Desde o início da minha gravidez, hoje estou com 26 semanas, que corresponde mais ou menos ao sexto mês, tenho procurado ler bastante sobre o assunto, conversar com outras mães, ouvir suas histórias, e tenho notado que mesmo vivendo na era da informação, a comunicação é truncada, a maioria das pessoas não tem curiosidade, outras não têm acesso ao conhecimento, o que torna as mães completamente passivas na hora do parto.
E isso se aplica a tudo na vida, se não nos informamos propriamente sobre nossos direitos, não temos como ter voz, como ter força ativa na sociedade, simplesmente comemos o mesmo prato frio e sem sal jogado na mesa, sem contestar.
Antigamente, os partos costumavam acontecer nas próprias casas, com parteiras e várias gerações da família, bisavós, avós e mães, que se ajudavam mutuamente. Com a industrialização do parto, o nascimento que era considerado um evento social-familiar, passa a ser considerado um processo médico-hospitalar. Não quero com isso ignorar os avanços da medicina, dos procedimentos cirúrgicos e das quedas na mortandade entre mães e crianças, gostaria sim, é de compartilhar algumas informações e sugerir algum tipo de reflexão a respeito.
Dados da Organização Mundial de Saúde afirmam que somente 15% das mulheres necessitam de alguma intervenção na hora do parto, mas os números das maternidades do Rio de Janeiro mostram que as intervenções realizadas diariamente estão bem acima da média. O número de cesáreas feitas nas redes pública e privada é de 40%, e esse número fica obsceno quando consideramos somente a rede privada, vai para 80%.
Perdendo agora somente para o Chile, o Brasil sempre foi o campeão de cesáreas no mundo. Aqui, os partos ditos “normais”, estão cada vez mais sendo considerados anormais e incomuns.
Poderíamos dizer que entre os motivos mais recorrentes estão a dupla: tempo e dinheiro. Obstetras, principalmente os particulares, não costumam esperar as 12 horas de trabalho de parto. Se a mulher é internada muito cedo, eles acabam induzindo o parto, provocando o aumento da intensidade das contrações, e é como se o trem fosse arrancado dos trilhos, depois da primeira intervenção, várias outras se fazem necessárias, com o aumento da dor, vem a anestesia, que acaba interrompendo o processo natural e tudo termina numa rápida e prática cesárea de não mais que 30 minutos: corta, tira a criança e costura a mãe.
Mas existe um grande movimento, iniciado por mães, obstetras humanizados, enfermeiras-obstetras e doulas, que contestam essa prática. A idéia básica é que o obstetra só deve intervir se houver necessidade, fora isso, ele deve deixar o processo do parto transcorrer da forma mais natural possível. Por outro lado, existem todas as idéias do parto humanizado, que é menos traumático para o bebê e que gera seres humanos mais tranqüilos e saudáveis.
Depois de dar à luz numa cama inclinada, Valdilane amamenta sua filha
O obstetra francês Leboyer, que escreveu Nascer Sorrindo, fala da importância de um parto sem violência, com luz baixa, silêncio e amamentação precoce. Janet Balaskas, que escreveu Parto Ativo, nos conta que a primeira vez que um parto foi realizado em posição horizontal e numa maca hospitalar, foi para matar a curiosidade de um aristocrata europeu e para conforto da equipe médica. Bem, eu acho que nesta hora difícil de dor e introspecção, quem mais precisa de conforto é a mãe e não a equipe médica. Além do mais, a posição vertical na hora de parir conta com ajuda da gravidade e a posição de cócoras, tão comum entre as índias, proporciona 30% a mais de abertura para o bebê passar, o que diminui muito a intervenção chamada episiotomia, o corte que se faz (infelizmente também de rotina) na região do períneo.
Para a sorte das moradoras de Realengo, lá existe a Casa de Parto David Capistrano Filho, uma maternidade nos moldes humanizados, com tudo que uma parturiente tem direito, principalmente a liberdade de ir e vir durante o trabalho de parto, porque não dá para ficar deitada numa maca durante 12 horas seguidas sentindo dor. Lá, as mulheres podem caminhar, se alongar, tomar banhos quentes e escolher a melhor posição para parir, seja numa banheira, numa cadeira de cócoras ou até de quatro.
Também na Maternidade Alexander Fleming, em Marechal Hermes, um grupo de enfermeiras-obstetras atua pela humanização do parto. A repórter Gisele Netto e eu estivemos lá em 2003 para produzir uma série de reportagens para o site Beleza Pura, que continuam super atuais: Polêmica que é um parto e Parto humanista na prática.
