isso que fica mais dificil do bebê virar, mas, não impossivel. Antes disso, relaxa. Ainda é muito cedo pra se preocupar.



Sempre há uma saida para essa situação. Existem muitas opções de exercicios para o bebê virar, além de homeopatia, acupuntura, etc. e há ainda a manobra que a parteira faz durante o trabalho de parto, pegando na barriga, desvirando o bebê. Nesse caso, é habilidade do médico que irá acompanhá-la.

De acordo com a Dra. Betina (ONG Amigas do Parto) o parto pelvico tem algumas particularidades: " o Feto pélvico: em mulheres que já tiveram um parto normal e o feto não é excessivamente grande pode-se tentar novamente a via vaginal; porém, naquelas que nunca tiveram um parto vaginal é aconselhável fazer cesariana, pois não se sabe se a bacia da mãe é compatível com a passagem da cabeça do feto. Existe uma técnica para a rotação do feto para a posição cefálica que atualmente pode ser feita sob visão do ultra-som com bastante segurança, mas nem sempre se tem sucesso. Sua realização deve ser discutida com seu médico." - retirado do site da ONG Amigas do Parto.

Na comunidade do orkut (GO Baseada em Evidencias) da Dra. Melania tem um topico sobre parto pelvico muito bom, com várias pesquisas inclusive. Dá uma olhada.

Alguns links interessantes sobre o assunto:
http://www.birthinternational.com/articles/andrea13.html
http://www.breechbabies.com/
http://www.icpa4kids.com/webster_technique.htm
http://www.worldchiropracticalliance.org/tcj/2001/aug/aug2001l.htm
http://www.americanpregnancy.org/labornbirth/breechpresentation.html



Ah! Encontrei alguns exercicios no site da Ronnie Falcão, parteira americana:

1. Deitar-se de costas (barriga pra cima) encima de uma tábua ou similar, usando travesseiros ou almofadas embaixo do quadril. O ideal é que essa diferença de altura seja de uns 40 graus, mais ou menos. Praticar varias vezes ao dia.
2. Musica para o bebê. Coloque uma musica bem gostosa, e posicione um fone de ouvido na parte baixa da barriga (proximo a bacia).
3. Coloque uma luz bem forte proximo a barriga, na parte de baixo. Ou até mesmo, entre as pernas. Pode ser uma luminária ou abajour.
4. Conversando com o bebê. Peça a alguem conhecido (o pai de preferencia) para que ele converse com o filho, falando bem proximo a barriga, dizendo-o para se virar, de maneira suave e carinhosa, encostanto a boca bem proximo a pele, na parte de baixo da barriga.
5. Se tudo isso não funcionar, pense na possibilidade de realizar a manobra durante o trabalho de parto. Nesse caso, o médico aplica uma droga para relaxar o utero e com as mãos empurra o bebê, desvirando-o. Essa manobra é dolorida para a mãe, mas bem menos dolorida que um resguardo de uma cirurgia cesareana.

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As Parteiras de Pernambuco


escrito por: Tricia em terça-feira, novembro 28, 2006 às 1:47 PM.



Você pensa que as parteiras foram extintas, não é? E que elas só servem para fazer abortos clandestinos hoje em dia. Tudo mentira. Existem sim. Especialmente aqui no nordeste do pais. Acontece que devido a falta de apoio politico, e do crescimento da tecnologia, elas foram confinadas a uma posição, foram discriminadas pela propria sociedade, pela urbanização das cidades.

Eu acredito nas parteiras. Acredito em sua sabedoria. E procurando sobre elas na web, me deparei com esta ONG que fica em Pernambuco. Vi o video deles, e fiquei super feliz! Existe vida neste planeta! Existe apoio sim! =)

É uma pena que no Ceará, elas estejam tão escondidas. Quase não se fala delas. Em Pernambuco, é bem mais facil de se encontrar com uma assim, no meio da rua.



Grupo Curumim

O Grupo Curumim começou em 1989 como pequena organização de defesa da profissão de parteira, mas se transformou em uma iniciativa muito mais ampla para a melhoria de serviços de saúde, aumentando a sexualidade e a educação reprodutiva, diminuindo a mortalidade materna, humanizando o parto e legitimizando a profissão de parteira. Sediado na cidade litorânea de Recife, estado de Pernambuco, na Região Nordeste do Brasil, o Grupo Corumim organiza worlshops e seminários para adolescentes que moram e/ou trabalham nas ruas sobre temas como cuidados básicos da saúde, auto-estima, anticoncepcionais, direitos humanos, violência contra o gênero, sexualidade, parto e prevenção do HIV/AIDS. O Grupo Corumim proporciona aos adolescentes informação exata e de empoderamento sobre sua saúde e direitos sexuais e reprodutivos e espera assim diminuir a gravidez e retardar a disseminação do HIV/AIDS e outras doenças sexualmente transmissíveis. Além disso, o Corumim educa médicos, provedores de saúde e pessoal hospitalar a respeito das necessidades específicas dos adolescentes, a fim de assegurar que o sistema de saúde pública proporcione cuidados com respeito e de modo abrangente.

Para assistir o videoclipe do livro "Mulheres e Parteiras - Cidadania e Direitos Reprodutivos", clique neste link aqui.

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uma história de amor


escrito por: Tricia em às 1:30 PM.

Perto de ser avó, Joana D' Arc, 47 anos, viu jorrar leite do peito para amamentar o filho adotivo

Marcelo Abreu
Da equipe do Correio

Como milagre, começa essa história. E ele, o milagre não esperado, veio jorrando, farto, vigoroso como a própria vida. Nos braços da mulher, a prova inquestionável do feito. Joana D´Arc Dias Costa não se contém. E se pergunta, cada vez que sente o milagre pulsando do seu corpo: "Será que estou vivendo isso mesmo, meu Deus?" Ao sentir o filho sugando o seu peito, ela tem certeza de que não é apenas um sonho.

Essa história era improvável. Até o dia em que o marido, perplexo, indagou à mulher, enquanto ela dava o peito ao filho: "O que é isso branco no canto da boca dele?" Joana tomou um susto. E comprovou, experimentando o próprio líquido: "É leite". E repetiu, como se ela mesma não pudesse acreditar no que seus olhos viam e sua boca sentia: "É leite, é o meu leite…"

Às vésperas de completar 47 anos, entrando na menopausa e com consulta marcada para ver a taxa de hormônios e começar o tratamento de reposição, Joana amamentava o filho recém-nascido. Detalhe: ela não o pariu. Adotado aos sete dias de nascido, o bebê, ao primeiro contato com a mãe adotiva, procurou o seu peito. Ele chorava muito. Eram noites insones e de completa impotência. Havia anos Joana não sabia o que era aquilo. Para acalmá-lo, ela o deixava sugar o peito. "Aí ele parava de chorar e dormia", lembra. Ao sugar o peito da mãe, ela lhe contava historinhas. Embalava-o com músicas de ninar. Às vezes, exaustos, dormiam mãe e filho, juntos.

E assim se passaram 15 dias. No peito da mãe, a mesma procura, o mesmo acalanto. Era o refúgio do bebê adotado. Quando ele completou um mês, numa noite, sem pedir licença, o leite jorrou do peito de Joana. E veio forte. As quatro filhas biológicas, com idades que variam de 21 a 26 anos, também não acreditaram. Nem o marido. E o recém-nascido, indiferente ao espetáculo da vida que protagonizava, mamou com sofreguidão. E o choro coletivo fez aquela família de Taguatinga soluçar.

O miudinho mamou tanto, que chorou ao largar os seios fartos da mãe. Aos 47 anos, sem ter ficado grávida e com a última filha nascida há mais de duas décadas, Joana estava amamentando uma criança. Naquela noite, em lágrimas, ela entendeu o milagre que batia à sua porta. O nome dele? Lucas de Jesus. Local de nascimento: São José da Tapera, em Alagoas, a 240km da capital Maceió, um dos municípios mais pobres do país, segundo dados do IBGE. É lá que começa essa história de milagre.

No dia 14 de maio deste ano, Dia das Mães, Lucas nasceu. A mãe, uma moça de 25 anos, solteira, agricultora no sertão, havia acabado de dar à luz o quarto filho. E estava decidida. Não ficaria com o bebê. Alegou falta de condições materiais para criá-lo. A pobreza a atormentava. Em janeiro, Joana, o marido, as filhas e um grupo de voluntários da igreja onde congregam, foram ao sertão de São José da Tapera. Há 10 anos, ela coordena um trabalho de ajuda aos que nada têm. Eles enchem um ônibus de mantimentos, todos de doação, e vão até cidades bem distantes e miseráveis do país.

