Cesariana 'pode aumentar risco de morte em até 20%'
escrito por: Tricia em terça-feira, maio 30, 2006 às 10:36 AM.
0 Comentários
O grande número de cesarianas realizadas na América Latina aumenta o risco de mortes e complicações pós-parto para as mães e bebês.
A conclusão é de um estudo da Organização Mundial de Saúde publicado nesta terça-feira na revista médica The Lancet. Segundo os dados coletados, as mortes pós-parto subiram em até 20% com o aumento do número de cesarianas.
O estudo selecionou aleatoriamente 120 hospitais públicos e privados em oito países: Argentina, Brasil, Cuba, Equador, México, Nicarágua, Paraguai e Peru. Um terço dos 97 mil partos analisados durante o período do estudo foi realizado por cesariana.
O estudo concluiu que os hospitais com o maior número de partos realizados por meio de cesarianas eram os que apresentavam maiores taxas de doenças maternas, mortes e uso de antibióticos após a gravidez.
Brasil
No trabalho feito pela OMS, foram observados 15 hospitais públicos e 4 privados no Brasil. Nesses hospitais, foi observado um volume de cesarianas próximo da média da região, de 33%. Os hospitais privados tiveram uma média pouco maior do que os públicos.
Ainda segundo o estudo, em países como México e Equador essa taxa foi muito maior. No México, por exemplo, nos dois hospitais privados observados as cesarianas chegam a 80% dos partos realizados.
No Brasil como um todo, segundo números oficiais (os mais recentes são de 2004) a taxa de cesarianas está em 34,5% dos 2,5 milhões de partos realizados.
No mesmo ano, em média, 71,5% dos partos na rede particular foram cesárias.
A cesariana é uma cirurgia em que uma incisão é feita no útero para a retirada do bebê e é recomendada em casos de dificuldades no parto normal, quando o bebê está sofrendo ou se a mãe está doente ou tem pressão alta.
Segundo Heloísa Lessa, Secretária-Executiva da ONG Rede pela Humanização do Parto e do Nascimento, nos grandes centros brasileiros há hospitais em que "até 99% dos partos são feitos através da cesariana".
Lessa acrescenta que as brasileiras urbanas correm sete vezes mais risco de morrerem no parto do que as que vivem no meio rural.
Segundo ele, já há no país iniciativas como o Pacto Nacional Para Redução da Mortalidade Materna, patrocinada pelo Ministério da Saúde, que reduziu o pagamento de cesárias para hospitais. Se mais de 40% dos partos forem cesarianas, os hospitais deixam de ganhar adicionais.
O ministério também promove o Programa de Humanização no parto e as perspectivas é de que os números venham a baixar.
América Latina
Em toda a América Latina, 2 milhões de crianças estão nascendo de cesáreas a cada ano, a um custo extra de US$ 350 (cerca de R$ 700) cada.
O dinheiro que, segundo o estudo "poderia ser usado para melhorar outras áreas do tratamento das mães e dos bebês e pagar pesquisas necessárias".
O motivo para um volume alto de cesarianas vai desde pressões sociais à percepção da segurança da cirurgia.
Os dados da OMS, no entanto, contradizem a idéia de que a cesariana, quando feita de forma desnecessária, é tão segura quanto o parto normal.
Para o chefe da equipe que realizou o estudo, o médico Jose Villar, "as maiores taxas de nascimento por cesariana não necessariamente indicam boa qualidade de serviços ou de tratamento".
FONTE: BBC Brasil
Gestante e médico viram parceiros
"Humanizar o parto é respeitar e criar condições para que todas as dimensões do ser humano sejam atendidas: espirituais, psicológicas, biológicas e sociais", define a parteira Marilia Largura, autora do livro "A Assistência ao Parto no Brasil". Apesar da resistência de alguns obstetras, essa abertura já é uma exigência da Organização Mundial de Saúde (OMS). No Ceará, a humanização do parto começou com o trabalho do professor José Galba Araújo, primeiro diretor da Maternidade Escola Assis Chateaubriand (Meac), na década de 1980. Com a finalização do Projeto Luz, em 2001, pela Agência de Cooperação Internacional do Japão (Jica), o assunto ganhou dimensão no Estado. Entraram em cena as doulas, mulheres capacitadas para acompanhar as parturientes durante a gestação, e surgiram Organizações Não-Governamentais (ONGs) engajadas em incentivar a autonomia das mulheres nesse processo e reduzir os altos índices de cesáreas no Brasil, o equivalente a 41% dos partos.
Avanços tecnológicos na medicina resultaram em mudanças no processo de gestação da mulher. Medicamentos, em alguns casos desnecessários para o bem-estar de mãe e filho, são ministrados com freqüência. Além disso, o medo e a desinformação das mulheres acaba, na maioria dos casos, em especial na rede particular de saúde, alimentando as altas taxas de cesarianas no País.
Em Fortaleza, de acordo com o obstetra Silvio Carlos Rocha de Freitas, assessor da Área Técnica da Saúde da Mulher, a humanização do parto surge para dar à mãe a permissão de conduzir o próprio processo de gestação. Dessa forma, "ela passa a ser tratada com mais respeito, tendo voz ativa".
Após o trabalho do professor José Galba Araújo, também como diretor da Maternidade Escola Assis Chateaubriand (Meac), e o desenvolvimento do Projeto Luz, durante cinco anos no Ceará, pela Agência de Cooperação Internacional do Japão (Jica), alguns hospitais em Fortaleza começaram a apresentar mudanças. À exemplo do Hospital Geral César Cals (HGCC), Meac e Gonzaguinha de Messejana.
Na década de 1980, o professor Galba Araújo já defendia o parto natural. Seu trabalho era direcionado à melhoria da qualidade do parto domiciliar e a necessidade de identificação das gestantes de risco. Para isso, desenvolveu atividades com as parteiras, função hoje extinta nos hospitais.
Apesar da resistência de alguns médicos obstetras, cresce o número de adeptos a essa filosofia, segundo Silvio de Freitas. Profissionais interessados em compartilhar com as gestantes as principais decisões do parto. Nesse processo, a mulher opina sobre o uso da episiotomia de rotina, da anestesia ou, ainda, a melhor posição para o nascimento, colocando a saúde do bebê e a sua em primeiro lugar.
A estrutura de alguns hospitais, entretanto, ainda dificulta esse processo. Evitando, por exemplo, a presença de um acompanhante durante o trabalho de parto, garantida pela Lei 11.108/ 2005.
De acordo com o Ministério da Saúde, cerca de 14 estudos científicos brasileiros e internacionais, realizados em mais de cinco mil mulheres, indicam que as gestantes acompanhadas no parto e pós-parto ficam mais tranqüilas e seguras.
Esperando o primeiro filho, a nutricionista Mônica Weyne já decidiu quem acompanhará seu parto. "Eu gostaria de ter a minha mãe ao meu lado, mas como ela é muito emotiva, será o meu marido". Na 37ª semana de gravidez, Mônica está muito tranqüila: "Meu médico é a favor do parto natural. Isso contribui muito".
Entre as ações do Ministério da Saúde para a humanização do parto, está o incentivo à redução das cesáreas desnecessárias. Em comemoração ao Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher e o Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna, celebrados hoje, o Governo lança, na próxima terça-feira, uma campanha nacional de incentivo ao parto normal.
O Centro de Parto Natural de Fortaleza, vinculado à Universidade Federal do Ceará (UFC), foi inaugurado em 2003 através de uma parceria com o Ministério da Saúde. O local ainda não realiza partos normais de baixo risco, mas funciona, no turno da manhã, para pré-natal e prevenção do câncer de colo do útero.
