Entre o parto e a vida normal
escrito por: Débora, em sábado, janeiro 27, 2007 às 1:09 PM.
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26/01/2007 17h20
Você acabou de sair da sala de parto. Ainda nem conseguiu se recompor do momento mais sublime de toda a sua vida, o de ver nascer o rebento amado, desejado, esperado (melecado e inchado). E, como se não bastasse, de ver também surgir nos olhos do homem mais especial do mundo, o que você escolheu pra dividir tudo, inclusive ou principalmente aquele momento, um sentimento enorme, gigantesco, incontido como bem colocou um amigo que acaba de viver todas estas emoções. Duas pauladas que a gente só poderia mesmo aguentar sob efeito de anestesia. A sorte é que, pelo tamanho da agulha, a peridural adormece até o pai, por tabela.
Ainda meio perdida, aliás, a esta altura completamente, levam você pro quarto, a metros do que a poucas horas era parte de seu corpo e agora estão cuidando de fazer respirar e experimentar seus primeiros momentos secos. No meu caso, particularmente, os minutos até a lucidez absoluta talvez nem tivessem sido tão penosos, se a anestesia não houvesse me posto pra fazer a única coisa que eu sentia vontade àquela altura: tremer.Depois da experiência "Toyota" e muito olho comprido para a enfermeira, eis que chega a princesa. Rostinho redondo, toda plácida, num sossego que quase sufoca das ondas de amor que levanta dentro da gente. Aí vem a primeira amamentação, trêmula, com jeito, aliás, falta de jeito de projeto piloto, emocionante. E vem também a chata da enfermeira perguntar se você urinou e, quando finalmnete ouve a resposta afirmativa, emenda: e defecou? Poxa, aquilo é hora de ficar falando nessas coisas? É, o pior é que é, sim.
E é hora também de fazer coisa muito pior: "Vamos tomar um banho?", a danada da enfermeira convida. E você, enquanto tenta calcular todas as ossibilidades de fuga viáveis, diz sim. E pra levantar da cama! Uma das sensações mais estranhas que já vivi foi a de pisar no chão horas após meu primeiro parto. Parecia que estava tudo solto por dentro, sem caber, sem poder segurar-se. Achava que, no primeiro passo que desse, ia tropeçar no meu útero ou minha bexiga, vencidos pela gravidade. Tenho impressão de que não deve ser muito diferente de andar na lua.
Mas o que eu nem imaginava se revelou quando a enfermeira (sempre ela me aperreando) pediu que eu tirasse a bata do hospital. A cena que vi nos momentos seguintes deveria estar censurada para menores e, principalmente, para puérperas. A minha barriga, minha barriguinha, da qual cuidei tanto a vida inteira, virou uma...uma...uma coisa completamente diferente do que era antes, pra colocar a coisa do jeito mais ameno possível.
Depois daquilo que estava lá no espelho, tudo foi pinto: a enfermeira, a famigerada cinta, que vem dar uma forçinha no esforço de rearrumação interna. E aí, quando tudo parece estar perdido, vem da troca de fralda o bálsamo, a compensação, a certeza de que está tudo no lugar certo, na hora exata: você, seu marido, sua família e aquela bênçãozinha toda empacotada. E já de brinco, meu Deus! O juízo não responde mais a qualquer estímulo e só aí que você se dá conta de que tudo isso ainda é o primeiro dia. Na verdade, as primeiras horas. Mas aí, pelo menos aí, as enfermeiras dão uma mãozinha.
Uma vez em casa, no entanto, fica tudo por sua conta: o bebê e o não menos trabalhoso puerpério. Nesse período, tecnicamente compreendido entre os dozes meses que separam o parto da vida normal, as primeiras semanas são chatérrimas: o peito incha, dói, seca, dói de novo, depois racha, a cinta aperta, a barriga cai toda vez que você vai tomar banho, o marido e a mãe vivem a consolar as crises de choro eventuais, ninguém dorme direito dentro de casa.... mas a redentora pequerrucha acorda a cada instante e nem deixa você lembrar de tudo que, ao primeiro sinal de choro dela, vira apenas o resto.
As feridas cicatrizam, a barriga volta ao normal (pelo menos ao que pode-se considerar normal dali pra frente) os hormônios estabilizam, as unhinhas vão desdobrando, as fraldas vão sujando, o umbigo cai, os sonos vão rareando e tudo vai se ajeitando. Até o dia em que você, o pai e a criança acertam os ponteiros e a casa se ajusta todinha pra acomodar a família que acaba de crescer. Ou nascer.
Você acabou de sair da sala de parto. Ainda nem conseguiu se recompor do momento mais sublime de toda a sua vida, o de ver nascer o rebento amado, desejado, esperado (melecado e inchado). E, como se não bastasse, de ver também surgir nos olhos do homem mais especial do mundo, o que você escolheu pra dividir tudo, inclusive ou principalmente aquele momento, um sentimento enorme, gigantesco, incontido como bem colocou um amigo que acaba de viver todas estas emoções. Duas pauladas que a gente só poderia mesmo aguentar sob efeito de anestesia. A sorte é que, pelo tamanho da agulha, a peridural adormece até o pai, por tabela.