Lição de sabedoria
A vida testou Joana desde que nasceu, em Teresina, no Piauí. Filha de um homem que consertava bicicletas e de uma costureira, tudo sempre lhe foi muito difícil. Para estudar numa escola particular da cidade, as madres superioras, muito compadecidas, fizeram-lhe uma contrapartida. Ela limparia os banheiros, faria a faxina das salas e ganharia uma bolsa de estudos. Sem hesitar, a menina aceitou. E limpou chão e lavou banheiros, todos os dias. As amigas da escola elegante não queriam sentar-se perto dela. Motivo? Ela era negra e pobre. Limpava chão.

Um dia, a menina mirradinha de olhar curioso deixou Teresina. Veio morar em Brasília, sonhando com os estudos. Parou na casa de parentes. E aqui, com dificuldade, formou-se em pedagogia. E jurou a si mesma que levaria educação e cidadania aos mais necessitados. Casou-se, vieram as filhas e, juntos com amigos da igreja, criaram o Projeto Jesus Expansão do Amor. Há quase 10 anos, sempre em julho e janeiro, o grupo percorre os lugares mais miseráveis do Brasil promovendo cursos de alfabetização, reciclagem, noções de saúde e prevenção de doenças. Levam o que de melhor o ser humano pode receber: cidadania.

Voltemos, então, ao último dia 14 de maio, domingo das mães. O telefone da casa confortável e espaçosa de Joana, em Taguatinga, toca. Era uma funcionária do fórum de São José da Tapera. Conta-lhe que uma moça havia acabado de dar à luz e que iria deixar o bebê para adoção. No dia seguinte, na segunda-feira, depois de uma bateria de exames, Joana se submeteria a uma plástica nos seios, para corrigir a flacidez causada pela própria idade.

A família se reuniu. As quatro filhas e o marido, Carlos Alberto Silva, 44, deixaram com ela a decisão final. No dia seguinte, insone, Joana decidiu: adiaria a plástica e partiria em busca daquela criança. Na mesma segunda-feira, o casal partiu para a distante São João da Tapera. De avião, chegaram até Maceió, depois, horas de estrada até a cidadezinha.

Diante do juiz, a moça, que não teve contato com Joana e Carlos, ratificou o que dissera assim que o bebê nasceu. Não queria aquela criança, o então companheiro, além de mandar que ela abortasse, ainda a deixou sozinha, com outros três filhos para criar. O juiz a fez entender que a decisão tiraria dela todos os direitos sobre o filho. A moça estava decidida. E entregou o bebê à adoção.

Novos pais
Aos sete dias de vida, Lucas – nome dado pela mãe biológica nas 24 horas em que manteve contato com a criança – chegou às mãos de Joana. "Na hora que o peguei no colo, senti amor igual ao das minhas quatro filhas. Era como se eu mesma tivesse dado à luz." Mãe e pai voltaram a Brasília com o bebê no colo. As filhas os esperavam com festa. Mas, até então, só havia a guarda provisória. "Mantivemos o mesmo nome porque não sabíamos quanto tempo ele ficaria conosco. Nem se o juiz nos concederia a guarda definitiva. E além disso já havia uma certidão de nascimento, só com o nome da mãe biológica", explica ela.

Com um mês, o leite encheu os seios de Joana. Aumentou-lhe o volume. Deixou-os fartos. "Senti a mesma coisa quando tive minhas filhas." Em agosto, os pais adotivos voltaram a São José da Tapera. E lá, diante do mesmo juiz, receberam a guarda definitiva do bebê. Ele virou Lucas de Jesus Dias Costa. Hoje, aos seis meses, pesa 9kg e mede 70cm. E já está na natação. Nunca adoeceu, nem mesmo uma gripe. É um touro. O médico comprovou que o leite de Joana é forte e tem todos os nutrientes de que uma criança precisa. E o danado mama todos os dias. Abre o bocão quando tem que parar. "A dieta do pediatra, agora, inclui sopinhas e mingau. Mas ele só quer o peito", gaba-se Joana, entre risos e lágrimas.

No fim da manhã de ontem, Joana amamentava o filho. Enquanto sugava o peito da mãe, Lucas acariciava-lhe o rosto com as mãozinhas gordas. Emocionada, ela deixou escapar: "Quando me preparava para ser avó, virei mãe. Eu agradeço todo dia por esse milagre. Nós é que fomos ajudados por ele". E admite: "Eu choro mesmo, todo dia, mas de felicidade". Na vida de Joana, quase tudo foi improvável. Até fazer jorrar leite, quando leite não havia mais.

FONTE:Correio Brasiliense

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Monitor de oxigênio não ajuda médicos a detectar riscos em partos


escrito por: Tricia em segunda-feira, novembro 27, 2006 às 9:24 AM.



FONTE: The New York Times
15:12 23/11

Denise Grady
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Uma ferramenta que mede a quantidade de oxigênio no sangue do bebê durante o trabalho de parto não conseguiu satisfazer as expectativas dos médicos que tinham a esperança de que ela levaria a um número menor de partos cesárea e partos mais seguros, concluiu um novo estudo. No entanto, os resultados da pesquisa ainda assim ajudarão mulheres e bebês, desencorajando o uso de procedimentos invasivos que não fazem bem a nenhum dos dois, afirmaram os pesquisadores.

O aparelho, com um sensor que era inserido no útero até encontrar o rosto do bebê, é acoplado a uma série de tubos, fios e monitores que já constituem o que chamamos de “nascimento moderno”.

“É muito importante nós termos descoberto que essa é uma tecnologia que não parece fornecer nenhum benefício significativo para as mães e seus bebês”, afirmou o dr. Steven L. Bloom, autor do estudo e chefe do departamento de Ginecologia e Obstetrícia do Centro Médico da Universidade do Texas, em Dallas.

O estudo e um editorial sobre ele serão publicados na quinta-feira no periódico The New England Journal of Medicine.

“A boa notícia e que nós avaliamos criticamente e apropriadamente uma nova tecnologia, descobrimos que ela não traz nenhum benefício, e que de agora em diante não iremos mais utilizá-la”, afirmou o dr. Michael F. Greene, autor do editorial, em uma entrevista. Greene é diretor de Obstetrícia do Massachusetts General Hospital.

A ferramenta, um oxímetro de pulsação fetal, foi projetada para ser utilizado com o monitor de freqüência cardíaca, que é utilizada em 85% dos partos nos Estados Unidos. Apesar de seu uso rotineiro, o monitoramento cardíaco é controverso, pois os médicos o adotaram nos anos 1970 sem nenhum teste rigoroso e então continuaram utilizando-o mesmo após estudos descobrirem que isso levava a um número maior de cesáreas e não levava a um número maior de bebês saudáveis. Os monitores cardíacos podem criar alarmes falsos que levam a partos cesariana.

Os pesquisadores esperavam que o oxímetro de pulsação fetal pudesse melhorar tal situação – que o monitoramento tanto o nível de oxigênio como dos batimentos cardíacos poderia ajudar os médicos a realizarem um trabalho melhor, decidindo quando um bebê estava com problemas e precisava nascer rapidamente. Porém, como mostra o estudo, o aparelho não é capaz de fazer isto.

O oxímetro foi fabricado pela Nellcor, uma divisão da Tyco Healthcare, e aprovado pelo FDA (órgão que fiscaliza alimentos e medicamentos nos EUA) em 2000. Porém, a aprovação foi obtida sob as condições que a companhia realizasse mais pesquisas. Em 2001, o American College of Obstetricians e Gynecologists também pediram mais pesquisas, e se recusaram a sancionar a ferramenta.

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Maternidade Municipal Lucilla Ballalai receberá R$ 50 mil

Quatro instituições do Sistema Único de Saúde (SUS) vão receber o V Prêmio Professor Galba de Araújo, concedido pelo Ministério da Saúde. Criado em 1998 para destacar a humanização da assistência obstétrica e neonatal e o estímulo ao parto normal e ao aleitamento materno, o prêmio será entregue, no dia 7 de dezembro, na abertura do seminário nacional sobre o Panorama Atual da Saúde da Mulher: avanços e perspectivas, a ser realizado no Carlton Hotel, em Brasília.

A quinta edição do prêmio será entregue à Maternidade do Hospital Regional Dom Moura, de Garanhuns (PE), ao Hospital Santa Marcelina, de São Paulo (SP), à Maternidade Maria Barbosa do Hospital Universitário Clemente de Faria, de Montes Claros (MG), e à Maternidade Municipal Lucilla Ballalai, de Londrina (PR). As maternidades de Pernambuco e do Paraná receberão R$ 50 mil, cada, enquanto as instituições de São Paulo e de Minas Gerais vão dividir o valor, já que obtiveram a mesma pontuação na avaliação a que foram submetidas.