VANTAGEM
Ceará registra 34,4% de cesárias
As dores do parto normal levam milhares de mulheres a optarem pela cesariana. No Ceará, de acordo com a Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), das 137 mil crianças nascidas em 2004, 34,4% foram de partos cesáreos.
De acordo com o Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (SINASC) do Ministério da Saúde, as cesáreas representaram, no mesmo ano, mais de 41% dos partos realizados no País. Enquanto a Organização Mundial de Saúde (OMS) aconselha o percentual máximo de 15%.
Na rede particular de saúde, o índice se agrava. Segundo pesquisa da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), em 2004 aconteceram 2,5 milhões de nascimentos e a taxa de cesarianas no segmento privado atingiu 79,9%, uma das maiores do mundo. No Sistema Único de Saúde (SUS), o percentual é de 27,53%.
Apesar da mãe não poder programar o momento e a duração do nascimento do filho em um parto normal, é beneficiada com uma série de vantagens. Entre elas, há menos chances do bebê ser retirado prematuro do útero, não há cicatriz aparente, a recuperação pós-parto é mais rápida e a possibilidade de dores abdominais por aderências é menor, assim como hemorragias e infecções.
A cesariana, explica o médico Ricardo Gadelha, coordenador da emergência obstétrica do Hospital Geral César Cals, só é indicada para pacientes com registro anterior de dois ou mais partos cesáreos, ou em situações de risco, como o deslocamento da placenta. "A anulação da dor na cesárea é uma ilusão. Nesse tipo de parto, o sangramento é maior, assim como os riscos de infecção. No pós-parto, a recuperação é mais lenta", explica o médico.
No César Cals, conforme Gadelha, a média de cesáreas é de 40%. Em 2005, 52% das mulheres internadas no hospital eram pacientes de alto risco. "Ainda assim, a taxa de cesáreas ficou em torno de 40%", ressalta.
Para Socorro Moreira, representante da Organização Não-Governamental (ONG) Parto Princípio, as mulheres só devem permitir a cesárea quando a mãe ou o bebê estiverem correndo risco de morte. Depois do nascimento do primeiro filho, Socorro aguardou cinco anos para engravidar novamente e tentar um parto normal.
No nascimento do segundo filho, Juliano, Socorro passou 30 horas em trabalho de parto, acompanhada por uma obstetra em casa. Ainda assim, a cesárea foi necessária pois a vida do bebê já estava em risco. "O segundo nascimento fechou as feridas do primeiro. Eu fiquei bem. Dei à luz ao Juliano da melhor maneira possível. Eu lutei", lembra.
ASSISTÊNCIA
Parteiras são amigas das gestantes na Meac
De acordo com a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS), realizada em 1996 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 20% dos partos em áreas rurais e de difícil acesso aconteciam em casa com assistência de parteiras.
A Rede Nacional de Parteiras Tradicionais estima que ainda existam cerca de 60 mil mulheres em atividade. A maioria nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Na Meac, as parteiras das décadas de 60 e 80 retornaram ao hospital como “Amigas da Gestante”, em 2000, apenas acompanhando as futuras mamães durante o parto.
“A gente recebe a paciente e dá todo o apoio emocional, antes e na hora do parto. Às vezes , um carinho ajuda a relaxar”, conta Maria Gadelha.
Aos 78 anos, a ex-parteira guarda na bagagem a lembrança dos 42 anos de atividade. Há quem calcule mil partos em sua trajetória, mas Maria Gadelha acha exagero. Apesar de não saber o número, ela recorda com carinho todos os partos. Em especial, o nascimento de trigêmeos, em 1976, na Meac. “Tenho muita vontade de reencontrá-los”, conta.
Na última quinta-feira, Maria Gadelha recebeu uma homenagem da Secretaria Executiva Regional I. A sala do Conselho Regional de Saúde, inaugurada na ocasião, recebeu seu nome.
Reconhecendo o trabalho das parteiras, o Ministério da Saúde criou o Programa Trabalhando com Parteiras Tradicionais, em 2000, com o objetivo de reduzir o adoecimento e a morte dos recém-nascidos e das mães durante a gestação, parto e no período logo depois do parto. Mas o Ceará não participa do programa.
Nos hospitais, os obstetras substituíram as parteiras. Entretanto, elas continuam a atuar fora desse ambiente. “Se for uma emergência, eu faço. Como no nascimento do meu bisneto. A criança ia nascer dentro do carro”, conta Maria José da Silva.
PROJETO LUZ
"Doulas" passam segurança à mãe na hora do parto
"No meu parto, a doula foi a interlocutora entre o médico e eu. Para ele, era só mais um procedimento. Mas a doula não, ela sabia realmente o significado daquele momento para mim. Ela estava preocupada com o meu bem-estar físico e emocional". O depoimento de Clícia Weyne, 30 anos, relembra a importância da doula durante o nascimento do primeiro filho, João.
Do grego "mulher que serve", a palavra "doula" ganhou força em Fortaleza após o desenvolvimento do Projeto Luz, uma parceria entre a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) e a Agência de Cooperação Internacional do Japão (Jica), finalizada em 2001. Na Maternidade Escola Assis Chateaubriand, as doulas acompanham as parturientes há seis anos.
Contemplada com a troca de experiências entre Brasil e Japão, a enfermeira obstétrica Ineida Sales atua como doula desde 1998. Em oito anos, acompanhou o parto de 122 mulheres na rede particular. Nos hospitais públicos, Ineida estima uma média de dez nascimentos diariamente.
"O parto humanizado vem para difundir a importância da participação da mulher nas decisões durante a gestação. O papel da doula, nesse processo, é transmitir segurança para a mãe e favorecer o seu conforto, com massagens e diferentes posições", diz.
"A doula olha no olho da mãe. Observa as emoções da mente e não apenas avalia a parte técnica do parto. A nossa preocupação é com os medos e receios". Por isso, explica Ineida, o papel da doula começa ainda na gravidez, ajudando na preparação da família.
Em encontros com os pais do bebê, ela orienta sobre as posições do parto e esclarece os mitos, relacionados ao bem-estar de mãe e filho.
Entretanto, a presença desse profissional ainda é rejeitada por alguns obstetras. A médica da publicitária Tricia Lima, 26 anos, se recusou a conhecer Ineida. "No caso da Clícia, o parto aconteceu como ela queria, porque toda a equipe médica era adepta ao parto humanizado. Já na gravidez da Tricia, a médica não quis nem me conhecer", lembra.
No plano de parto feito por Tricia, com o auxílio da doula, a futura mamãe demonstrou suas vontades: queria um parto de cócoras, sem anestesia, totalmente natural, ao lado do marido e da doula. "Quando mostrei meu plano para a médica, ela riu da posição e questionou a presença da doula", conta.
Enquanto esperava a filha Thaís, hoje com um ano e meio, Tricia pesquisava muito e questionava a médica. "Ela era minha ginecologista desde os 11 anos. Pensar em mudar de médica era muito difícil, então passei a acreditar que ela mudaria de idéia". No final, Thaís nasceu de parto cesário. Segundo a médica, estava com sofrimento fetal.
TECNOLOGIA
Voluntárias usam a internet para articular demandas
Elas deixaram os corações de mulher, gestante e mãe falarem mais alto. Por uma maternidade ativa, criaram a Organização Não-Governamental (ONG) Parto do Princípio. Mais de 200 mulheres voluntárias, espalhadas em 16 estados brasileiros, se comunicam, articulam demandas e dividem ações pela internet ( www.partodoprincipio.com.br).