Bem, são tantas coisas para dizer que este texto poderia não ter mais fim, mas deixo aqui alguns sites para ajudar na pesquisa das futuras mamães:
www.partohumanizado.com.br
www.amigasdoparto.com.br
www.casasdeparto.com.br
Sandra Delgado é fotógrafa e Editora de Fotografia do Portal Viva Favela
FONTE:Portal Viva Favela
E isso se aplica a tudo na vida, se não nos informamos propriamente sobre nossos direitos, não temos como ter voz, como ter força ativa na sociedade, simplesmente comemos o mesmo prato frio e sem sal jogado na mesa, sem contestar.
Antigamente, os partos costumavam acontecer nas próprias casas, com parteiras e várias gerações da família, bisavós, avós e mães, que se ajudavam mutuamente. Com a industrialização do parto, o nascimento que era considerado um evento social-familiar, passa a ser considerado um processo médico-hospitalar. Não quero com isso ignorar os avanços da medicina, dos procedimentos cirúrgicos e das quedas na mortandade entre mães e crianças, gostaria sim, é de compartilhar algumas informações e sugerir algum tipo de reflexão a respeito.
Dados da Organização Mundial de Saúde afirmam que somente 15% das mulheres necessitam de alguma intervenção na hora do parto, mas os números das maternidades do Rio de Janeiro mostram que as intervenções realizadas diariamente estão bem acima da média. O número de cesáreas feitas nas redes pública e privada é de 40%, e esse número fica obsceno quando consideramos somente a rede privada, vai para 80%.
Perdendo agora somente para o Chile, o Brasil sempre foi o campeão de cesáreas no mundo. Aqui, os partos ditos “normais”, estão cada vez mais sendo considerados anormais e incomuns.
Poderíamos dizer que entre os motivos mais recorrentes estão a dupla: tempo e dinheiro. Obstetras, principalmente os particulares, não costumam esperar as 12 horas de trabalho de parto. Se a mulher é internada muito cedo, eles acabam induzindo o parto, provocando o aumento da intensidade das contrações, e é como se o trem fosse arrancado dos trilhos, depois da primeira intervenção, várias outras se fazem necessárias, com o aumento da dor, vem a anestesia, que acaba interrompendo o processo natural e tudo termina numa rápida e prática cesárea de não mais que 30 minutos: corta, tira a criança e costura a mãe.
Mas existe um grande movimento, iniciado por mães, obstetras humanizados, enfermeiras-obstetras e doulas, que contestam essa prática. A idéia básica é que o obstetra só deve intervir se houver necessidade, fora isso, ele deve deixar o processo do parto transcorrer da forma mais natural possível. Por outro lado, existem todas as idéias do parto humanizado, que é menos traumático para o bebê e que gera seres humanos mais tranqüilos e saudáveis.
Depois de dar à luz numa cama inclinada, Valdilane amamenta sua filha
O obstetra francês Leboyer, que escreveu Nascer Sorrindo, fala da importância de um parto sem violência, com luz baixa, silêncio e amamentação precoce. Janet Balaskas, que escreveu Parto Ativo, nos conta que a primeira vez que um parto foi realizado em posição horizontal e numa maca hospitalar, foi para matar a curiosidade de um aristocrata europeu e para conforto da equipe médica. Bem, eu acho que nesta hora difícil de dor e introspecção, quem mais precisa de conforto é a mãe e não a equipe médica. Além do mais, a posição vertical na hora de parir conta com ajuda da gravidade e a posição de cócoras, tão comum entre as índias, proporciona 30% a mais de abertura para o bebê passar, o que diminui muito a intervenção chamada episiotomia, o corte que se faz (infelizmente também de rotina) na região do períneo.
Para a sorte das moradoras de Realengo, lá existe a Casa de Parto David Capistrano Filho, uma maternidade nos moldes humanizados, com tudo que uma parturiente tem direito, principalmente a liberdade de ir e vir durante o trabalho de parto, porque não dá para ficar deitada numa maca durante 12 horas seguidas sentindo dor. Lá, as mulheres podem caminhar, se alongar, tomar banhos quentes e escolher a melhor posição para parir, seja numa banheira, numa cadeira de cócoras ou até de quatro.
Também na Maternidade Alexander Fleming, em Marechal Hermes, um grupo de enfermeiras-obstetras atua pela humanização do parto. A repórter Gisele Netto e eu estivemos lá em 2003 para produzir uma série de reportagens para o site Beleza Pura, que continuam super atuais: Polêmica que é um parto e Parto humanista na prática.
Bem, são tantas coisas para dizer que este texto poderia não ter mais fim, mas deixo aqui alguns sites para ajudar na pesquisa das futuras mamães:
www.partohumanizado.com.br
www.amigasdoparto.com.br
www.casasdeparto.com.br
Sandra Delgado é fotógrafa e Editora de Fotografia do Portal Viva Favela
FONTE:Portal Viva Favela
Marcadores: humanização, maternidades, parto, sus
0 Respostas a “Mãe sã, mente ativa”