Todas as maternidades que concorreram ao V Prêmio Professor Galba de Araújo apresentavam os mesmos requisitos: tinham taxa média mensal de cesáreas, no segundo semestre do ano passado igual ou inferior à estabelecida para a maternidade pelo Estado; têm Comissão de Controle de Infecção Hospitalar; permitem a realização de parto de baixo risco por enfermeiro e permitem acompanhante no pré-parto, no parto e no pós-parto. As vencedoras sobressaíram-se pela qualidade do atendimento, organização institucional e satisfação das usuárias.

A seleção inicial das instituições concorrentes foi feita por comissões criadas pelas secretarias estaduais de Saúde. A avaliação ficou a cargo da Comissão Nacional do Prêmio, com representação do Ministério da Saúde, da Comissão Intersetorial de Saúde da Mulher (Cismu), da Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), da Associação Brasileira de Obstetrizes e Enfermeiras Obstetras (Abenfo), da Rede Nacional pela Humanização do Nascimento (Rehuna) e da Rede Nacional Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos.

O prêmio reverencia a memória do obstetra Galba de Araújo, que conquistou destaque nacional e internacional por utilizar recursos humanos disponíveis regionalmente no atendimento às gestantes. Foram exemplos disso o incentivo ao treinamento de parteiras, a busca pela melhoria da qualidade de assistência ao parto domiciliar e a identificação das gestantes de alto risco.

A iniciativa do Ministério da Saúde de conceder o prêmio procura revelar ao Brasil experiências inovadoras na gestão pública que privilegiem o acolhimento da gestante e do recém-nascido na hora do parto e estimular as maternidades a tratar os pacientes com mais respeito e dignidade.

FONTE:Jornal o Estado

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Pajés e parteiras indígenas ganham novos conhecimentos sem renunciar a sua cultura


escrito por: Tricia em sexta-feira, novembro 24, 2006 às 8:59 AM.


Juracy Xangai

Mais de 380 parteiras indígenas, pajés e agentes de saúde indígena participaram das oficinas realizadas ao longo deste ano para a troca de experiência sobre os cuidados no parto e a saúde nas aldeias.

As oficinas vem sendo realizadas pela Organização das Mulheres Indígenas do Acre, Sul do Amazonas e Noroeste de Rondônia (Sitoakore) liderada pela índia Letícia Yawanawa.

Segundo ela, esse é um trabalho de resgate e valorização das funções das parteiras e pajés que ao longo dos últimos anos foram sendo postos de lado pelas autoridades dos serviços públicos de saúde em seus programas. Assim, possivelmente sem ter esse objetivo, acabaram por prejudicar a força e a continuidade de muitas tradições, que tem sido fundamentais para a agregação social e a sobrevivência dessas comunidades.

“Infelizmente os serviços oficiais de saúde não reconhecem nossas parteiras com seus conhecimentos tradicionais, nem os pajés como nossos médicos que são. Estas pessoas já contribuíram e continuam contribuindo para a sobrevivência de nosso povo e a preservação de nossa cultura”, afirma Letícia.

Ela reclama do fato de que a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) quando chama a parteira ou o agente de saúde para um treinamento, não convida junto o pajé que é o primeiro a ser procurado pelas pessoas da aldeia quando sentem problemas de saúde física ou espiritual.

“Essa situação em se que cria uma separação que tradicionalmente não existe em nossa cultura porque pajé e parteira trabalham juntos e tem o respeito de todos. Ao chamar o pajé para discutir as questões da saúde está sendo dado maior valor à pessoa dele, ao mesmo tempo que ele estará aproveitando novos conhecimentos para orientar os jovens e mulheres das aldeias”.

A série de oficinas que vem sendo realizadas nos municípios do Acre, será encerrada em março do ano que vem com a realização de um encontro estadual de parteiras tradicionais e pajés que acontecerá em Rio Branco.

“Nele estaremos discutindo a formação de uma política pública destinada a atender de maneira diferente os serviços de saúde destinados às comunidades indígenas, até porque é possível levar novos conhecimentos às parteiras e pajés sem desrespeitar nossos costumes e tradições”.

FONTE: UOL

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A dança do ventre e a fertilidade


escrito por: Tricia em quinta-feira, novembro 23, 2006 às 10:50 PM.

O que é Dança do Ventre

Por Rhamza Alli
FONTE: Conexão Dança

“A dança do ventre é uma expressão poética do corpo cheia de gestos e significados. É uma celebração a feminilidade, desenvolvida por mulheres e para mulheres.” (Rhamza Alli)

O que se conhece por dança do ventre hoje em dia, no mundo ocidental, é a dança árabe (Oriente Médio e Norte da África) miscigenada com e influenciada por várias outras culturas, compilada em seus movimentos mais populares, adicionada de um breve ocidentalismo (véus, meia-ponta), muito bem vestida com lantejoulas e franjas e transformada em espetáculo.

A história da dança do ventre é tão antiga quanto a história do homem, ou melhor, da mulher. É a primeira dança feminina de que se tem registro. Enquanto as outras danças eram executadas pelos homens e claramente ligadas à sobrevivência (chuva, caça, etc), desenhos em cavernas de mulheres dançando, mostram-nas com ventre em evidência. Os movimentos de contração, ondulação e vibração foram desenvolvidos pelas mulheres e para as mulheres em função de aliviar dores menstruais e preparar os músculos para a sustentação da gestação e o trabalho de parto, também como um culto à Grande Deusa (natureza) em prol da fertilidade - do ventre e da terra.

Do norte da Índia, originam-se os ciganos que, como nômades, espalharam-se pelo mundo levando consigo sua cultura e modo de vida. Avançaram cada vez mais em direção ao ocidente, passando pela Pérsia, Mesopotâmia, Turquia, Norte da África, chegando ao sul da Europa. Usavam seus dotes artísticos como forma de sobrevivência, cantando e dançando em feiras; sua cultura e estilo iam se misturando e aos costumes locais e novas manifestações, resultado dessas miscigenações, foram surgindo.

A dança que chegou ao conhecimento ocidental foi através do contato com povos como os Gawazee - ciganos provenientes do norte da Índia - que se instalaram no Cairo e os Ouled Nail que habitam a Argélia.

Os Gawazee mantiveram-se a parte da sociedade e preservaram suas tradições e história de forma oral através de uma língua própria e única. Sua dança, viva até hoje, é caracterizada por contínua vibração dos quadris.

Os Ouled Nail se mantiveram confinados em suas tribos. As mulheres saiam delas apenas para dançarem nos centros urbanos. Em sua vestimenta carregavam o dinheiro obtido com a dança: enormes coroas e cintos com moedas, jóias, pedrarias, correntes e pingentes. Muitos símbolos identificados como vindos de Fenícia, Cartago e Babilônia. Sua dança inclui rolamentos dos músculos abdominais que começam lentos e pouco a pouco vão se acelerando e acrescentando movimentos de pés, quadris, braços e ombros.

Quando os ocidentais chegaram ao Cairo (final do séc. IXX) em busca de safáris e tesouros ficaram extasiados com o exotismo da dança e suas dançarinas. Elas, por sua vez, trataram de adaptar a dança e as vestimentas ao gosto ocidental e trocaram a rua pelos clubes noturnos e cassinos. Algumas dançarinas foram levadas à Europa e Estados Unidos aonde puderam refinar sua dança e sua vestimenta. Em contato com o balé clássico e contemporâneo, incorporaram braços delicados, pés na meia-ponta ou em saltos, véus esvoaçantes e roupas de duas peças cheia de brilhos e franjas. Transformada assim em espetáculo, a dança do ventre pode ganhar os grandes teatros, casas de show e telas do cinema.

Apesar das antipatias ao termo "dança do ventre" - que muitos julgam pejorativo, eu, particularmente, não o considero impróprio, pois ao meu ver, a dança é sim do ventre em todos os sentidos: fisicamente, já que se baseia na movimentação rotatória, ondulatória, vibratória e de impacto do tronco e dos quadris o que movimenta intensamente todo o abdômen, além dos próprios movimentos de abdômen; e histórica e simbolicamente já que a dança é a representação da fertilidade e do nascimento.

Mas, afinal de contas, o que é a dança do ventre? O único e verdadeiro significado desta dança, é o poder de criação incutido nela, a fertilidade, a gestação, a maternidade. Ela é dançada pelas mulheres árabes durante o trabalho de parto - tanto pela parturiente que repete os movimentos de contração e vibração de abdômen, como pelas outras mulheres que, junto com a parteira, assistem o parto formando um círculo em volta da futura mamãe, dançando e cantando uma ladainha para purificar o ambiente e estreitar o contato com o divino. Este ritual é executado tanto nos países do Oriente Médio como nos africanos até os dias de hoje.