O objetivo, de acordo com a representante da ONG em Fortaleza, Socorro Moreira, é lutar pelos direitos das mulheres e incentivar a autonomia nas decisões relativas ao seu corpo e do seu filho durante a gestação e pós-parto. "A rede valoriza e estimula o parto normal. Mas o nosso papel não é conscientizar, é apontar caminhos para a mulher pesquisar e tomar uma decisão informada".
Além de cuidar dos dois filhos - Mário (6 anos) e Juliano (6 meses) -, Socorro é bancária e psicóloga, nas horas vagas, assim como as demais voluntárias da ONG, contribui para o site com novas informações.
Artigos, depoimentos de partos, esclarecimentos sobre mitos, orientações sobre o plano de parto, entre outras dicas e truques, auxiliam as futuras mamães a encararem a gestação, o parto e a amamentação "como processos naturais, carregados de significado e beleza", como descreve Renata Penna, mãe das gêmeas Ana Luz e Estrela.
Juntas, a rede defende a humanização do parto. O que, para a jornalista Socorro Acioli, significa o respeito à forma como a natureza preparou a chegada dos seres humanos ao mundo. "Sentir o corpo se preparando, as contrações, a dilaceração do corpo, é tudo tão perfeito que não pode ser desrespeitado".
Para receber a filha Beatriz, Socorro optou por um médico humanizado. "Tive um pré-natal muito seguro. Ele [o médico] me dizia que o melhor parto seria o que fosse melhor para o meu bebê". Beatriz nasceu de parto normal, como a mãe desejava, às 7h40min do dia 7 de maio de 2003.
AMBIENTE
Hospital César Cals investe em salas de parto decoradas
A humanização do parto, conforme o Manual do Parto Humanizado, resultado do Projeto Luz, realizado pela Agência de Cooperação Internacional do Japão (Jica), começa pelas instalações da maternidade. A sugestão é transformar esse espaço em uma ambiente agradável.
O Hospital Geral César Cals (HGCC) já apresenta algumas dessas mudanças. Além da separação da área obstétrica das demais dependências do hospital, as salas de parto são individuais e bem decoradas. “A Humanização está associada a uma série de fatores: ambiente, internação e conduta”, destaca Ricardo Gadelha, coordenador da emergência obstétrica.
Entretanto, apesar das ações de humanização desenvolvidas no hospital - incluindo o Método Mãe Canguru e a Casa da Gestante -, a superlotação dos leitos e das Unidades de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal e de Médio Risco prejudicam o atendimento. “Em alguns casos, a paciente tem o bebê e continua na mesa de parto por falta de leito”, conta Gadelha.
Os recém-nascidos também arcam com as conseqüências. Esta semana, as duas UTIs neonatais estavam superlotadas. No espaço reservado para 21 crianças, havia 30 internadas. “Recebemos grávidas de vários municípios cearenses, inclusive Sobral, o centro de uma macroregião”, ressalta.
Acomodar esse número extra, explica Gadelha, “não é só colocar um berçinho a mais, exige uma equipe maior, o que acaba sobrecarregando os profissionais”.
Apesar das mudanças na área de obstetrícia, as salas de parto ainda não possuem espaço suficiente para a liberação da entrada de um acompanhante durante o nascimento do bebê.
Para as mães que aguardam, internadas no hospital, a recuperação dos filhos prematuros ou com baixo peso, é a saudade da família o único motivo para tristeza. “Aqui sou muito bem assistida. Tenho contato diário com minha filha, mas sinto muita saudade de casa”, conta Eneide de Souza, 22 anos, mãe de Ana Amélia, nascida há mais de um mês.
FONTE: Jornal Diário do Nordeste
Marcadores: ceará, humanização, midia, sus
POR BIA REIS, MÃE DE TOMÁS
Em vez da sala de parto e o quarto do hospital, o conforto da própria casa. No lugar de médicos e enfermeiras de luvas e aventais, uma parteira. Nada de anestesia, cortes ou procedimentos invasivos, mas, sim, uma experiência mais natural do nascimento. O parto feito em casa, também chamado de domiciliar, causa estranheza, gera medo e parece ser coisa de gente maluca. Porém, essa foi a regra que vigorou durante muitas décadas, até meados dos anos 50, e cada vez mais tem conquistado a mulherada dos dias de hoje. E tem mais: é seguro, a probabilidade de infecção é menor e o vínculo que se estabelece com o bebê é muito maior.
"Hoje respiramos uma cultura hospitalar. Para quem mora nas grandes cidades e vive esta época, ter um parto em casa é inconcebível, é coisa de índio, de bicho", relata a enfermeiraobstetra Vilma Nishi, mãe de Carolina e Luisa. De acordo com ela, as mulheres que se interessam pelo parto em casa têm a característica de serem mais ligadas à natureza e, de alguma forma, procuram realizar o desejo de vivenciar um processo mais natural. "Se engravidamos naturalmente, deve haver um jeito natural também de darmos à luz", diz a parteira.
Na consulta inicial, as parteiras conhecem a história dos pais e seus desejos. O pré-natal continua sendo feito por um médico, que acompanha as condições de saúde da mãe e o desenvolvimento do bebê. Com a parteira, a mulher vive outro tipo de experiência, mais ligada às emoções e sensações. Muitas mulheres descrevem as consultas como uma verdadeira terapia. São conversas, massagens e períodos de reflexão.
As pessoas que defendem o parto em casa acreditam que tanto os pais quanto os bebês são beneficiados. Elas dizem que no hospital os médicos colocam a mãe em uma atitude passiva. "A mulher deve ser protagonista do parto. Em casa, ela tem liberdade para escolher a posição que quer ficar, a música que quer ouvir, o que quer comer. O profissional apenas presta uma assistência", explica a enfermeira-obstetra Marília Largura, de 71 anos, mãe de Paulo, Victor e Sarita.
Marília diz que o primeiro contato do bebê com a equipe médica costuma ser marcado por tensão, nervosismo, excesso de manipulações e verificações. Já em casa, a mãe pode ficar com o filhote durante o tempo que quiser, dar banho, amamentá-lo e curtir os primeiros momentos na tranqüilidade do lar. Outro aspecto positivo, na visão da parteira, é que o parto domiciliar estreita a relação dos pais com as crianças. "Quanto mais partos eu assisto em casa e no hospital, mais eu me convenço de que o lugar mais natural para dar à luz, quando se está sadio, é na própria casa", explica.
As parteiras rejeitam as afirmações de que o parto em casa traz riscos de infecção tanto para a mulher quanto para a criança. "Em casa a mulher está no seu hábitat, com suas próprias bactérias. As chances de infecções são infinitamente menores", argumenta Vilma.
Humanização
Vilma, uma das parteiras mais conhecidas de São Paulo, construiu sua carreira trabalhando durante quase 30 anos em hospitais. Sua vida mudou em 2001, quando conheceu o trabalho de uma parteira alemã, adepta do parto humanizado. Desde então, Vilma dá assistência às mulheres que têm o sonho de dar à luz em sua própria casa, como fez Claudia d'Orey, mãe de Valentina, 1 ano e 4 meses.
Claudia conheceu a parteira quando estava no quinto mês de gravidez. Ela já havia procurado 15 médicos e não tinha se identificado com nenhum deles. "Me encantei com a Vilma logo na primeira consulta. Em vez dos exames tradicionais, ela fez massagens, conversou muito comigo, me deixou confiante", descreve a musicista, que, até então, não sabia da possibilidade de dar à luz em casa.
