Relato do meu Parto e Nascimento do Thiago – 17/02/2014 (versão editada em 01/08/14)
escrito por: Tricia em sexta-feira, novembro 14, 2014 às 11:02 PM.
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Confesso que não me sinto a vontade de escrever um relato sobre algo que aconteceu na minha vida como se eu fosse a protagonista de uma historia épica com um proposito fenomenal, não. As coisas simplesmente foram acontecendo, e eu apenas fui me deixando levar, e assim vou contar pra vocês.
A verdade é que, nove anos depois, após as minhas duas experiências de cesárias, nunca em nenhum momento, ao contrário do que algumas pessoas possam pensar, tive a intenção de tentar mais uma vez para experimentar o parto normal, ou para mostrar ao mundo do que eu era (ops, sou!) capaz. Não foi assim, ao contrário, o parto do Thiago foi uma lição pra mim, em muitos aspectos, assim como foram os outros dois, cada um em um tempo certo.
Em 2004, grávida da minha primeira filha, tornei-me ativista pela humanização do parto, contagiada pelo inicio do movimento na internet. Conheci muita gente, muitos profissionais que hoje em dia já são reconhecidos mundialmente. Discuti, briguei com a família, especialmente com meus pais, não podia ver uma grávida na rua, em qualquer lugar já começava a conversar e tentar convencer a todo mundo dos benefícios do parto normal.
Ótimo até aí. Mas naquele tempo, ter uma equipe preparada par atender um parto humanizado hospitalar era o mesmo que trazer a Beyoncé pra um show particular. Não existiam profissionais no setor privado que fossem favoráveis a pensar fora do sistema. Eu não cogitava o SUS como uma opção. Continuei com minha médica cesarista, e apesar dos tantos avisos de que “não se pode fazer um porco dançar”, acreditei que na hora H eu conseguiria parir normalmente com ela. E assim terminei com uma bolsa rota de 4 horas, um mecônio leve e amarelo ( até hoje tenho minhas duvidas se era mesmo mecônio), uma cesária com uma anestesia que não pegou direito, dores terríveis durante a cirurgia, manobra de kristeler, sedação total, resguardo super dolorido devido a RAC, e um ”?” que eu não entendia.
Em 2008, e bem antes disso, eu já queria tentar de novo. Sim, eu queria ter outro filho, sempre quis, mas eu também queria meu tão sonhado parto normal. Comecei devorando tudo o que podia sobre tudo, comprei livros, colecionei artigos, me tornei intima da Scielo. Engravidei após alguns meses. Compreendi que o parto domiciliar seria a melhor opção pra mim pois seria uma forma de fugir das intervenções do sistema por ser um VBAC1, e estudei tudo que pude sobre ruptura uterina. Estava decidida a ter o meu tão sonhado parto normal, agora natural. Só esqueci do mais importante: da minha saúde emocional, e corporal. Assim, ficando nervosa, brigando com todo mundo, anunciando aos amigos e parentes que teria um parto natural, comendo tudo o que queria e tinha direito, acabei tendo uma cesárea (frustrante, mas salvadora) após uma crise hipertensiva que evoluiu para eclampsia (Sim!!!), com direito a convulsão (não recebi sulfato de magnésio) na 34ª semana de gestação. João nasceu com apenas 1,800kg, e ficou 9 dias na UTI. Pense numa lição enorme: receber alta da maternidade e deixar seu filho lá. Passar dias na UTI ao lado do bercinho amamentando aquela coisinha miúda, rezando pra que o pediatra liberasse ele pra ir pra casa. O lado bom dessa historia foi que eu me envolvi com a realidade dos prematuros, e comecei a doar leite materno para os bancos de leite de Fortaleza. Enchia muitos vidros por semana, de dar gosto. E assim, meu João foi crescendo e engordando, mas ficou com algumas lembranças, e uma série de alergias até hoje. Eu decidi que não queria mais ter filhos, e muito menos pensava em parto normal. Pra mim era um assunto muito delicado, que eu evitava o máximo que conseguia.