Uma dança mais festiva e alegre é dançada quando uma menina menstrua, quando se sabe da gravidez de uma mulher, no batizado das crianças, enfim, tudo que for ligado à criação de uma nova vida.

Ocasiões festivas como casamentos, colheitas, aniversários, festas religiosas, bênçãos, curas, afazeres do dia-a-dia, enfim, tudo que faz parte da vida é comemorado com música e dança por esse povo, cada região, cada tribo, com suas tradições e particularidades, mas sempre honorando à vida.

Como é a Dança do Ventre

A Dança do Ventre consiste em alguns movimentos de vibrações, impacto, ondulações e rotações que envolvem todo o corpo.

O shimmy (vibração) de quadris é o movimento mais conhecido, mas, na realidade, o fundamento da dança do ventre é o controle abdominal e o isolamento das partes do corpo. Uma vez que se atinge estes dois princípios básicos, os movimentos acima citados estendem-se às outras partes do corpo: quadris, torso, ombros, braços, cabeça e pescoço isolados ou em diversas combinações.

Uma dança do ventre tradicional inclui movimentos lateralizados e retos de pescoço, quadris e torso, ondulações de braços e mãos, tremidas suaves e rápidas de ombros, seios e quadris, movimentos circulares do torso com caídas e acentuações emendadas com ondulações de peito e abdômen. Movimentos vibratórios de extensão e contração dos músculos abdominais isolados ou combinados com os pélvicos. As figuras "círculo" (início da vida) e "oito" (infinidade da vida) são amplamente usadas em diversas dimensões, também isoladas ou em combinações.

Não raro a bailarina sustenta o shimmy de quadris e trabalha as outras partes do corpo em uma dinâmica diferente, ou apresenta uma vibração generalizada e bem controlada de todo o corpo enquanto cabeça, mãos e quadris acompanham a dramaticidade e acentuações da música.

Além de todos os movimentos básicos, a dança deve aflorar e ser acrescida de giros, cambrées, espirais, trabalho de chão. Apesar do nome dança do ventre, podemos chamá-la de Dança do Corpo, pois movimenta todo o corpo por dentro e por fora. As pernas e pés, são usados, entretanto apenas para a sustentação e o deslocamento da bailarina, sem ênfase em seus movimentos como se a bailarina fosse uma serpente.



Beneficios
Físicos:

- Preparação para ao parto;
- Recuperação do tônus muscular pós -parto;
- Combate a problemas relacionados ao abdômen como: TPM, cólicas, constipação intestinal e dores renais;
- Alongamento geral do corpo sem riscos de lesões, distensões ou contraturas (obviamente, através de exercícios bem administrados);
- Tonificação da musculatura de forma gradual e "de dentro para fora";
- Fortalecimento dos órgãos localizados no abdômen, tornando -os mais eficientes e ativos;
- Postura correta e confortável;
- Equilíbrio e energização;
- Respiração correta;
- Auxílio em dietas de perda e ganho de peso;


Psicológicos/emocionais/sociais:

- Resgatar da auto -estima;
- Aprender a se sensualizar sem se vulgarizar;
- Perceber os valores ligados ao ser humano e a natureza e não à aparência;
- Despertar interesse por música, ritmos e cultura orientais;
- Proporcionar o relaxamento mental/ diversão;
- Promover a boa convivência com amigos, colegas e familiares;
- Incentivar a boa convivência com a natureza;
- Conscientizar sobre a responsabilidade social de cada mulher (como educadoras da nova geração).

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“ Formal training of midwives: some initiatives”

RESUMO
Este artigo tem como objetivo apresentar alguns exemplos de iniciativas de formalização do saber das parteiras feitas pelos Estados nacionais, de instituições religiosas e por ações da classe médica organizada em grupos.O método utilizado neste estudo é o da História Social, tendo como fonte trabalhos historiográficos sobre o tema do saber das parteiras. A análise destes textos leva a conclusão de que o objetivo dos treinamentos era a elevação de status do (a) praticante e a regulação da parturição sob o controle do saber médico acadêmico.

Palavra-chaves: Parteiras tradicionais, treinamento formal, saber médico.

ABSTRACT
This article has as an objective present some examples of initiative of the knowing formalization from midwives made by the national states or by actions from the medical class organized in groups. Social History is the method used in this study, having as source historiographic works about the midwives´ knowing theme. The analysis of these texts takes the conclusion that the training´s objective was the
practicing´s elevation of status and the regulamentation of the normal parturition under controle of the academic medical knowing.

Key-words: Midwives, midwives´ knowing, regulamentation of parturition.


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Durante séculos, as mulheres contaram na hora do parto com ajuda de outras mulheres, ou mesmo passavam por esta experiência de forma solitária. O evento do parto estava ainda envolto de mistérios e tabu. Ao longo dos tempos algumas mulheres ficaram conhecidas pela sua habilidade em ajudar as parturientes e ampará-las neste momento delicado. Por este motivo, elas destacaram-se socialmente. Sendo assim, passaram a ser requisitadas em preferência a outras pessoas para acompanhar as mães em trabalho de parto. Desta forma, surge a especialização de uma prática: a parturição e com ela as parteiras. Tendo em vista o caráter informal do inicio da prática da assistência ao parto, este texto apresenta algumas iniciativas de formalizar a prática das parteiras, através da padronização do seu saber, seja pela exigência de exames teóricos e ou práticos para a obtenção de licença, seja pela instituição de cursos, escolas ou treinamentos exigidos e impostos pela autoridade dos médicos ou da Igreja e com o apoio do Estado através da força da lei.

Veremos então, que nem sempre tais iniciativas surtiam os efeitos esperados por seus
idealizadores e que uma efetiva regulação da prática das parteiras, uniformizando o treinamento para todas, era uma tarefa que necessitava de transformações na mentalidade das autoridades envolvidas, da clientela e das próprias parteiras, e que mesmo assim, foi de difícil realização.

Investigar os objetivos dos primeiros idealizadores de uma formalização dos conhecimentos utilizado por parteiras torna-se importante na medida em que possibilita entender as formas de intervenção no saber prático e tradicional destas mulheres pelo saber da medicina científica da época. Pesquisar estas iniciativas pode ajudar a compreender o papel exercido por elas, como parte de um conjunto de estratégias para delimitar e manter sob o controle dos médicos o campo da obstetrícia médica, o qual buscava se estabelecer em meio a outras especialidades da medicina como um ramo tão relevante para a sociedade quanto seus irmãos.

As primeiras iniciativas: As licenciadas e as examinadas.

Até o século XVI o cuidado das doenças femininas não despertava grande interesse aos
médicos. O parto era um ritual de mulheres, as quais eram atendidas por parteiras e por uma rede feminina de solidariedade. Sendo assim, as parteiras não contavam com nenhuma formação especializada, tendo apenas a própria experiência como referência (ROHDEN, 2001). É a partir do mesmo século que se iniciam as tentativas de regulamentação de suas atividades. Na Inglaterra se estabelece uma licença para as parteiras administrada pelas autoridades eclesiásticas anglicanas. A Igreja tinha como prioridade vigiar a conduta moral das parteiras e tê-las como exemplo de comportamento virtuoso. Na França as tentativas de regulação que ocorreram no século XVI também estavam mais sujeitas às iniciativas do clero apoiadas pelo poder real. A Igreja e Estado estavam interessados em lutar contra o aborto, o infanticídio e também contra o protestantismo. Os médicos franceses também vão se destacar por terem inaugurado a luta contra as parteiras. Porém, aceitar um médico à beira do leito da parturiente não se dava sem problemas. As parturientes, mesmo em casos de grande risco, por questões de recato, não se expunham ao atendimento masculino. Na Escócia inaugura-se o ensino de nível universitário para as parteiras em 1726 na Universidade de Edimburgo. Em Londres, na segunda metade do século proliferam as escolas privadas de parteiros, homens e mulheres. Contudo, é apenas em 1783 que o College of Physicians decide conceder uma licença em arte obstétrica, distinguindo os praticantes que se sujeitassem a um exame (ROHDEN,2001).

No Brasil colonial, as longas distâncias e a escassez de recursos, entre as mais variadas dificuldades, não estimulavam os médicos formados na Europa a virem aqui atuar. O que se encontrava com facilidade por estas terras eram os cirurgiões aprovados. A brevidade na formação destes praticantes também era característica das parteiras locais. Elas deveriam se submeter a um exame diante de uma banca formada por físicos e cirurgiões e uma parteira licenciada para a obtenção da carta que regularizava a atividade. Contudo, o que se dava na prática era a concessão de licença mediante apenas pagamento das taxas, pois a grande maioria não sabia ler e escrever Os médicos eram chamados apenas em último caso, quando havia grande risco para mãe e para a criança. Mesmo assim, o excesso de pudor fazia com que a solicitação de um praticante fosse bastante rara (ROHDEN, 2001).