Os quatro meses seguintes foram recheados de consultas, informações sobre o parto e o pós-parto, além das massagens. "Estabelecemos um vínculo muito forte nesse período", conta Claudia. E, assim que sua bolsa estourou, por volta da 1 hora da madrugada, ela logo ligou para Vilma. A parteira seguiu para a sua casa conforme o combinado. Ao contrário do que muita gente imagina, a casa não precisa ser adaptada para que a mulher dê à luz. As parteiras costumam levar apenas um equipamento para acompanhar a freqüência cardíaca do bebê, tesoura para cortar o cordão umbilical, gaze e algodão. Toalhas e lençóis, por exemplo, não precisam ser esterilizados, já que nenhuma intervenção cirúrgica é feita.
Valentina nasceu perto das 10 horas da manhã. Durante o trabalho de parto, Vilma conversou com Claudia, fez massagens e, nos momentos de dor, passou segurança e tranqüilidade. Como acontece nos partos realizados em casa, a mãe não recebeu nenhum tipo de anestesia nem sofreu procedimentos invasivos. Durante o trabalho de parto, as parteiras indicam posições mais confortáveis, mas deixam a mãe à vontade para decidir onde e como quer ficar. "Nós transmitimos segurança e calma para que a mãe faça o seu papel", acredita Vilma.
"A Vilma ficou invisível na hora do parto. Ela dizia que era um momento meu, muito íntimo. Entrei em outra sintonia. Uma hora, na sala, fiquei de cócoras e a cabeça do bebê saiu. Em seguida, me deitei no chão e a Valentina nasceu", conta Claudia. Acompanhada por duas amigas, tudo correu muito bem, mas ela diz que sentiu muita, mas muita dor. E quanto aos preparativos, a coisa não saiu exatamente do jeito que imaginou. Ela havia comprado velas, incenso, escolhido músicas para o momento. "Tinha uma fantasia de como seria, mas na hora foi tudo mais visceral e a dor é muito grande", conta.
Valentina nasceu e foi para o colo da mãe. A musicista ficou o tempo que quis com ela, ainda ligada pelo cordão umbilical. Só depois é que o bebê foi pesado e medido. Claudia amamentou a filha, e Vilma só foi embora quando a mãe já se sentia segura. Depois, voltou nas duas semanas seguintes, quase que diariamente. Com o tempo, as consultas foram se tornando mais distantes.
Hoje, Claudia enxerga seu parto como um ritual e afirma ter saído fortalecida da experiência. "Existe um mito em torno do parto, mas ele pode ser muito mais simples do que a gente imagina. E tem mais: é uma experiência única, inigualável. Não vou dizer que não senti dor, senti, e muita, mas a recompensa, a sensação depois, é boa demais", conta.
Barreiras
Mas não são todas as mulheres que, mesmo após conhecer a parteira e se identificarem com o trabalho, têm o filho em casa. Muitas vezes elas sofrem críticas de familiares e amigos, e acabam sendo desestimuladas. "Na verdade, não culpo a família nem os amigos pelas desistências. O parto sempre foi e continua sendo um momento de insegurança para a mulher", relata Marília, que nasceu de parto em casa e auxiliou sua filha a ter os três netos também na residência.
A enfermeira-obstetra conta que a sociedade é tão preconceituosa que há casos de vizinhos que chamam a polícia quando a mãe decide ter o filho em casa. "O mundo ficou muito neurótico", afirma Marília. Quem critica o parto domiciliar afirma que, em caso de emergência, tanto a mãe quanto o bebê ficam desamparados. Mas, de acordo com Vilma, ao primeiro sinal de que algo pode dar errado, a mulher e o recém-nascido são levados rapidamente para um hospital próximo.
A jornalista Joanna Savaglia, mãe de Rodrigo e Marina, enfrentou de perto o preconceito. Quando estava grávida da Marina, foi atrás de informações sobre parto em casa. Ela conta que no parto do Rodrigo não estava bem-informada sobre as possibilidades e acabou fazendo no hospital.
No sétimo mês de gravidez, Joanna decidiu ter Marina em casa. "Meu marido era contra, mas estava fácil de convencê-lo." A situação mudou quando a jornalista contou para colegas de trabalho que iria ter a filha na própria residência. "Elas me acharam maluca. Minha chefe telefonou para o meu marido e disse que era uma doideira o que eu queria fazer", relata.
O pai ficou inseguro e, como Joanna queria tê-lo ao seu lado na hora do parto, optou pelo hospital. No entanto, procurou um meio-termo. O parto foi realizado em um hospital, mas com uma parteira. Mas o sonho de dar à luz em casa ainda não foi abandonado: "Quem sabe eu não tenho um terceiro filho?", termina.
CONSULTORIA
Dr. Luiz Fernando Pereira Leite, obstetra.Tel. (11) 5573-9987.
Marília Largura, enfermeira-obstetra. Tel. (61) 3233-9389.
Vilma Nishi, enfermeira-obstetra. Tel. (11) 8141-4653.
Fonte: REVISTA PAIS E FILHOS
Marcadores: humanização, parto, parto em casa
FONTE: Diário de Pernambuco
O parto natural tem sido cada vez mais reconhecido como uma opção segura às gestantes - desde que alguns cuidados sejam tomados. Internacionalmente, ele adquiriu respaldo e proteção da Organização Mundial da Saúde, que diz que apenas entre 10% e 20% dos partos precisam de intervenção clínica, e instituiu o 5 de
maio como o Dia Mundial da Parteira.
"A segurança no parto domiciliar tem sido discutida por sociedades médicas, de enfermagem e pelas gestantes. No Brasil, há resistência de uma parte dos profissionais de saúde, por temor de que sintomas imprevisíveis possam atrapalhar o trabalho de parto. Essa realidade se distancia do que é praticado em países como a Holanda, onde 40% dos partos são domiciliares", diz a médica obstetra Melania Amorim. Alguns números comprovam a afirmação. No ano passado, a revista especializada British Medical Journal (BMJ) publicou uma pesquisa feita na América do Norte com mais de 5 mil mulheres que tiveram parto natural. Destas, 12% precisaram ir a um hospital; 8,3% fizeram cesariana, e 0,17% bebês tiveram mortalidade perinatal.
Um bom começo para entender os prós e os contras do parto natural é ir às reuniões para casais e gestantes, promovidas semanalmente pela ONG Cais do Parto e pelo Instituto Nômades. A médica Leila Katz, que vem fazendo um trabalho de orientação em grupos como esses, diz que qualquer mulher que fez pré-natal, não teve nenhuma complicação na gravidez, e não apresentou doenças associadas (por exemplo, cardiopatia, hipertensão, hemorragia ou diabetes), pode ter um parto natural domiciliar. "Sou a favor do parto humanizado, não importa se natural ou clínico, no hospital ou em casa. Nele, a relação da mãe com o bebê se enriquece muito, na medida em que eles viveram esse processo. Isto é empoderar a mulher como protagonista, e isso começa na escolha do local e se ela quer ser acompanhada por um médico ou parteira", afirma Katz.
Ela também ressalta que, no parto domiciliar, é preciso prestar atenção a imprevistos, como alteração na pressão da gestante e na freqüência cardíaca do bebê. Caso aconteça, deve haver transferência imediata para o hospital. "Se for humanizado, mesmo o parto hospitalar não perde o que tem de natural. Isto
significa não partir direto para cesária, evitar estourar a bolsa, estimular a mulher a escolher a posição mais confortável e privilegiar os métodos não-farmacológicos, como massagens, banhos, e principalmente a presença do companhante", orienta a médica. (A.D.)
