Quanto mais natural, melhor


escrito por: Tricia em terça-feira, maio 30, 2006 às 9:26 AM.

Mulheres de classe média optam pelo parto em casa por desaprovarem a abordagem clínica e muitas vezes apressada dos hospitais
[André Dib]

FONTE: Diário de Pernambuco

A recém-nascida Aishá ganhou o mundo na última terça, às 22h13, com 3,5 kg e 50 cm de altura. A bebê é saudável - e faminta por leite materno, diz a mãe, a jornalista Rosely Arantes. Aishá seria mais uma a nascer num hospital, não tivesse Rosely, após se informar em reuniões de gestantes, escolhido recebê-la na intimidade do lar. Rosely diz que a mulher deve ser protagonista do parto.

O parto natural, feito em casa com a condução de uma parteira, tem sido o único recurso para muitas mulheres de grupos sociais menos favorecidos, sujeitas a um deficiente sistema público de saúde - muitas vezes nem isso. A novidade é que mulheres como Rosely, que desaprovam a abordagem clínica adotada pela medicina convencional, recorrem ao parto natural não como uma necessidade, mas como uma opção. Apesar de haver algum receio de na hora H abrir mão da maternidade, essas mulheres enumeram mais vantagens do que revezes em sua escolha.

A antropóloga Júlia Morin, que deu a luz à pequena Maria há seis meses na sua própria casa, diz que adorou a experiência. "Foi maravilhoso. Nãotem ninguém querendo dar remédio. Tinha muita confiança na minha parteira, e isso ajudou muito". Quanto às dores da dilatação, ela afirma que foram amenizadas com algumas estratégias. "Fiquei em movimento para acelerar a dilatação, entrei em banheira com água quente. O pior é ficar deitada, porque as contrações doem mais", explica.

A veterinária Patrícia Menezes diz que escolheu ter o filho em casa porque não se sentiu bem no hospital, onde teve sua primeira filha. "Houve falta de atenção, de diálogo. Já ouvi relatos traumáticos de partos em hospitais públicos, e não quis sofrer com isso", explica Patrícia, atualmente no quarto mês de gestação. Mesmo assim, Patrícia não abriu mão do pré-natal e exames afins. "Não estou fechada para o
caso de impossibilidade. A vida é algo instável, mas a intenção é que tudo aconteça de forma natural".

Após se informar melhor sobre o assunto, Rosely virou partidária do protagonismo das gestantes: "Antes, a mulher percebia os sinais do corpo e respeitava a si no trabalho do parto. No hospital, somos obrigadas a nos submeter a medicações que aceleram as contrações, obrigando o organismo a trabalhar num tempo que não é atural. Tudo porque o hospital não tem tempo para esperar, o que quase sempre leva à cesária. Isto é um terrorismo velado. A gravidez é tratada como doença, é algo que as pessoas sempre dizem que vai piorar. É preciso estar muito certa e tranqüila com o que se quer, porque a pressão para ir ao hospital é muito grande".

No caso de Aishá, foram oito horas de trabalho de parto. "Foi doloroso, mas eu não me arrependo, porque foi muito saudável, muito bonito", conta Rosely. Para ela, o envolvimento dos amigos, irmãos, e até dos vizinhos, que poderiam encarar tudo com preconceito, foi essencial para manter a tranqüilidade. Assim como o papel da parteira, no caso, a experiente Dona Maria dos Prazeres, que do alto dos seus 68 nos e cinco mil partos, soube orientar Rosely de acordo com cada momento.

"Mantenho a tradição de minha mãe e de minha avó. Daqui a três anos, estou com 50 nos de trabalho, e me sinto realizada como parteira tradicional e hospitalar", diz Dona Prazeres, cuja autoridade no assunto a fez assumir a presidência da Associação as Parteiras de Jaboatão. Sua maior luta é pelos direitos trabalhistas das parteiras, garantidos por lei, mas nem sempre cumpridos. "É um trabalho árduo, que não tem nem aposentadoria, e todo trabalhador é digno de seu salário. O governo tem que ter a responsabilidade de pensar nisso", defende Dona Prazeres.

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Tricia Cavalcante: Doula na Tradição, formada pela ONG Cais do Parto, mãe de três, e doula pós-parto.Moro em Fortaleza-CE.


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