Nas colônias britânicas na América, as primeiras tentativas de se regular a prática das parteiras ficaram a cargo das autoridades civis, já que a Igreja anglicana não estendeu sua supervisão episcopal até o novo mundo (DONEGAN, 1984). Apesar disto, as licenças e a legislação que regulava a prática da parturição continham muitas influências da versão britânica do controle episcopal. As parteiras eram as únicas que assistiam as parturientes, pois havia um forte tabu contra a presença de homens na cena do parto na Grã-Bretanha, e este traço cultural foi transportado para as colônias na América. Este quadro só veio ser questionado com os avanços das técnicas dentro do campo da obstetrícia médica e com o estabelecimento da disciplina de Obstetrícia nas escolas de medicina.(DONEGAN, 1984).


No Brasil: Os Cursos de Partos

Maria Lúcia Mott dedica em sua tese, sobre a primeira parteira formada pelo primeiro curso oficial para parteiras no Brasil (MOTT, 1998), um capítulo inteiro ao treinamento formal das parteiras durante o século XIX. De acordo com seu trabalho, os cursos de partos surgiram junto com as reformas1 do ensino da medicina e estavam sob o controle do saber médico acadêmico. Na reforma de 1832, que criou as Faculdades de Medicina do Rio de Janeiro e Bahia, previu-se a criação de um curso de Obstetrícia para mulheres, com duração de dois anos, sendo que as candidatas deveriam ter mais de dezesseis anos e a apresentar atestado de bons costumes expedido pelo Juiz de paz da freguesia onde esta residisse. O curso era ministrado pelo mesmo professor responsável pela cadeira de partos no curso de medicina.

A reforma que deu origem a este curso em particular foi elaborada pela Sociedade de
Medicina do Rio de Janeiro, e tinha como objetivo a normalização do ensino e do exercício da medicina no Brasil, “seus membros defendiam a uniformização do saber médico, uma medicina baseada na observação, sendo radicalmente contrários a outras formas ou propostas de cura” (MOTT, 1992).

Existiam também cursos livres que ajudaram a complementar a formação de parteiras e
parteiros. Contudo, a prática de assistência ao parto ainda era muito restrita aos alunos do sexo masculino e os atendimentos na enfermaria de partos da Santa Casa de Misericórdia eram poucos, impossibilitando a prática suficiente aos alunos e alunas. A própria Mme Durocher, a primeira parteira formada pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, participou destes cursos livres para melhorar seus conhecimentos em obstetrícia (MOTT, 1998). Entretanto, apenas as faculdades tinham o poder de conferir ao aluno que concluísse o curso o diploma que permitia o exercício da atividade da parturição em todo o território do Império.

Entretanto, foi muito baixa a freqüência feminina no curso destinado às mulheres na época. O número de parteiras formadas por este curso também foi igualmente baixo. Cem formadas em cem anos de existência (MOTT, 1998; PROGIANTI, 2001). Mott levanta algumas hipóteses para a falta de sucesso do curso de partos das Faculdades de Medicina. A primeira diz respeito à dificuldade representada pela proximidade dos dois sexos no ambiente da sala de aula. Segundo a autora, incompatível para os padrões da época. Depois, pelo menos em nível de discurso, as parteiras atendiam as parturientes para prestar-lhes auxílio na hora do parto. Não estava em jogo a remuneração da parteira. A autora diz que, analisando os pedidos de licença, ela encontrou a constante relação entre o ofício de parteira e os conceitos de vocação, missão e caridade. Desta forma, Mott (1992) questiona “se é possível alguém admitir que abraçou a profissão por questões pecuniárias e não humanitárias?” Ela acrescenta que aprender o ofício de parteira a partir dos ensinamentos de um profissional do sexo masculino, dentro de instituição dirigida por médicos, na qual a relação entre médico paciente é regida por uma ética particular, e ainda, admitir remuneração para a assistência ao parto apontam para evidências significativas de uma mudança de comportamento que não se dá com a simples criação de um curso de partos (MOTT, 1992).

Julyan Peard (1999) também trata da pouca procura pelos cursos de partos quando a autora discute as disputas entre os integrantes da escola tropicalista baiana e as parteiras leigas durante o século XIX em Salvador. Peard (1999) ressalta que apenas duas alunas concluíram o curso desde sua criação em 1832 até 1871, ano no qual o Professor Elias Pedrosa constatou o fato. Sendo que uma aluna morreu pouco tempo depois de terminar o curso e a outra nunca exerceu sua ocupação. Peard considera de fácil compreensão o fracasso do curso, já que era exigido das alunas saber ler e
escrever e “boas maneiras”, o que eliminava as possibilidades das mulheres que via de regra desempenhavam a função na Bahia. Outro motivo apontado pela autora, baseado nos registros de Pedrosa, é que estes cursos teriam poucos a oferecer, tendo em vista que não contemplava o ensino prático de atendimento ao parto. No capítulo onde Peard trata dos cursos, a autora dá mais ênfase às denúncias feitas pelos tropicalistas contra as parteiras e aos motivos pelos quais os médicos não tiveram sucesso em atuar de forma majoritária no atendimento às mulheres baianas. Um dos motivos diz respeito à rígida moral sexual, de distanciamento entre os indivíduos de sexos diferentes, imposta pelo sistema patriarcal, dessa maneira, dificultando o atendimento dos médicos às parturientes (PEARD, 1999).

Rohden apresenta a discussão sobre os primeiros cursos de parteira do ponto de vista da constituição da “medicina da mulher”2. Ou seja, o ensino da obstetrícia voltado para a formação do médico. Ela explica que a arte obstétrica era lecionada desde 1809 na Escola de Cirurgia do Rio de Janeiro e a cadeira de partos, que constava do currículo das academias Médicas e Cirúrgicas do Rio de Janeiro e Bahia, é integrada definitivamente quando estas se transformam nas Faculdades de medicina, criadas em 1832 (ROHDEN, 2001). A cadeira de partos era a única dedicada especificamente ao corpo feminino dentro dos currículos das faculdades desde a criação das mesmas. E parecia que não despertava muita atenção. Os médicos se dedicavam muito mais a exercer sua autoridade na regulamentação da prática das parteiras. Em 1832 é criado o curso feminino para que elas aprendessem de acordo com os preceitos vigentes da ciência a maneira adequada de atender as mulheres no momento do parto e os primeiros cuidados com a criança (grifo meu). Seguindo o pensamento da autora, passou-se desde então, a propagar a idéia das parteiras com certificado concedido pelos médicos, tornando-as mais legitimas e requisitadas pelas famílias mais ricas. Contudo, concomitante à instauração dos cursos, chegaram ao Porto do Rio de Janeiro as parteiras estrangeiras, sobretudo as francesas, que trouxeram novas técnicas e prescrições. Muitas conseguem fama e prestígio, o que é pouco comum para as mulheres da época (ROHDEN, 2001).

A prática das parteiras passa a ser cada vez mais visada, exigindo das parteiras francesas que no país aportaram, assim como das brasileiras, um exame aplicado por médicos delegados para que o diploma de parteira fosse registrado na Câmara Municipal. Mesmo assim, continua a autora, o recurso a “comadre” ou “curiosa” mantinha-se como prática corriqueira (ROHDEN, 2001).

Rohden também fala de um projeto, o primeiro que se tem notícia, dedicado ao ensino e
prática da obstetrícia que previa a fundação de um hospital-maternidade. Ele é apresentado por Florêncio Stanislau de La Masson em 1832. Este projeto teve parecer favorável da Câmara dos Deputados, mas o relator nomeado para o caso, o professor da cadeira de partos, Júlio Xavier, vetou os planos de La Masson (ROHDEN, 2001). Contudo, a autora não menciona que o projeto de La Masson não se destinava apenas ao estabelecimento de uma maternidade–escola, mas que seu autor pretendia ali ensinar somente mulheres. Ou seja, um curso destinado a formar parteiras, que teria finalidades filantrópicas. Sendo assim, La Masson buscava recursos para custear seu projeto junto à Regência e aos governos das Províncias (MOTT, 1998).