Desde o parto do João eu havia mudado radicalmente minha alimentação: mínimo ou nada de glúten, açúcar nem pensar, industrializados, refrigerantes, doces jamais. Comecei a correr todo dia, praticava pilates e dança do ventre. Fiz isso por mim, pra me cuidar, e comecei a me sentir muito bem, obrigada. Até que comecei a ir trabalhar de bike. E um cansaço enorme me fez desconfiar que algo estava diferente. Até que em junho de 2013, totalmente por acidente me vi grávida do meu terceiro filho. E aí tudo mudou.
Primeiramente fiquei apavorada com a pré-eclampsia. Segundo a ultima médica eu nunca mais deveria engravidar pois a pressão alta é “herdada” de uma gestação pra outra. Primeira providencia: comprei um aparelho de medir a pressão, e fiz isso todos os dias até o TP. Além de continuar com a minha alimentação meio natureba, mas com muita carne (ninguém é de ferro). Tentei repousar o máximo possível, aprendi a não me estressar com uma série de problemas e pessoas ao meu redor (essa foi a parte mais difícil), e me concentrei o máximo que pude no meu processo, no meu corpo e no meu filho. Além da PE, tinha muito medo de parto prematuro (afinal Joao nasceu com 34 semanas).
Até que chegamos nas 38 semanas, graças a Deus! (Cada semana sem a PE era comemorada aqui em casa). Alguns dias antes vinha sentindo muita lombalgia, e muitas Braxton-Hicks indolores. Poucas cólicas, e muito irregulares. Até que no dia 12/fev, quinta-feira a noite, durante a rotina de estudo dos meninos, senti um “ploc” e um liquido escorrendo. (Putesgrila a bolsa tinha rompido sem inicio de TP! Ou pelo menos foi o que entendemos pela primeira experiência). A ansiedade tomou conta de tudo, pois, no meu primeiro parto esse tinha sido o motivo (seguido de mecônio) pra primeira cesária. Liguei pra equipe que acompanharia o parto, e fui informada que a minha médica costumava aguardar 24hs de bolsa rota no máximo. Ou seja, eu já tinha um relógio trabalhando contra mim, a partir daquele momento. (Hoje, alguns meses depois, analisando mais claramente o que aconteceu, percebo que não houve bolsa rota, e sim ruptura alta de membranas).
Depois de colocar os meninos pra dormir, comecei a fazer indução natural, seguindo orientação da minha parteira. Primeiro preparei um pirão de pimenta (nunca vou me esquecer do gosto daquilo!) com farinha e azeite. Depois chá de canela-gengibre-pimenta-alho, subi escada infinitas vezes, estimulei mamilos, tomei banho quente. Nada. Passamos a noite totalmente ansiosos e sem nenhuma contraçãozinha sequer. Fui dormir chorando.
Na manhã seguinte, acordei cedo, e fui fazer meus 40min de esteira, a parteira chegou, saímos e ela me acompanhou numa sessão de acupuntura (onde pedimos pra estimular o inicio do TP) onde rolou muito choro, mas nada ainda de contrações. Ela acabou indo embora, mas ficamos nos falando por telefone aguardando. Seria melhor pra diminuir minha ansiedade, tentar ficar em casa com muita paz. Pelas 11 da manhã, as contrações começaram timidamente, agora um pouco doloridas. E haja fazer indução natural. Falei com a médica, que pediu um ultrassom, saímos de casa a tarde pra fazer o exame: tensão, sala de espera, e cheiro de hospital eram ingredientes infalíveis para fazer as contrações pararem.
Resultado do US: liquido diminuído (mais ainda dentro do mínimo aceitável – 52mm), pois a ruptura da bolsa foi alta (viu!?). Sabendo disso, a médica me “deu” mais 24 horas pra entrar em TP, comemoramos. A noite pedi ao Dr. Teles mais uma sessão de acupuntura em casa, com eletro-estimulação. E naquela sexta-feira, voltei a sentir contrações somente a noite, muito tarde, depois do jantar, dessa vez eram mais claras, em ondas, com útero bem contraído na parte de cima, e muita cólica embaixo. Elas vinham sempre a cada 20-30min, e ainda estavam muito irregulares e suportáveis. Mas sumiram na madrugada.