Serviço em RECIFE:
Associação das Parteiras de Jaboatão: 3251-3325
Cais do Parto: 3429-8661
Instituto Nômades: 3454-2505
[André Dib]
FONTE: Diário de Pernambuco
A recém-nascida Aishá ganhou o mundo na última terça, às 22h13, com 3,5 kg e 50 cm de altura. A bebê é saudável - e faminta por leite materno, diz a mãe, a jornalista Rosely Arantes. Aishá seria mais uma a nascer num hospital, não tivesse Rosely, após se informar em reuniões de gestantes, escolhido recebê-la na intimidade do lar. Rosely diz que a mulher deve ser protagonista do parto.
O parto natural, feito em casa com a condução de uma parteira, tem sido o único recurso para muitas mulheres de grupos sociais menos favorecidos, sujeitas a um deficiente sistema público de saúde - muitas vezes nem isso. A novidade é que mulheres como Rosely, que desaprovam a abordagem clínica adotada pela medicina convencional, recorrem ao parto natural não como uma necessidade, mas como uma opção. Apesar de haver algum receio de na hora H abrir mão da maternidade, essas mulheres enumeram mais vantagens do que revezes em sua escolha.
A antropóloga Júlia Morin, que deu a luz à pequena Maria há seis meses na sua própria casa, diz que adorou a experiência. "Foi maravilhoso. Nãotem ninguém querendo dar remédio. Tinha muita confiança na minha parteira, e isso ajudou muito". Quanto às dores da dilatação, ela afirma que foram amenizadas com algumas estratégias. "Fiquei em movimento para acelerar a dilatação, entrei em banheira com água quente. O pior é ficar deitada, porque as contrações doem mais", explica.
A veterinária Patrícia Menezes diz que escolheu ter o filho em casa porque não se sentiu bem no hospital, onde teve sua primeira filha. "Houve falta de atenção, de diálogo. Já ouvi relatos traumáticos de partos em hospitais públicos, e não quis sofrer com isso", explica Patrícia, atualmente no quarto mês de gestação. Mesmo assim, Patrícia não abriu mão do pré-natal e exames afins. "Não estou fechada para o
caso de impossibilidade. A vida é algo instável, mas a intenção é que tudo aconteça de forma natural".
Após se informar melhor sobre o assunto, Rosely virou partidária do protagonismo das gestantes: "Antes, a mulher percebia os sinais do corpo e respeitava a si no trabalho do parto. No hospital, somos obrigadas a nos submeter a medicações que aceleram as contrações, obrigando o organismo a trabalhar num tempo que não é atural. Tudo porque o hospital não tem tempo para esperar, o que quase sempre leva à cesária. Isto é um terrorismo velado. A gravidez é tratada como doença, é algo que as pessoas sempre dizem que vai piorar. É preciso estar muito certa e tranqüila com o que se quer, porque a pressão para ir ao hospital é muito grande".
No caso de Aishá, foram oito horas de trabalho de parto. "Foi doloroso, mas eu não me arrependo, porque foi muito saudável, muito bonito", conta Rosely. Para ela, o envolvimento dos amigos, irmãos, e até dos vizinhos, que poderiam encarar tudo com preconceito, foi essencial para manter a tranqüilidade. Assim como o papel da parteira, no caso, a experiente Dona Maria dos Prazeres, que do alto dos seus 68 nos e cinco mil partos, soube orientar Rosely de acordo com cada momento.
"Mantenho a tradição de minha mãe e de minha avó. Daqui a três anos, estou com 50 nos de trabalho, e me sinto realizada como parteira tradicional e hospitalar", diz Dona Prazeres, cuja autoridade no assunto a fez assumir a presidência da Associação as Parteiras de Jaboatão. Sua maior luta é pelos direitos trabalhistas das parteiras, garantidos por lei, mas nem sempre cumpridos. "É um trabalho árduo, que não tem nem aposentadoria, e todo trabalhador é digno de seu salário. O governo tem que ter a responsabilidade de pensar nisso", defende Dona Prazeres.
Marcadores: parteira, parto, parto em casa
Ministério da Saúde promove ações para humanização do parto e apoia parteiras
escrito por: Tricia em segunda-feira, maio 29, 2006 às 9:23 AM.
0 Comentários
Entre as medidas, estão a presença de acompanhante para a mãe e iniciativas para estimular a redução no número de cesáreas
Gestantes atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) ganharam o direito de escolher, entre amigos e parentes, alguém de sua confiança para estar presente na sala de parto e também no pós-parto. A medida faz parte de uma série de ações do Ministério da Saúde para melhorar a qualidade do atendimento às gestantes e humanizar os partos no país.
A portaria que regulamenta a Lei 11.108, de abril de 2005, foi assinada pelo ministro Saraiva Felipe durante a II Conferência Internacional sobre Humanização do Parto e Nascimento, no Rio de Janeiro, em dezembro, e estabeleceu um prazo de seis meses para que os hospitais adaptem suas instalações e procedimentos à nova regra.
“A presença do acompanhante é um direito de todas as mulheres da sociedade. O Ministério da Saúde trabalhou para que essa conquista acontecesse, porque entende a importância da humanização do parto. A lei parece pequena, mas é grandiosa: além de ser uma vitória da sociedade, irá proporcionar melhores condições na assistência obstétrica", afirma a diretora do Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas do Ministério da Saúde, Cristina Boaretto.
A presença de um acompanhante no período de parto e pós-parto é um dos fatores que contribuem para a humanização desse procedimento e que podem ajudar na redução do número de cesarianas. De acordo com 14 estudos científicos, nacionais e internacionais, realizados em mais de 5 mil mulheres, as gestantes que contaram com a presença de acompanhantes se sentiram mais seguras e confiantes durante o parto. Nessas circunstâncias, registrou-se também a redução da necessidade de medicações para alívio da dor, da duração do trabalho de parto e do número de cesáreas. Alguns estudos ainda sugerem a possibilidade dessa presença trazer outros efeitos a médio prazo, como a diminuição dos casos de depressão pós-parto.
“Durante o parto, o medo leva à tensão, que leva à dor, que leva a mais medo. A presença de uma pessoa de confiança da mulher transmite mais segurança durante o trabalho de parto”, garante Daphne Rattner, técnica especializada da área técnica da Saúde da Mulher, do Ministério da Saúde.
Caminhadas pelo corredor – A brasiliense Juliana Cristina atesta a experiência de ter tido um filho em ambiente com a presença de um acompanhante. Evelin nasceu no dia 21 de dezembro de 2005, no Hospital Materno-Infantil de Brasília, de parto normal. Juliana chegou à maternidade no dia 20, para uma consulta, mas, como o líquido amniótico (que envolve o bebê) havia diminuído de volume, foi logo internada. A avó fez companhia para Juliana, auxiliando-a a caminhar pelo corredor, para diminuir as dores que aumentavam a cada contração. Dona Josélia Maria da Conceição, de 60 anos, chorou quando viu a bisneta nascer. “Foi uma grande emoção”, lembra.
“O melhor foi que a presença da minha avó me fez sentir muito mais confiante e segura”, recorda Juliana. “Ela segurou minha mão o tempo todo, enquanto eu fazia força para minha filha nascer”, conta a moça, que já pensa em outra gravidez: “Gostaria que da próxima vez meu marido me acompanhasse. Acho que ele adoraria ver o nascimento do filho”.
Profissionais de saúde já constataram a relação entre a participação dos companheiros na assistência ao parto e a redução nos casos de violência familiar. Segundo esses especialistas, ao acompanhar o processo o homem começa a admirar e valorizar mais a companheira. Para especialistas, há um momento no pós-parto em que se estabelece o vínculo emocional entre mãe e filho e, se o pai participa, isso fortalece esse laço na família e desenvolve-se uma relação de respeito entre seus membros.