O veto dado por Xavier, transformado em treze anos de silêncio sobre o projeto, foi justificado com o argumento de que La Masson não fazia parte do corpo acadêmico e não tenha diploma reconhecido no Brasil. E ainda, que o autor do projeto queria se colocar acima das Faculdades de Medicina, já que o curso iria fornecer diplomas e a lei previa que as únicas instituições autorizadas para isso seriam as faculdades do Rio de Janeiro e Bahia. Somando-se aos impedimentos anteriores, Xavier salienta a discordância com o fato de que o ingresso de alunos do sexo masculino era vetado (grifo meu). Para finalizar, o relator da comissão questiona a finalidade filantrópica do projeto. Visto que as alunas para estudarem teriam que pagar e as parturientes além de passarem pelo “vexame” de serem objeto de estudo, teriam também que pagar pelo atendimento (MOTT, 1998).

Outro curso foi organizado e levado acabo na província de Pernambuco, criado pela lei
Provincial de Pernambuco n º 87, art, 33 de 06/03/1840. A justificativa para a sua criação foi em função da dificuldade das alunas de Recife se deslocarem para Salvador e Rio de Janeiro. As aulas se iniciaram em julho de 1840 e eram ministradas por Simplicio Antonio Mavgnier. A matrícula era gratuita e as exigências eram semelhantes àquelas feitas pelas faculdades de Medicina do Rio de Janeiro e Bahia. No currículo estava previsto o ensino de arte obstétrica teórica e prática, compreendendo Anatomia, Fisiologia e moléstias provenientes do parto. Apesar de estar sujeito à inspeção do diretor do Liceu, o curso estava estabelecido fora de suas instalações, as aulas eram ministradas no Hospital Paraíso (MOTT, 1998).

Este curso também esbarrou em questões legais que inviabilizaram sua continuidade, pois apenas as Faculdades de Medicina do Rio de Janeiro e Bahia eram as únicas autorizadas a fornecer diplomas. O curso do Liceu também estava fornecendo diplomas e autorizando o exercício da profissão às alunas. Uma longa discussão se sucedeu entre as autoridades até que “através de uma carta confidencial do ministro de Estado dos Negócios de Império, ao presidente da província de Pernambuco, fica-se sabendo o que foi resolvido: as alunas da cadeira de Obstetrícia não deveriam ser matriculadas na Junta Central de Higiene, porém poderiam continuar a exercer o ofício sem serem perturbadas!” (MOTT, 1998).

Após a morte de Mavgnier, o curso entrou em declínio até que o governo perdeu o interesse por ele e o extinguiu (Maria Mott não conseguiu precisar a data de término). Em 1875 foi reaberto um curso de partos em Recife, no Hospital Pedro II. Consta que ainda no ano de 1884 o curso continuava funcionando regularmente, habilitando normalmente as alunas (MOTT, 1998).


Outras iniciativas: Estados Unidos

Um fator foi decisivo para as primeiras iniciativas nos Estados Unidos para a criação de cursos para parteiras: o desenvolvimento e consolidação do ramo da medicina dedicado a assistência à gestação e parto, ou seja, a obstetrícia. Igualmente decisiva foi a importância social que o médico começou a adquirir com o estabelecimento de terapêuticas mais eficazes. Conforme novas técnicas e instrumentais foram sendo desenvolvidas pelos obstetras, possibilitando a eles um maior sucesso e humanização nos atendimento aos partos difíceis, e desta forma, ampliando as possibilidades de atendimento aos partos normais; e com a gradual inclusão da cadeira de obstetrícia nos currículos das escolas médicas, fortaleceu-se a idéia de que os obstetras eram experts no assunto. O que nem sempre correspondia a realidade (DONEGAN, 1984). Sendo assim, a parteira tradicional negava com seu conhecimento prático e a grande maioria dos atendimentos com bons resultados, todo o arsenal tecnológico que os médicos desenvolveram no sentido de tornar o parto ditócico3 mais rápido e seguro. Outro aspecto fundamental para a iniciativa dos cursos, no que diz respeito à sociedade norte-americana, foi a transformação do evento do parto, tido como de natureza familiar e social, para um evento médico potencialmente patológico. Isto se deu através de um esforço de convencimento da clientela levado a cabo pelos médicos. Tal mudança passou a exigir o atendimento de um especialista que dispusesse de um conhecimento sofisticado e elaborado para o manuseio dos instrumentos (tais como o fórceps, o pelvímentro, o estetoscópio), para manter o andamento do trabalho de parto longe dos riscos potenciais. Ou seja, sob controle dos médicos (DONEGAN, 1984).



Se o parto não é mais um evento natural da vida da mulher e requisita conhecimentos especiais para mantê-lo dentro de padrões de segurança e riscos controlados, como atender às mulheres sem ofender a moral e a pureza feminina, expondo-as aos olhos e mãos masculinas? A resposta, para boa parte da classe médica, seria o treinamento de parteiras. A mesma atitude cultural que delimitou a mulher a “natural esfera doméstica” (apoiada pelo saber da medicina do período), e que fez pensar que uma verdadeira mulher não seria capaz de ser treinada para desempenhar uma atividade tão “delicada” sem ferir sua modéstia e virtude, preferiu treinar mulheres para atendimentos aos partos e evitar expô-las excessivamente às técnicas e aparelhos utilizados exclusivamente pelos obstetras. Não se tratou de uma verdadeira tendência de restaurar-se a parturição para a mulher com inspiração no movimento de direitos femininos (este buscava alargar as oportunidades de estudo e atividades profissionais para as mulheres). Mas sim, remover da sociedade o paradoxo criado pelo conflito das demandas de modéstia e segurança (DONEGAN, 1984).

Houve tentativas do governo colonial, e posteriormente, do estado nacional em implementar um Plano Continental para o estabelecimento de escolas onde as parteiras pudessem receber treinamento formal, embora sem sucesso. Também é verdade que todas iniciativas de organização de ensino para a formação de médicos, não recebiam auxílio governamental. O que surgem são escolas médicas de origem privada, as quais recebiam também mulheres para treinamento em Obstetrícia. O que significou muito mais o início do ingresso no ensino de nível superior em medicina para as mulheres, do que apenas o treinamento formal das parteiras já existentes (DONEGAN, 1984).

Mas, nem os críticos dos praticantes masculinos, nem os aliados da causa das mulheres
conseguiram restaurar a obstetrícia para a mulher. Apesar dos argumentos destes dois grupos chamassem a atenção para a incongruência da mulher gestante aceitar o serviço de um parteiro e ao mesmo tempo conseguir observar os ditames do rígido código de moral. Mesmo assim, aos poucos, após 1850, passou a ser costume entre as mulheres de classe-média e classe-alta chamar um médico para o atendimento dos partos, mesmo em casos normais. A idéia de progresso da ciência e a promessa de um parto rápido e seguro fizeram com que a solicitação de um doutor se tornasse cada vez mais comum entre as famílias de mais recursos nas grandes cidades do norte dos Estados Unidos (DONEGAN, 1984).

Nos anos iniciais do século XX, os serviços de uma parteira já tinham sido em boa parte substituídos pelos de um médico nas grandes cidades americanas. Sobretudo para aqueles que podiam pagar os honorários de um doutor. Contudo, nos locais mais istantes, desprovidos de recursos médicos e onde a população era pobre, a parteira era praticamente a única a prestar assistência ao parto. Ela também provia serviços médicos através de cuidados à mãe e ao recémnascido. Houve debates quanto à extinção ou não da prática das parteiras entre os membros da classe médica. Eles consideravam a atuação das parteiras como um problema de saúde pública, pois a idéia da grande responsabilidade das parteiras por contaminar as parturientes e os recém nascidos com infecções pós-parto, em função de sua falta de treinamento formal, ou seja, pelo desconhecimento de práticas higiênicas era constante. Tal idéia era compartilhada entre os doutores, seja qual for o lado em que estivessem os debatedores, a favor da manutenção ou simpatizantes do término da prática das parteiras (Kobrin, 1984).

Esta preocupação levou a alguns estados mais pobres dos Estados Unidos, como o Mississippi nas décadas iniciais do século XX, a criarem, dentro de seu Quadro Estatal de Saúde, programas para regular a prática das parteiras leigas. Estas, em grande número, atuavam em precárias condições. No Mississippi elas fizeram boa parte dos partos até 1940. Nas comunidades afro-americanas as parteiras realizaram 80% de todos os partos até aquela data. Com a instituição de um programa de treinamento para melhorar o atendimento dado pelas parteiras, houve a aproximação entre elas e as enfermeiras de Saúde Pública. As parteiras negras, conhecidas como “grannies”, foram muito atuantes nos programas do Quadro de Saúde Estatal, auxiliando na propagação dos hábitos de higiene e na realização de campanhas de vacinação entre a comunidade negra.