Amanheci no sábado com vontade de correr uma maratona, cheia de energia, mas apavorada pois não tinha sinal de TP ativo. Falei com a médica, estávamos com 30hs de bolsa rota e nada. Ela pediu mais dois exames: hemograma (vamos ver os leucócitos!) e cardiotocografia do bebê, pois nosso risco era de infecção. Passamos a manhã no transito, chovendo muito, preocupação, salas de espera, cheiro de formol, e tensão... e assim as tímidas contrações que vinham a cada 30min, sumiram mais uma vez. Ao sair o resultado dos exames, todos normais, sem sinal de infecção, falamos com a Dra Liduina mais uma vez, que ficou mais tranquila, e me mandou ficar em casa bem calma, e aguardar o TP. Não falou em prazo (oba!) já estávamos com 3 dias de bolsa rota, e perda de liquido clara.
Amanheci no sábado com vontade de correr uma maratona, cheia de energia, mas apavorada pois não tinha sinal de TP ativo. Falei com a médica, estávamos com 30hs de bolsa rota e nada. Ela pediu mais dois exames: hemograma (vamos ver os leucócitos!) e cardiotocografia do bebê, pois nosso risco era de infecção. Passamos a manhã no transito, chovendo muito, preocupação, salas de espera, cheiro de formol, e tensão... e assim as tímidas contrações que vinham a cada 30min, sumiram mais uma vez. Ao sair o resultado dos exames, todos normais, sem sinal de infecção, falamos com a Dra Liduina mais uma vez, que ficou mais tranquila, e me mandou ficar em casa bem calma, e aguardar o TP. Não falou em prazo (oba!) já estávamos com 3 dias de bolsa rota, e perda de liquido clara.
Continuei com o coquetel de chás e subindo mais uns trezentos andares de escada. Sábado a noite pedi ao Dr Teles mais uma sessão de eletro-acupuntura em casa. Assim passamos a noite com contrações irregulares. Nada de TP.
No domingo tentei ficar o mais concentrada e calma possível, mas foi difícil. Se eu não entrasse em TP naquele diz, provavelmente perderia o apoio da minha médica, e na segunda de manhã iria ao consultório dela talvez pra receber a guia de internação. Pavor. Domingo na mesma, muito chá, muita escada, banho morno. Nada. No fim da tarde comecei a me desesperar, chorei horrores achando que e o TP não começaria nunca. Perdi a fé nos chás, nas escadas, na dança, nas induções. Praguejei, gritei, chorei. Liguei pra parteira e chorei mais ainda.
Um pouco depois ela veio me ver e trouxe uma pessoa (muito importante) com ela pra conversar comigo: Priscila que me conhecia virtualmente desde o parto da Thais e também tinha uma historia de parto com bolsa rota. Fiquei muito feliz, mais calma e confiante, mas ainda estava apreensiva pelo apoio da médica, pois não tinha idéia de qual seria sua reação após 5 dias de bolsa rota. A tensão no relógio era imensa. Eu não aguentava mais tanta pressão (da medica, do marido, da parteira, de mim mesma)... Parei de me concentrar nas induções naturais, o TP começaria na hora certa, mesmo sem indução alguma. Parei de medir o tempo entre as contrações. Mandei todo mundo “pra aquele lugar”, me zanguei, não queria mais saber de porcaria de contração nenhuma, chorei, chorei. E foi aí que algo mudou.
Segunda-feira chegou depois de uma noite de contrações bem mais doloridas, tinha dormido mal, sentada na bola, a cada 15min sentia uma. Fui para o consultório da medica menos tensa, mas rezando muito pedindo discernimento a Deus e proteção de Nossa Senhora do Desterro. Se a médica me abandonasse, o que eu faria? Mas ao sentar naquela sala pra fazer mais um ultrassom, tive uma contração dolorosa. E ao olhar no olho dela, senti tanto carinho, e ouvi o que eu mais queria: ”vá pra casa, você está em trabalho de parto, você não precisa de mim”.