Daphne Rattner, especialista do Ministério da Saúde, explica que “nos partos cirúrgicos, em que raramente é permitido que o companheiro participe, perde-se a chance de viver essa experiência”.
Com os avanços da tecnologia, da medicina e dos diagnósticos nas últimas décadas, houve muitas mudanças na forma de atendimento aos partos. Medicamentos passaram a ser administrados mais freqüentemente e os protocolos ficaram cada vez mais rígidos quanto à permanência de pessoas que não são do corpo clínico durante o parto. Nessa situação, a mulher se sente sozinha, no meio de pessoas estranhas com as quais não tem qualquer intimidade. E em muitos hospitais as rotinas impõem aos bebês uma série de procedimentos antes que sejam levados, finalmente, à mãe.
Centros de parto normal – O Ministério da Saúde incentivou a partir de 2001 a abertura de 14 Centros de Parto Normal. O ambiente nesses locais procura proporcionar bem-estar às pacientes, com paredes coloridas e músicas relaxantes. Os quartos têm espaço suficiente para que a mulher se movimente à vontade, buscando posições que aliviem a dor e banheiros para que possa tomar banhos quentes e relaxantes – o que atenua a espera.
Os lanches podem ser servidos junto com as enfermeiras, obstetras e outros funcionários. Assim, as parturientes vão aos poucos ganhando intimidade com as pessoas que lhes ajudarão na hora do nascimento. Nesse momento, as mulheres podem optar por ter o parto na posição que lhes for mais confortável – até mesmo dentro d’água. O mais importante é que elas sempre têm por perto alguém de sua confiança, seja o companheiro, um familiar ou amigo.
Existem 14 Centros de Parto Normal. Sete funcionam fora de hospitais: em Itaiçaba (CE), Brasília (DF), Juiz de Fora (MG), Rio de Janeiro (RJ), duas unidades em Natal (RN) e São Paulo (SP). Outros sete desenvolvem suas atividades dentro de unidades hospitalares – em Pindoretama e Fortaleza (CE), Ceres (GO), Belo Horizonte (MG), dois em São Paulo capital e um em Itapecerica da Serra (SP).
Cesarianas demais
Nos últimos cinco anos, a taxa média de cesarianas nos hospitais que atendem pelos serviços públicos e privados ficou em torno de 40%, apesar de a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) ser de 15% O percentual corresponde à proporção média de casos em que o parto normal traria riscos para a mulher ou para o bebê, fazendo da cesariana uma intervenção necessária.
Os partos por cesariana podem influenciar a taxa de mortalidade entre mães e bebês. A cesárea é uma cirurgia, com todos os riscos de uma intervenção desse tipo e representa uma chance seis vezes maior de a mulher morrer do que com o parto é normal. A cesariana também aumenta a possibilidade de a parturiente contrair uma infecção ou sofrer uma hemorragia. Para os bebês, o risco de eles terem que ir para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) quadruplica. No caso dos nascidos de parto normal, esse índice é de 3% e pula para 12% entre os nascidos por cesariana.
Segundo médicos, o trabalho de parto exerce papel fundamental para o desenvolvimento dos pulmões das crianças. As contrações liberam substâncias que ajudam na maturação do pulmão do bebê e estimulam os movimentos de sucção, o que melhora qualidade da amamentação. Como, na maioria das vezes, a data das cesarianas é fixada levando em consideração apenas a conveniência do médico e da mãe, independentemente do início do trabalho de parto, muitas crianças nascem sem estar totalmente prontas, sem os pulmões plenamente capacitados.
Qualificação – O Ministério da Saúde está atento para o problema e atua em duas frentes. A primeira é a qualificação de profissionais para incentivar o parto normal. A Saúde promove cursos nas maternidades vinculadas ao SUS, para conscientizar esses profissionais para a necessidade de mudar práticas e humanizar partos. A Agência Nacional de Saúde (ANS), que regulamenta as operadoras de saúde, realiza encontros periódicos com médicos e gestores privados para informar sobre a necessidade de se diminuir o número de cesarianas. Em 2004, houve encontros dos técnicos do Ministério da Saúde com diretores, chefes de obstetrícia, de neonatologia e de enfermagem dos principais hospitais de referência de todos os estados, que atendem ao SUS.
Em 2005, o ministério promoveu (com o apoio das secretarias estaduais e municipais, organizações profissionais e organismos internacionais) os seminários de Qualificação na Atenção Obstetrícia e Neonatal Humanizados, com Base em Evidências Científicas. Reuniram-se maternidades de referência de Alagoas, Bahia, Distrito Federal, Paraíba, Pará, Paraná, Santa Catarina e Roraima. Os encontros se estenderão aos estados restantes neste ano. Ao todo, cerca 130 maternidades já tiveram seus funcionários qualificados. A previsão é capacitar profissionais de outras 300 instituições.
“A meta do Ministério da Saúde ao fim de 2006 é ter 420 equipes, para qualificar maternidades responsáveis por cerca de 70% dos nascimentos em hospitais públicos no Brasil”, prevê o coordenador do Pacto pela Redução da Mortalidade Materna e Neonatal do Ministério da Saúde, Adson França. Para ele, esses encontros servirão para mudar as práticas tradicionais de atendimento à gestante e ao bebê.
O parto normal também é estimulado em cursos para enfermeiras obstetras. Cerca de 1.500 profissionais já receberam qualificação. O ministério também tem investido na qualificação de doulas (mulheres que não são necessariamente parentes ou profissionais de saúde mas que trabalham como acompanhantes durante o parto). Foram treinadas 350 em 13 cursos.
O ministério também desenvolve, desde 2000, o programa Trabalhando com Parteiras Tradicionais. A iniciativa pretende melhorar a atenção ao parto domiciliar e busca sensibilizar os gestores do SUS e profissionais de saúde para que reconheçam as parteiras como parceiras e desenvolvam ações para apoiar e qualificar o trabalho. Até outubro deste ano, o programa capacitou 904 parteiras tradicionais e 549 profissionais de saúde.
Outra frente de atuação é o incentivo à redução das cesarianas. O Ministério da Saúde instituiu, em 2000, o Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento (PHPN), para assegurar acesso e qualidade do acompanhamento pré-natal, da assistência ao parto, pós-parto e neonatal.
O programa repassa incentivos financeiros a municípios e maternidades que ofereçam, em sua rede de serviços, atenção ao pré-natal, ao parto e a possíveis complicações obstétricas. O incentivo financeiro aumenta a cada ano. Em 2004, foram repassados R$ 24,8 milhões, o que representou um reajuste de 42% em relação ao ano de 2003. Ao todo, 4.951 cidades já aderiram ao programa, o que corresponde a 89% do total de municípios do país.
O Ministério da Saúde também trabalha na formulação do Pacto pela Redução da Cesárea Desnecessária, com previsão de lançamento até o final do primeiro semestre deste ano.
Fonte: Agência Sáude
Ministério da Saúde apóia parteiras
Programa do governo busca resgatar e valorizar esse trabalho e articular a atividade com o Sistema Único de Saúde
As parteiras são figuras muito importantes dentro da cultura popular brasileira. Ainda hoje essas mulheres têm papel essencial em muitas comunidades, principalmente em locais de difícil acesso e onde há carência de profissionais de saúde. O Ministério da Saúde reconhece o trabalho delas e criou o Programa Trabalhando com Parteiras Tradicionais, em março de 2000, para melhorar a assistência ao parto domiciliar.