A importância social destas mulheres em suas comunidades fez com que elas se tornassem um corpo informal do Quadro de Saúde. O respeito e confiança que a população depositava nas parteiras, e o interesse das mesmas em promover melhores condições de saúde para suas comunidades, fez com que os oficiais do Quadro de Saúde modificassem sua opinião sobre as “grannies”, passando a ver estas mulheres como uma ajuda importante nos programas de Saúde Pública, um verdadeiro elo de ligação entre as ações do estado na área da saúde e as comunidades.

Elas não eram mais vistas então como um problema de Saúde Pública (SMITH, 1994).
O treinamento das parteiras ajudou muito a baixar as taxas de mortalidade materna e infantil. O programa compreendia reuniões mensais com leituras do Manual das Parteiras, inspeção do material usado no atendimento aos partos e exames rotineiros de saúde para que as parteiras não contaminassem as parturientes e bebês com alguma doença que por ventura pudessem ter contraído (SMITH, 1994).

Com o passar dos anos, as parteiras mais velhas foram sendo aposentadas pelo Quadro
Estatal de Saúde sem a reposição de outras em seus lugares. Aos poucos, os serviços de saúde nas áreas rurais do Mississippi foram sendo ampliados e a urbanização atingiu as áreas onde estas parteiras atuavam. O processo de urbanização acabou modificando os costumes e os modos de viver da clientela, a qual passou gradativamente a buscar um hospital para o atendimento aos partos. Em 1982 o estado do Mississippi tinha apenas 13 parteiras leigas registradas, desde muito tempo não se emitia novas permissões ou se mantinha sessões de treinamento (SMITH, 1994).

Considerações Finais

Diante dos exemplos de iniciativas aqui apresentados, podemos dizer que, quanto aos cursos das faculdades de Medicina do Rio de Janeiro e Bahia no século XIX, todos os autores apontam para a importância das constantes reformas de ensino destas instituições. Estas se concentraram principalmente nos requisitos necessários às candidatas para o ingresso. Progressivamente, exigiu-se formação educacional mais completa, assim como a limitação de idade privilegiou o ingresso de candidatas jovens. Outro aspecto restritivo era a exigência de atestado de boa conduta, que em um primeiro momento, deveria ser expedido pelo juiz de paz da freguesia de residência da candidata e posteriormente passou a se configurar como autorização do pai (ou quem estivesse em seu lugar).

No caso das casadas, era necessária a autorização dos maridos. Desta forma, os autores evidenciam constituição de um perfil desejado para a profissional a ser formada. Ao ingressar no curso de partos a futura parteira não precisaria possuir habilidade, experiência e conhecimentos anteriores aos obtidos no treinamento. A aluna ideal seria uma jovem sem tempo para contato com outras parteiras mais experientes, e principalmente, de uma camada social com recursos financeiros suficientes para proporcionar-lhes instrução escolar o bastante para cursar a cadeira de partos em uma faculdade de medicina. Todo conhecimento sobre a arte de partejar seria adquirido nos bancos escolares.

Um saber obstétrico acadêmico, produzido pela perspectiva científica do século XIX. O caráter do ensino, preponderantemente teórico e não prático, não estava apenas ligado à dificuldade de conseguir parturientes em número suficientes para suprir as necessidades do ensino prático do parto, que estivessem dispostas a se sujeitarem a serem objeto de estudo. É bem provável que, ao desvincular a atividade médica do antigo caráter “manual” e prático relacionando-a ao saber erudito por meio dos currículos destes cursos, purificou-a da marca das classes “baixas” que antes as exerciam e significou elevar a profissão médica em nível social dando aos iniciados um status diferenciado dos antigos cirurgiões e parteiras. Assim, seria mais adequado aos filhos das famílias mais aquinhoadas dedicarem-se a medicina sem reprovação.

É perceptível também o interesse de se delimitar prática da parturição a um grupo sócioeconômico distinto daquele que vinha até então o exercendo. As parteiras tradicionais eram oriundas das camadas populares, em sua grande maioria não tinham acesso ao ensino formal, sendo assim, muitas se quer sabiam ler e escrever, o que impedia o ingresso nos cursos. Estes, por força da lei, eram os únicos a estabelecimentos no Império autorizados a fornecer o diploma de parteira. Título obrigatório para o exercício da atividade. Ou seja, estes cursos não só estavam dando a formação, mas também eram parte das estratégias de regulação da prática parturição no país em termos oficiais.

Uma das queixas freqüentes nas denúncias feitas pelos médicos contra as parteiras, que endossaram as iniciativas de treinamento das mesmas, seria que as parteiras, diante de anormalidades no processo do parto, não pediam a tempo a presença de um cirurgião, tendo em vista que estas estavam limitadas ao atendimento de partos normais. Tal delimitação da prática das parteiras foi definida pelos médicos. Estes consideravam tal comportamento como conseqüência da ignorância das parteiras, por estas não saberem identificar o limite de sua prática. Desta forma, segundo os médicos, as parteiras colocavam em risco a vida daqueles que deveriam proteger. Outra queixa constante era de que as parteiras eram anti-higiênicas e através dos atendimentos sucessivos, sem o devido cuidado com a limpeza, transmitiam infecções puerperais.

Mesmo assim, com todos esses argumentos, os cursos de partos no Brasil, em suas
primeiras iniciativas não tiveram o êxito esperado por seus idealizadores. O costume de se recorrer à comadre continuou durante muito tempo, seja pelos custos dos serviços de uma parteira ou parteiro treinados, seja pela quase inexistente fiscalização da atuação das curiosas. Ou mesmo, em função da difundida prática do uso de manuais de medicina popular, os quais orientavam em caso de partos, o que fazer a quem soubesse ler e estivesse pronto a atender uma mulher em trabalho de parto.

Outro aspecto importante tinha relação com a origem social das candidatas ao curso. Moças com possibilidade de formação esmerada para época, sabendo ler, escrever, Inglês, Francês, Química e Física, além de História Natural, provavelmente teriam outros objetivos que a prática da parturição. E mesmo, é importante pensar se a família aceitaria tal destino para uma filha. Primeiro para se formar seria necessário estudar em proximidade com rapazes e homens, situação essa pouco aceitável na época. Outro aspecto importante, e que seria o mais esperado para as moças de boa formação no período, é que uma educação tão esmerada seria mais bem aplicada na educação e formação dos filhos.

Os aspectos da moral sexual foram também importantes motivações para a criação dos
cursos, tanto no Brasil como nos casos apresentados sobre os Estados Unidos. O excesso de pudor e recato fez com que durante muito tempo as mulheres, em ambas as sociedades, se recusassem a serem atendidas por médicos parteiros. Apenas, com um grande esforço por parte dos médicos para promover o convencimento da clientela das vantagens de se contratar um médico, é que aos poucos, o avanço dos obstetras no atendimento aos partos normais se deu mais regularmente. O auxilio do arsenal de novidades em termos de técnicas e instrumental e o maior domínio sobre a anatomia e fisiologia dos partos também contribuíram para desfazer a imagem perante a clientela de que o obstetra, muitas vezes, possuía menos capacidade no atendimento aos partos que a parteira.

Enfim, podemos dizer que para o sucesso das iniciativas aqui apresentadas foi fundamental a mudança das mentalidades sobre a natureza do evento do parto, da segurança que significava a utilização dos novos conhecimentos da Obstetrícia e de como estas modificações atuaram em uma reelaboração da imagem do obstetra perante a sociedade. Também se pode dizer que, no caso das parteiras do Mississippi, a mudança de opinião das autoridades de Saúde Pública, quanto à importância social destas mulheres, foi fundamental para a melhoria das condições de saúde da população e significou um melhor atendimento aos partos, sem necessariamente findar de uma só
vez com a prática das parteiras.


REFERÊNCIAS
DONEGAN, J. B. “Safe delirery, but by Whom? Midwivwes and Man-midwives in Early America” IN:
LEAVITT, J. W. (Editor) Women and Health in America: Historical Readings. University of Wisconsin
Press, 1984. pp 302-317.
MOTT, M ª L. de B. Parteiras no Século XIX: Mme. Durocher e sua época. In:COSTA, A. de O. &
BRUSCHINI, C. (org.) Entre a Virtude e o Pecado. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1992. pp. 37-
56.
__________.Partos , Parteiras e Parturientes: Mme. Durocher e sua época. 1998. Tese (Doutorado
em História Social) Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
da Universidade de São Paulo. São Paulo.
KOBRIN, E. F. The American Midwife Controversy: A Crise of Profissionalization. In: LEAVITT, J. W.
(Editor) Women and Health in America: Historical Readings. University of Wisconsin Press, 1984. pp.
318-326
PEARD, J. “ Physicians and Women in Bahia” . In; Race, Place, and Medicine: The Idea of Tropics in
Nineteeth-Century Brazilian Medicine. Duke University Press, 1999, pp. 109-137.
ROHDEN, F. Uma Ciência da Diferença: sexo e gênero na medicina da mulher. Rio de Janeiro:
Fiocruz, 2001.224p.
SMITH, S. White nurses, black midwives, and Public Health in Mississippi, 1920- 1950. In: Leavitt, J.
(ed.) Women and Health in America, University of Wisconsin, 1999, 2nd edition, pp. 444-428.