Fui pro meu quarto, e tentei me isolar de tudo. O apoio do meu marido também era fundamental, ele levou os meninos pra casa da vó, pra que eu ficasse sozinha. As contrações não foram mais embora. E a cada uma delas comemorava a chegada do meu filho. Sempre que sentia a onda, ficava de cócoras, ou encima da bola, dançava passos de dança do ventre, chamava por ele. A noite, depois que os meninos caíram no sono (e o marido também!) elas ficaram muito mais doloridas, e após as 20hs eu não conseguia mais encontrar posição confortável durante elas. Liguei pra parteira, pedi pra ela vir pra gente conversar (?), fui pra debaixo do chuveiro quente, nada adiantava.
Fui pro meu quarto, e tentei me isolar de tudo. O apoio do meu marido também era fundamental, ele levou os meninos pra casa da vó, pra que eu ficasse sozinha. As contrações não foram mais embora. E a cada uma delas comemorava a chegada do meu filho. Sempre que sentia a onda, ficava de cócoras, ou encima da bola, dançava passos de dança do ventre, chamava por ele. A noite, depois que os meninos caíram no sono (e o marido também!) elas ficaram muito mais doloridas, e após as 20hs eu não conseguia mais encontrar posição confortável durante elas. Liguei pra parteira, pedi pra ela vir pra gente conversar (?), fui pra debaixo do chuveiro quente, nada adiantava.
Mas a partir daquele momento, elas vieram como um furacão. A cada 5 min, não sei, mas não dava pra descansar entre elas. Pedi pro marido encher a banheira, briguei com ele, gritei. Quando a parteira chegou estava dentro da banheira, quase na transição. Após alguns minutos, e com a banheira já cheia, as contrações já vinham a cada 1min. Ligamos pra enfermeira-obstetra. Mas não deu tempo, os puxos já estavam vindo. Mas como? Puxos? Fizemos um toque dentro da água pra ver a dilatação, aparentemente sem condições, pois eu estava numa posição bem difícil. Sem acreditar, ouvi que estava com mais ou menos 4 cm. Mas como? Já queria empurrar! Tentei segurar os puxos, mas não dava, era involuntário. E assim, após umas 3 ou 4 horas de TP ativo, meu filho nasceu.
Quem segurou meu filho foi a parteira na tradição Kelly Brasil, minha amiga de infância, que vivenciou esse processo comigo, por destino, por amor ao sagrado feminino. A enfermeira-obstetra chegou alguns minutos depois quando já estávamos na cama aguardando a placenta nascer. Tive apenas uma pequena laceração superficial que não precisou de pontos, e sarou após 2 dias.
Meu parto foi da maneira mais lenta e mais rápida que alguém poderia imaginar. Em nenhum momento eu tive a certeza de que daria certo, apenas do que eu queria pra nós dois. Não anunciei como seria pra ninguém, nem pra mim mesma, não planejei nada, não fiz plano de parto, não discuti com ninguém na internet, não disse nada nem pra minha médica. Queria apenas sobreviver a tudo, e me deixei levar pelos acontecimentos. E assim tive meu VBAC2 naturalmente na minha casa, no meu ninho, e dentro da água. Como eu sempre quis.
Não tenho palavras pra agradecer o amor e a compreensão das profissionais que me assistiram. No nascimento da minha primeira filha, não haviam grupos organizados pró-humanização em Fortaleza. Hoje elas conseguiram reunir tantas mulheres que querer parir! Me orgulho imensamente de vocês: Semiramis Ávila, enfermeira-obstetra, pelo profissionalismo e fé na Natureza e na vida. Dra. Liduina Rocha, pelo carinho e amor, e por acreditar em mim e no meu filho. E Kelly Brasil, minha amiga de infância e minha parteira, por não ter desistido de mim.
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