O Trabalhando com Parteiras Tradicionais busca sensibilizar secretarias estaduais e municipais de Saúde e profissionais da área para desenvolverem ações de resgate, apoio e qualificação dessas mulheres. O programa faz parte das estratégias do Ministério da Saúde para reduzir o adoecimento e a morte dos recém-nascidos e das mães durante a gestação, parto e no período logo depois do parto. O Programa estimula a troca entre os saberes tradicionais e o técnico-científico. Também contribui para a produção de novos conhecimentos e tecnologias no setor da saúde.
O Ministério da Saúde entende que, em um país como o Brasil, com enorme diversidade cultural, geográfica e sócio-econômica, é necessária a adoção de diferentes formas de atenção à gestação, ao parto e ao recém-nascido. Nesse contexto, chama a atenção o grande número de nascimentos fora dos serviços de saúde. A Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS), realizada em 1996 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrava que cerca de 20% dos partos em áreas rurais e de difícil acesso aconteciam em casa e tinham a assistência de parteiras. Nas regiões ribeirinhas, áreas rurais, indígenas e quilombolas, o trabalho das parteiras muitas vezes é a única alternativa para as mulheres e os seus bebês. Deve-se mencionar que a maior parte das pessoas que se dedicam a essa atividade trabalha voluntariamente, movida por um sentimento de solidariedade.
Na esfera pública, é responsabilidade do Sistema Único de Saúde (SUS) promover a melhoria da assistência ao parto domiciliar. As secretarias estaduais e municipais de saúde devem realizar a articulação do trabalho das parteiras com os serviços de saúde locais, principalmente com as equipes de Saúde da Família. Entre as ações que devem ser realizadas estão: fazer o levantamento da situação do parto domiciliar em sua região, realizar o cadastramento e a capacitação dessas mulheres, além de adquirir e distribuir o kit da parteira (com materiais básicos para a realização do parto domiciliar).
Desde o início do Programa Trabalhando com Parteiras Tradicionais, em 2000, até 2005, já foram alcançados resultados como a capacitação de aproximadamente 1.170 mulheres e 570 profissionais de saúde. Também houve aumento no reconhecimento de situações de risco pelas parteiras, com encaminhamentos oportunos para os serviços do SUS. Treze estados participam do programa: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Roraima, Alagoas, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Bahia, Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais.
Uma das estratégias desenvolvidas pelo Programa é a troca de saberes entre os profissionais de saúde e as parteiras para garantir condições seguras para o parto domiciliar. Segundo o Ministério da Saúde, as mulheres que auxiliam o parto enfrentam muita discriminação, preconceitos e proibições por parte dos profissionais de saúde. Entretanto, em geral, seu trabalho é reconhecido e respeitado em sua comunidade. “Gestores e profissionais precisam abandonar o preconceito. Muitos dos princípios atualmente preconizados para a humanização do parto e nascimento já se encontram presentes na prática da parteira tradicional”, afirma Isa Paula Abreu, técnica do Programa Saúde da Mulher do Ministério da Saúde.
Troca de saber – O Ministério da Saúde reforça que, embora muitas das parteiras apresentem baixo ou nenhum nível de escolaridade, elas revelam outras aptidões adquiridas com a prática, com a observação e com os ensinamentos transmitidos ao longo de gerações. Essas mulheres costumam se reunir e trocar experiências. As mais velhas procuram passar o que consideram importante às novatas.
Moradora de Jaboatão dos Guararapes (PE), Maria do Carmo dos Santos, conhecida como Dona Chica, de 53 anos, trabalha há 28 como parteira. “Com apenas um toque eu consigo saber se o bebê está em uma posição difícil para sair ou se o parto acontecerá tranqüilamente”, revela. Sua filha, Regiane Maria da Silva, de 37 anos, também resolveu seguir o caminho da mãe. “Eu sempre quis aprender como fazer o parto. Desde cedo eu via minha mãe trabalhando e ficava curiosa. Sentia muita vontade de ajudar as mulheres da minha região”, lembra Regiane.
Nas capacitações promovidas pelo Ministério da Saúde, as parteiras relatam como desenvolvem seu trabalho, falam sobre as dificuldades que enfrentam e trocam conhecimentos com os profissionais de saúde. Nessas ocasiões, são orientadas, por exemplo, a reconhecer as situações de risco na gestação e no parto, para realizarem encaminhamentos aos serviços de saúde. Além disso, recebem informações sobre como esterilizar a tesoura utilizada para cortar o cordão umbilical e sobre a importância de lavar as mãos e usar luvas. “Quando vejo que o bebê não quer sair, sei que não tenho mais como ajudar. Nessa hora, o melhor é procurar um atendimento médico”, conta Dona Chica, que também estimula as gestantes de sua comunidade a buscar o pré-natal.
Para Isa Paula Abreu, do Ministério da Saúde, as autoridades podem contribuir para proporcionar melhores condições para que as parteiras exerçam sua atividade. “O trabalho dessas mulheres não é fácil. Para atender à comunidade, elas viajam longas distâncias, em qualquer hora do dia ou da noite, a pé ou de barco. Também têm de atuar em condições de higiene precárias e em certos lugares onde nem mesmo há água ou energia elétrica”, afirma Isa Paula.
Livro fala das técnicas das parteiras
O Ministério da Saúde elaborou duas publicações em parceria com a ONG Grupo Curumim Gestação e Parto para apoiar a capacitação de parteiras e de profissionais de saúde. São elas: O “Livro da Parteira”, com um conteúdo rico em ilustrações explicativas para que o material possa ser compreendido por mulheres que, em sua maioria, não sabem ler; e o manual “Trabalhando com Parteiras Tradicionais”, voltado para os profissionais de saúde, com sugestão de técnicas apropriadas para a educação popular e orientações sobre como organizar oficinas de capacitação.
Outra ação importante que deve ser desenvolvida por secretarias estaduais e municipais de Saúde é a aquisição e distribuição de kits de trabalho. Esses kits devem conter materiais básicos para a realização do parto domiciliar como tesoura, gaze, álcool, luvas, sabão, escovinha de unha e lanterna com pilhas.
Fonte: Agência Saúde
http://guiadobebe.uol.com.br/novidades/ministerio_da_saude_apoia_parteiras.htm
Ministro lança Campanha Nacional de incentivo ao parto normal
Ministro lança Campanha Nacional de Incentivo ao Parto Normal
[30 Maio 10h12min 2006]
O ministro da Saúde, Agenor Álvares, lança a Campanha Nacional de Incentivo ao Parto Normal e Redução da Cesárea, às 11h30, no auditório Emílio Ribas, do ministério. Na mesma cerimônia, será apresentado o balanço do Pacto Nacional pela Redução da Mortalidade Materna e Neonatal, firmado em 2004. Também haverá o lançamento da Agenda da Mulher, cartilha destinada à população feminina brasileira com mais de 10 anos de idade, e da quinta edição do Prêmio Nacional Professor Galba de Araújo.
Para marcar o Dia Mundial de Luta pela Humanização do Parto, comemorado nesta terça, o Movimento pela Valorização das Parteiras Tradicionais abre a exposição fotográfica Mães da Pátria, no corredor de acesso ao plenário da Câmara dos Deputados. A mostra fica aberta até 14 de junho.
De acordo com dados de 2004 do ministério, 41,8% dos partos realizados no Brasil foram cirúrgicos. A campanha visa a conscientizar a gestante para os benefícios do parto normal com a distribuição de cerca de 90 mil cartazes e de 3 milhões de folhetos em todo o país. O público-alvo são mulheres grávidas e profissionais dos serviços de saúde públicos e privados que trabalham no setor de obstetrícia.