FONTE: CAPES - Revista Eletronica "Espaço para Saúde"

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video de parto na água


escrito por: Tricia em quarta-feira, novembro 22, 2006 às 9:06 AM.



Agora eu vi... muito bacana! Bom para quem não tem idéia de como acontece...

Video de parto na água.

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Gestação e você


escrito por: Tricia em às 9:02 AM.

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A doula e a salvação do universo


escrito por: Tricia em terça-feira, novembro 21, 2006 às 3:14 PM.

você está pensando em contratar uma doula para te acompanhar durante o trabalho de parto? Saiba que isso não é garantia de absolutamente nada. Aliás, o papel da doula é de dar apoio à mulher, portanto não espere que ela vá entrar em conflito com seu médico caso ele mude de idéia e tente dar um "empurrãozinho" no andamento das coisas...

Não deixe de ler o artigo:

Perguntas que você deve fazer antes de contratar uma Doula

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video de parto sem episio


escrito por: Tricia em segunda-feira, novembro 20, 2006 às 10:50 AM.



Ainda na onda do ultimo post, trouxe esse video de um parto que aconteceu sem episiotomia.

É pra provar aos incrédulos que isso é possivel.. (acreditem, aqui no Ceará episiotomia é pra salvar a mãezinha de se "rasgar toda". Será que tem alguma coisa a ver essa lenda, com o mito de que cearense é "cabeça-chata"??? Deve ter... hohohoh)

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By: Dra. Melania Amorim (melamorim@uol.com.br)

A episiotomia consiste na incisão do períneo para ampliar o canal de parto, e sua prática foi historicamente introduzida no século XVIII por uma parteira irlandesa, Oud (1741), para ajudar o desprendimento fetal em partos difíceis. Embora não tenha ganhado popularidade no século XIX, o procedimento tornou-se disseminado no século XX em diversos países, sobretudo nos Estados Unidos da América e países latino-americanos, entre eles o Brasil. Foi a época em que a percepção do nascimento como um processo normal requerendo o mínimo de intervenção foi substituído pelo conceito do parto como um processo patológico, requerendo intervenção médica para prevenir lesões maternas e fetais.

A popularidade da episiotomia difundiu-se enormemente a partir das recomendações de obstetras famosos, como Pomeroy e DeLee. Este último, na década de 1920, lançou um tratado em que recomendava episiotomia sistemática E fórceps de alívio em todas as primíparas. A finalidade da episiotomia, de acordo com os postulados de DeLee, seria reduzir a probabilidade de lacerações perineais graves e o risco de trauma fetal, e isso passou a ser aceito como verdade incontestável e transcrito em tratados de obstetrícia, embora não tivesse sido comprovado em nenhum estudo clínico na época.

A prática da episiotomia foi grandemente alargada nas décadas subseqüentes, coincidindo com o número progressivamente maior de partos hospitalares a partir da década de 1940, nos EUA. Esta mudança no local de parto gerou uma série de intervenções que não se baseavam em nenhuma evidência científica. Alguns autores mencionam que a prática da episiotomia aumentou consideravelmente a partir da década de 1950 porque muitos médicos acreditavam que sua realização reduzia significativamente o período expulsivo, o que lhes permitia atender rapidamente a grande demanda de partos hospitalares, às vezes simultâneos. Deve-se destacar que o uso se tornou bem mais freqüente com a adoção do parto em posição horizontal (baseado fundamentalmente no conforto no obstetra) e da prática sistemática do fórceps de alívio, requerendo "espaço extra" para a manipulação vaginal.

O número de episiotomias só passou a se reduzir a partir da década de 70, quando os movimentos de mulheres e as campanhas pró-parto ativo passaram a questionar o procedimento. Concomitantemente, foram publicados os primeiros estudos clínicos bem conduzidos sobre o tema, em que se questionava o uso rotineiro de episiotomia. Destaca-se a importante revisão de Thacker e Banta, publicada em 1983, em que se demonstrou, além da inexistência de evidências de sua eficácia, evidências consideráveis dos riscos associados ao procedimento: dor, edema, infecção, hematoma e dispareunia. Apesar de ter tido pouco impacto na comunidade científica na época, este estudo despertou o interesse de se estudar sobre episiotomia, e posteriormente foram conduzidos ensaios clínicos randomizados bem controlados, dos quais o maior foi um estudo argentino, publicado em 1993.

A revisão sistemática da Biblioteca Cochrane (Carroli e Belizan), atualizada pela última vez em 1999, inclui seis ensaios clínicos randomizados e um total de 4850, submetidas à episiotomia de rotina ou seletiva. No primeiro grupo, 73% receberam episiotomia, contra 28% no segundo grupo. Os autores concluíram que os benefícios da episitomia seletiva (indicada somente em situações especiais) são bem maiores que a prática da episiotomia de rotina.


Baseando-nos nesses resultados da revisão sistemática, bem como nas conclusões de diversos outros estudos randomizados desde então publicados, podemos afirmar que:

1) Não há diferença nos resultados perinatais nem redução da incidência de asfixia nos partos com ou sem episiotomia, ou seja: os bebês nascem muito bem sem episiotomia, e não há necessidade de realizá-la com esse intuito;

2) Não há proteção do assoalho pélvico materno: a episiotomia não protege contra incontinência urinária ou fecal, e tampouco contra o prolapso genital, associando-se com redução da força muscular do assoalho pélvico em relação aos casos de lacerações perineais espontâneas;

3) A perda sanguínea é mais volumosa (em torno de 800ml contra 500ml no parto vaginal espontâneo), utiliza-se uma maior quantidade de fios para sutura e há mais dor perineal quando se realiza episiotomia;

4) A episiotomia é per se uma laceração perineal de segundo grau, e quando ela não é realizada pode não ocorrer nenhuma laceração ou surgirem lacerações anteriores, de primeiro ou segundo grau, mas de melhor prognóstico;

5) A episiotomia não reduz o dano perineal, ao contrário, aumenta-o: nas episiotomias medianas é maior o risco de lacerações de terceiro ou quarto graus;

6) A episiotomia aumenta a chance de dor pós-parto e dispareunia.

7) A episiotomia pode cursar com complicações como edema, deiscência, infecção (até fasciíte necrosante) e hematoma.

A recomendação atual da Organização Mundial de Saúde não é de proibir a episiotomia, mas de restringir seu uso, porque em alguns casos ela pode ser necessária. Não está muito claro em que situações a episiotomia é, de fato, imprescindível, porque até mesmo partos instrumentais (fórceps ou vácuo-extração) podem ser realizados sem episiotomia. Fala-se muito em "ameaça de ruptura perineal grave", para prevenir rupturas de terceiro ou quarto grau, mas o que, clinicamente, caracteriza essa "ameaça" ainda não está definido.

A episiotomia não é útil na distocia de ombros, porque o problema neste caso é uma desproporção dos ombros fetais com a pelve óssea, e não com o períneo da mãe. Possivelmente esses aspectos serão desvendados em estudos futuros. É importante lembrar que, como todo procedimento cirúrgico, a episiotomia só deveria ser realizada com o consentimento pós-informação da parturiente. O planejamento em relação a esta e outras intervenções também deve fazer parte do plano de parto.

O ideal é que a taxa de episiotomia nos diversos serviços seja inferior a 30%, o que já é realidade em muitos países europeus. A taxa de episiotomias também vem caindo significativamente nos EUA, embora ainda persista elevada: o percentual de episiotomias em partos vaginais variou de 65,3% in 1979 para 38,6% em 1997.

Infelizmente, no Brasil, a situação é ainda mais crítica, porque o procedimento é realizado em cerca de 94% dos partos vaginais. No país que é o segundo "campeão" mundial de cesáreas, quando não se corta por cima, se corta por baixo (Diniz e Chachan, 2004). Urge nos mobilizarmos contra essa prática abusiva, porque reduzir procedimentos cirúrgicos desnecessários é essencial na luta pela humanização do parto e na promoção de cuidados baseados em evidências.

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Tricia Cavalcante: Doula na Tradição, formada pela ONG Cais do Parto, mãe de três, e doula pós-parto.Moro em Fortaleza-CE.


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