Quando o sangue fica mais doce


escrito por: Tricia em sexta-feira, janeiro 05, 2007 às 10:56 AM.


Edição 158 - Jan/07


O bebê nasce rosado, gordinho, com mais de 4 quilos. Sinal de saúde de sobra? Em termos. O fato de o pequeno ser tão rechonchudo pode indicar que a mãe teve diabetes durante a gestação. E, tanto para a mãe quanto para o filho, o problema serve como um sinal de alerta: uma tendência de ambos terem diabetes tipo 2 no futuro (doença em que a pessoa não produz insulina suficientemente). Essa foi a principal conclusão de um estudo recém-divulgado no Congresso Europeu de Diabetes, que se realizou no final do ano, em Copenhague, Dinamarca. Durante mais de uma década, pesquisadores da MacGill University, em Montreal, Canadá, acompanharam mães que tiveram diabetes gestacional e sua prole - a maior parte nascida entre 1989 e 1991.

A pesquisa mostrou que essas mulheres apresentaram aumento nas taxas de açúcar no sangue ano a ano e os filhos tinham, na sua grande maioria, excesso de peso. "A gordura aumenta a resistência à insulina, dificulta sua ação", afirma o endocrinologista Airton Golbert, coordenador do Departamento de Diabetes Gestacional da Sociedade Brasileira de Diabetes. Mas a novidade não está apenas em comprovar suas chances de ter diabetes. A boa notícia é que a ciência também caminha para barrar o problema, e já existem estudos que mostram como isso é possível.

Doce, doce, doce

Mas, afinal, por que você deveria se preocupar em saber se seu sangue está doce demais durante a gravidez? Primeiro, porque cada vez mais mulheres estão sendo diagnosticadas com esse problema. E segundo - e mais importante -, se não for feito um controle rígido, o excesso de açúcar pode fazer mal ao bebê.

Atualmente, cerca de 7% das mulheres desenvolvem diabetes gestacional, e de 10% a 12% da população tem diabetes tipo 2. Só para ter uma idéia, na década de 60 esse índice, entre as futuras mães, não chegava a 1%. "Isso provavelmente está ligado ao aumento de peso da população em geral", diz a obstetra Marilza Vieira Cunha Rudge, professora do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Botucatu.

Na gestação, o organismo feminino precisa produzir maior quantidade de insulina no pâncreas - a substância facilita a entrada da glicose nas células. Só que algumas mulheres não conseguem fabricar essa carga extra, e o resultado é o aumento de açúcar no sangue.

E é com esse sangue superdoce que o bebê vai se nutrir. Com tanto açúcar assim, não fica difícil entender por que ele nasce mais gordinho. Já as bochechas rosadas são conseqüência do aumento na hemoglobina glicosilada da mãe (células que carregam a glicose). As chances de a criança nascer prematura também crescem: a mãe com diabetes passa menos oxigênio para o
feto. Rechonchudo desse jeito, o parto normal se torna mais difícil.

As conseqüências não param por aí. No berçário, o bebê precisa ganhar atenção especial: é comum ter hipoglicemia (queda nos níveis de açúcar) e problemas respiratórios.

Após o parto, os níveis de açúcar da mãe se normalizam. "Mas algumas mulheres continuam diabéticas. Isso acontece, provavelmente, porque elas já tinham o problema, só que não sabiam", explica Marilza Vieira Cunha Rudge. O único cuidado agora é fazer um acompanhamento do problema e, claro, não abusar demais das guloseimas.

Diabética, por quê?

Antecedentes familiares, ter tido outro bebê com mais de 4 quilos ou estar acima do peso estão entre os fatores de risco para desenvolver o diabetes gestacional. Além disso, os médicos consideram que mulheres com mais de 35 anos têm maior propensão à doença: acredita-se que a partir dessa idade podem acontecer alterações na placenta que levam ao problema.

Como fica o dia-a-dia?

O tratamento é essencial para não prejudicar o bebê. Isso aumenta as visitas ao médico: no início, a cada três semanas; depois da 28a semana, a cada duas semanas; e a partir da 36a, toda semana. Normalmente o controle do diabetes acontece por meio da alimentação. O que não significa apenas cortar Docinhos e barras de chocolate, mas também reduzir a porção de carboidratos, que se transformam em açúcar no sangue. Em geral, aumenta-se a quantidade de proteínas ingeridas e de refeições também - de seis a sete por dia - : quanto mais fracionadas, melhor. Praticar alguma atividade física também é bem-vindo. O excesso de glicose é usado como energia para a prática do exercício.

Preciso de insulina?

São poucos os casos, mas algumas mães necessitam de aplicação diária de insulina. E estas precisam fazer um controle rígidoda glicemia, cerca de duas a três vezes por dia. Existem medidores digitais, bem fáceis de usar e com a necessidade de uma única gota de sangue.
Grávidas podem usar antidiabéticos orais? O FDA (órgão americano que aprova o uso de medicamentos nos EUA) ainda não deu seu aval para o uso de antidiabéticos orais, remédios que auxiliam no controle da glicemia, para gestantes. Existem diversas drogas que estão em fase de testes para, em um futuro próximo, ser usadas por gestantes com segurança. "A grande vantagem é que evitariam ou retardariam a Necessidade do uso da insulina injetável,
porque muitas mulheres não aderem ao tratamento por causa das picadas diárias", diz o endocrinologista Luiz Alberto Andreotti Turatti, da Unidade de Diabetes do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Estudos indicam que de seis a oito anos após a gravidez, quando a mulher teve diabetes gestacional, 50% delas desenvolvem o diabetes. Existem medidas simples que podem evitar isso. Uma pesquisa chamada DPP (Diabetes Prevention Program), feita há cerca de oito anos nos Estados Unidos, avaliou as mudanças do estilo de vida nas pessoas. O grupo que conseguiu melhorar a alimentação e praticar uma atividade física com regularidade não desenvolveu
diabetes. "A questão é que mudar os hábitos é uma das principais dificuldades de qualquer um"', diz o médico Luiz Turatti.

A ciência estuda outras maneiras de prevenir o diabetes por meio de medicamentos. A mais recente novidade na área - que também significa uma boa-nova para quem teve diabetes gestacional - é o uso de um medicamento da linha das glitasonas, a rosiglitasona. O estudo (chamado Dream) que analisou os efeitos dessa droga foi apresentado no último Congresso Europeu de Diabetes. A pesquisa foi coordenada pelo Population Health Research Institute, da Michael G. DeGroote School, na Universidade McMaster, no Canadá, e Hamilton Health Sciences, em Hamilton, Ontário. Foram três anos de análises, com 5.269 pessoas, em 21 países, incluindo o Brasil. No final desse período, 60% dos pacientes que usaram a rosiglitasona não
desenvolveram a doença. "Outro estudo também analisou o efeito de um tipo de glitasona em mulheres que tiveram diabetes durante a gestação. O medicamento reduziu o risco de elas terem o problema no futuro", conta Luiz Turatti.


FONTE: Revista Crescer

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Tricia Cavalcante: Doula na Tradição, formada pela ONG Cais do Parto, mãe de três, e doula pós-parto.Moro em Fortaleza-CE.


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