Campanha nacional quer diminuir em 5% as cesarianas
O Ministério da Saúde lança nesta terça uma campanha nacional para incentivar a realização de partos normais e reduzir as cesarianas desnecessárias
[30 Maio 11h57min 2006]
Uma campanha nacional para incentivar a realização de partos normais e reduzir as cesarianas desnecessárias será lançada nesta terça (30), em Brasília, pelo Ministério da Saúde. Dados de 2004 do Sistema de Nascidos Vivos (Sinasc) do ministério apontam que cerca de 42% dos partos realizados em todo o país foram cesarianas, ou seja, cirúrgicos. A proposta da campanha é diminuir em 5% o número de partos cirúrgicos em todo o país.
Em entrevista à TV NBR, da Radiobrás, a coordenadora da Campanha Nacional de Incentivo ao Parto Normal e Redução da Cesárea Desnecessária, Maria José Oliveira Araújo, disse que as pesquisas científicas da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam o parto normal como o ideal para a maioria das mulheres.
Segundo a coordenadora, o parto normal ajuda a mulher a se vincular mais rapidamente ao bebê e diminui os riscos de hemorragias, infecções, coágulos que podem se descolar e ir para órgãos importantes, como o pulmão e o coração. Para o bebê, também há benefícios. As crianças que nascem de parto normal correm menos risco de serem prematuras e terem problemas respiratórios.
Um dos argumentos mais utilizados para que as mulheres prefiram as cirurgias é a questão da dor. Maria José Oliveira Araújo explica que o Ministério da Saúde paga aos hospitais a anestesia do parto normal, que ajuda a reduzir o desconforto. Ela lembrou ainda que a presença de um acompanhante na hora do parto é um direito da mulher, regulamentado pela Lei 11.080, da senadora Ideli Salvatti.
A lei garante a presença de um acompanhante da escolha da mulher antes, durante e depois do parto, tanto nos hospitais públicos quanto nos privados. Os hospitais têm até julho deste ano para cumprirem a lei. "Além disso, está provado cientificamente que as mulheres que têm acompanhantes durante o trabalho de parto, uma pessoa que possa lhe ajudar a reduzir a dor, reduzem também o tempo do trabalho de parto", diz a coordenadora do ministério.
"Nós encontramos hospitais privados que têm 90% de cesáreas. Isso é um absurdo, não pode acontecer. É evidente que têm hospitais que recebem mulheres em estados mais graves, que nós consideramos de alto risco. Agora, não há razão de um hospital, público ou privado, ter um índice de cesárea de 81%."
A preferência pela cesariana também seria uma questão cultural no Brasil. Muitos profissionais estimulariam as mulheres a realizar o parto cirúrgico com promessas de que elas vão sentir menos dor e não terão alargamento vaginal. A possibilidade de fazer laqueadura de trompas na mesma cirurgia, prática proibida por lei, também motivaria a opção pela cesárea.
"É toda uma cultura, nós temos profissionais de saúde que acreditam que a cesárea é melhor, eles não têm tempo, por causa da quantidade de empregos, para ficar cuidando das mulheres, então é um ciclo, são vários fatores", destaca Maria José Oliveira Araújo.
Agência Brasil
FONTE: Noolhar.com.br
Por Marie Woolf and Sophie Goodchild
Published: 14 May 2006
Gestantes serão orientadas a dar a luz em casa, como parte de uma revolução na politica de parto e nascimento, essa medida promete reverter décadas de convenção médica.
Patricia Hewitt, Secretária de Saúde da Inglaterra, está desafiando a preconceito que prevalece desde os anos 70, de que o local mais seguro para se dar a luz é nos hospitais e que o parto domiciliar é perigoso.
A declaração tem sido considerada como o primeiro passo para uma mudança histórica na politica do nascimento, pois médicos serão orientados a oferecer a todas as gestantes a chance de dar a luz em suas residências com a assistência de uma obstetriz e essas mulheres poderão ter suas próprias opções pra o alivio da dor.
The Independent - edição de domingo, pode hoje revelar que o Governo britânico está planejando uma mudança estratégica na política do parto e nascimento afim de se distânciar dos hospitais e fomentar os partos no aconchego do lar. O governo tem incentivado pesquisas sobre partos em casa e desafiando a presunção de que partos devem acontecer nos hospitais. A Secretária da Saúde quer “desmedicalizar” a gestação e desafiar o pré-conceito de que um parto deve ser realizado somente sob a supervisão de um médico.
“Essa mudança estratégica em direção á mais partos domiciliares faz parte de uma mudança do Governo que prevê mais serviços de saúde no seio da Comunidade e à domicilio, e longe da urgência dos hospitais” afirma uma fonte no Departamento de Saúde. O movimento vem ao mesmo tempo que novas estatísticas revelam que mais de 200 mil mulheres, um terço de todas que dão a luz todo ano, sofrem de algum distúrbio psicológico após o parto. A Sra Hewitt pretende “empoderar” as mulheres para que elas façam suas próprias opções de como quer ter seus bebês. “Eu quero que todas as mulheres tenham a opção de ter seus filhos em casa, e que possam optar por uma forma de amenizar a dor” afirma.
Andrew Lansley, porta-voz do Partido Conservador, questionou se existem Obstetrizes suficientes a realisação de mais partos domiciliares.
Maureen Treadwell, fundadora da Associação de Traumas no Nascimento, declara que as necessidades da parturiente devem ser levadas em conta. “Um grande número de mulheres tem tido stresses profundos em relação ao seu parto. As mulheres não devem ser desencorajadas a ter um parto domiciliar se elas não apresentam nenhum quadro de risco assim como as que decidem dar a luz em um hospital” afirma.
Uma nova pesquisa, prevista para ser publicada no final deste ano, deverá constatar que houveram poucas mudanças na forma com que as parturientes tem sido tratadas no decorrer das últimas décadas. A autora deste estudo, Dr Caroline Gatrell, Socióloga da Universidade de Lancaster, afirma:”assim que você cruza a porta de um hospital, as chances de uso de fórceps são muito maiores e você tem bem menos mobilidade, o que aumenta ainda mais o stress. Essa estória toda tem que ser sobre opção.”
Cerca de 47% das mulheres na Inglaterra e 38% na Escócia tem dado a luz sem intervenções médicas. No entanto, grupos que defendem a prática acreditam que mais de 70% podem dar a luz de modo seguro em casa.
“O movimento de entrada nos hospitais na década de 70 e a crença de que partos domiciliares são perigosos foram baseados em estatísticas incorretas, e estão chegando ao fim,” afirma Belinda Phipps, chefe executiva do Trust Nacional de Nascimento e Parto. “Levaram décadas para que este problema seja levado á sério mesmo se as evidências que o parto domiciliar é tão ou mais seguro que o parto hospitalar tem se acumulado ao longo dos anos.”
Mavis Kirkham, professora de Enfermagem Obstétrica da Universidade de Sheffield, afirma:”Nós passamos por algumas gerações ouvindo que somente os hospitais são seguros e que coisas terríveis podem acontecer em casa, mas quando uma mulher conhece uma outra mulher que teve um parto em casa e que está feliz, você vê mais mulheres escolhendo o parto domiciliar”. Pesquisas preliminares desenvolvidas pelo Instituto Nacional de Saúde e Exelêcia Clinica Britânico mostra que mulheres que dão a luz em casa se sentem mais satisfeitas com a experiênica do que aquelas que dão a luz em salas de parto hospitalares.
http://news.independent.co.uk/uk/health_medical/article448999.ece
(tradução: Tricia Cavalcante e Paloma Terra)