Ainda meio perdida, aliás, a esta altura completamente, levam você pro quarto, a metros do que a poucas horas era parte de seu corpo e agora estão cuidando de fazer respirar e experimentar seus primeiros momentos secos. No meu caso, particularmente, os minutos até a lucidez absoluta talvez nem tivessem sido tão penosos, se a anestesia não houvesse me posto pra fazer a única coisa que eu sentia vontade àquela altura: tremer.Depois da experiência "Toyota" e muito olho comprido para a enfermeira, eis que chega a princesa. Rostinho redondo, toda plácida, num sossego que quase sufoca das ondas de amor que levanta dentro da gente. Aí vem a primeira amamentação, trêmula, com jeito, aliás, falta de jeito de projeto piloto, emocionante. E vem também a chata da enfermeira perguntar se você urinou e, quando finalmnete ouve a resposta afirmativa, emenda: e defecou? Poxa, aquilo é hora de ficar falando nessas coisas? É, o pior é que é, sim.
E é hora também de fazer coisa muito pior: "Vamos tomar um banho?", a danada da enfermeira convida. E você, enquanto tenta calcular todas as ossibilidades de fuga viáveis, diz sim. E pra levantar da cama! Uma das sensações mais estranhas que já vivi foi a de pisar no chão horas após meu primeiro parto. Parecia que estava tudo solto por dentro, sem caber, sem poder segurar-se. Achava que, no primeiro passo que desse, ia tropeçar no meu útero ou minha bexiga, vencidos pela gravidade. Tenho impressão de que não deve ser muito diferente de andar na lua.
Mas o que eu nem imaginava se revelou quando a enfermeira (sempre ela me aperreando) pediu que eu tirasse a bata do hospital. A cena que vi nos momentos seguintes deveria estar censurada para menores e, principalmente, para puérperas. A minha barriga, minha barriguinha, da qual cuidei tanto a vida inteira, virou uma...uma...uma coisa completamente diferente do que era antes, pra colocar a coisa do jeito mais ameno possível.
Depois daquilo que estava lá no espelho, tudo foi pinto: a enfermeira, a famigerada cinta, que vem dar uma forçinha no esforço de rearrumação interna. E aí, quando tudo parece estar perdido, vem da troca de fralda o bálsamo, a compensação, a certeza de que está tudo no lugar certo, na hora exata: você, seu marido, sua família e aquela bênçãozinha toda empacotada. E já de brinco, meu Deus! O juízo não responde mais a qualquer estímulo e só aí que você se dá conta de que tudo isso ainda é o primeiro dia. Na verdade, as primeiras horas. Mas aí, pelo menos aí, as enfermeiras dão uma mãozinha.
Uma vez em casa, no entanto, fica tudo por sua conta: o bebê e o não menos trabalhoso puerpério. Nesse período, tecnicamente compreendido entre os dozes meses que separam o parto da vida normal, as primeiras semanas são chatérrimas: o peito incha, dói, seca, dói de novo, depois racha, a cinta aperta, a barriga cai toda vez que você vai tomar banho, o marido e a mãe vivem a consolar as crises de choro eventuais, ninguém dorme direito dentro de casa.... mas a redentora pequerrucha acorda a cada instante e nem deixa você lembrar de tudo que, ao primeiro sinal de choro dela, vira apenas o resto.
As feridas cicatrizam, a barriga volta ao normal (pelo menos ao que pode-se considerar normal dali pra frente) os hormônios estabilizam, as unhinhas vão desdobrando, as fraldas vão sujando, o umbigo cai, os sonos vão rareando e tudo vai se ajeitando. Até o dia em que você, o pai e a criança acertam os ponteiros e a casa se ajusta todinha pra acomodar a família que acaba de crescer. Ou nascer.
Fonte: TV Jornal
Já li muitos relatos de parto, de chegada do bebê e das mudanças que tudo isso representa. Esse foi de um distanciamento mulher-gravidez, mãe-bebê que me impressionou. Não estou dizendo que essa mulher não desejava ou não amava esse bebê!! Isso não!!!!! Aliás isso fica muito claro no texto, ela deseja imensamente essa criança. Mas a falta de contato consigo mesma (quando diz que só mesmo "anestesiada para aguentar o tamanho do impacto) me impressiona. Ela passou pelo momento do parto no escuro, e nem se deu conta. É uma pena, de verdade, que muitas mulheres ainda pensem assim...
Marcadores: depoimento, diversos, parto
O depoimento desta mãe denota, ao meu ver, uma "Marinheira de Primeira Viagem" no assunto. Confesso que não me espantei, pois como me encontro na mesma posição,(tenho uma única filha de 6 anos: 1* parto; 1* gravidez na época tinha 39 p/ 40 anos), então não vejo nada de aterrador em alguém ter coragem de descrever senssações reais sentidas por muitas, se não por todas,num momento sublime de "dar" a vida. Ela foi verdadeira e corajosa ou talvez injênua não imaginando a possibilidade de ser alvo de critica por se expôr intensamente. Independente do que, nós mães, pensemos ou sintamos em tal momento tenha a certeza de que o filho(s) chegado é esperado e muito amado mesmo após....