Amamentação solidária


escrito por: Débora, em domingo, fevereiro 11, 2007 às 1:39 PM.


O trabalho anônimo de mulheres como a dona de casa Elisandra Simões e a enfermeira Joana Kuzuhara faz o leite materno chegar a quem precisaPor Thais Lazzeri




Mães, médicos, enfermeiras e até bombeiros trabalham juntos na manutenção dos 187 bancos de leite humano públicos do Brasil. Trabalho árduo, se considerarmos os baixos índices de aleitamento do país. O esforço coletivo, que permite aos bebês de mães que não podem amamentar ter as vantagens do leite materno, é encabeçado pela doadora, que coleta o líquido em casa, e termina ao chegar ao banco, onde é pasteurizado e congelado. Parece simples, mas exige tempo e boa vontade. Enquanto as doadoras intercalam os cuidados do recém-nascido com o processo de bombear os seios, se não fosse pelos profissionais de saúde, o esforço seria em vão. Além de tratar do leite, eles lutam para disseminar a informação, na esperança de aumentar o estoque dos bancos. A seguir, conheça duas histórias dos bastidores da doação de leite materno. A da dona de casa Elisandra Simões, doadora, e da enfermeira Joana Kuzuhara, supervisora técnica do banco do Hospital e Maternidade Leonor Mendes de Barros, Centro de Referência do Estado de São Paulo.

A doadora

Doar leite faz parte da história da família da dona de casa Elisandra Simões há gerações. Mas até amamentar o próprio filho, Rafael, de 6 meses, ela desconhecia o fato. Certo dia, enquanto dava de mamar ao bebê, a mãe lhe perguntou: "Por que você não doa o que sobra para um banco de leite?". Ela não sabia que havia instituições desse tipo. "Ninguém me disse nada na gravidez, nem na maternidade onde meu filho nasceu", afirma. A avó do bebê havia sido doadora nos anos 80, por isso, aconselhou a filha a seguir o exemplo. As palavras da mãe convenceram Elisandra facilmente. "Alguém precisa do seu leite, ela dizia para mim." Com o telefone do banco de leite em mãos, que encontrou na internet, ela fez o primeiro contato. O retorno foi receptivo e, menos de uma semana depois, Rafael já tinha irmãos de leite.Parece simples, mas não é. Seria muito mais fácil terminar as mamadas (cerca de cinco por dia), brincar com Rafael ou colocá-lo no berço e aproveitar o intervalo para descansar. Mas Elisandra sabe que seu leite pode ajudar outros bebês. Por isso, a rotina é diferente: após o aleitamento, prepara-se para tirar o leite que será doado. A higienização é rigorosa: ela prende o cabelo, põe uma touquinha, limpa as mamas, coloca luvas e máscara no rosto. As luvas não são exigência dos bancos, mas Elisandra faz questão. Depois retira o excesso de leite manualmente - ela mesma ordenha os seios com as mãos - e despeja o líquido dentro de um frasco esterilizado, fornecido pelo banco. O pote é armazenado no freezer de casa até ser recolhido pelo Corpo de Bombeiros, que faz a coleta uma vez por semana. Atenciosa, a doadora usa ainda conchas em ambos os seios, por baixo do sutiã, para armazenar o líquido que vasa naturalmente.
A doadora Elisandra Simões é cautelosa: máscara e touca ao armazenar o leite
Apenas elogios

Há três meses a doação faz parte da rotina diária de Elisandra. São sete frascos de 500 ml por semana. Claro que, muitas vezes, ela acha todo o processo cansativo e, como ser humano, sente preguiça vez ou outra. Mas o senso de cidadania sempre fala mais alto. Não se trata apenas de doar leite - mas também de um ato de amor. "Li bastante sobre a importância da amamentação enquanto estava grávida. Se meu filho tem esse direito, por que não dar a mesma chance a outros? Fico com pena de jogar tanto leite fora", diz.Exceto pelo elogio de amigos e parentes próximos, Elisandra permanece anônima. Como outras doadoras, não ganha nada por isso. Até 1985, ano em que foram estabelecidas normas para a doação de leite humano no país, as voluntárias eram recompensadas com roupas e alimentos. Qualquer tipo de remuneração foi proibido desde então. Apesar do trabalho que dá, Elisandra sequer se vangloria pela iniciativa. "Faço com o maior carinho, pelas mães e pelos bebês" diz, sem se dar conta de que seu gesto pode estar salvando vidas.

A que faz chegarDos 14 anos de trabalho da enfermeira Joana Kuzuhara no Hospital e Maternidade Leonor Mendes de Barros, em São Paulo, 12 foram dedicados ao Banco de Leite Humano da instituição. A supervisora da equipe não está no mesmo setor há tanto tempo por acaso. Ela se interessa pelo assunto desde a faculdade, na década de 80. Na época, não existia disciplina que tratasse de amamentação, quanto mais informação sobre bancos de leite. A enfermeira foi testemunha das transformações pelas quais o banco passou. Em 1982, quatro profissionais se revezavam para cobrir todas as funções. A pessoa encarregada de atender o telefone era a mesma que pasteurizava o leite. Cerca de 20 anos depois, a equipe praticamente quintuplicou - tem 22 profissionais. A ala destinada ao banco também aumentou, assim como o trabalho.Além de supervisionar o tratamento do leite, Joana cuida da atualização profissional dos demais bancos do Estado. Mas não se restringe ao serviço burocrático. Vez ou outra, faz também as vezes de psicóloga. Seja atendendo a mãe que não consegue amamentar, seja incentivando as que pensam em desistir.A amamentação, para ela, é uma bandeira. Talvez por isso não se importe com o anonimato. Sua recompensa são bochechas gordinhas e olhares de mães agradecidas. Mérito? Na opinião dela, é das doadoras. "São pessoas excepcionais, que precisam ser valorizadas por esse ato de amor", diz. Ela própria já promoveu emocionados encontros entre doadoras e receptoras com esse objetivo. "Aproximei pessoas que jamais vão esquecer do bem que fizeram umas às outras."
Próxima etapaApesar dos obstáculos já vencidos, a enfermeira sabe que ainda tem muitos desafios pela frente. "A gente se esforça tanto, divulgando e espalhando cartazes, mas a maioria das mães desconhece o serviço. Não temos fundos para fazer uma campanha maior", afirma, com indignação. Na maternidade em que trabalha, folhetos são distribuídos para todas as mulheres que acabaram de dar à luz. São cerca de 120 orientações a pacientes internas e 20 externas. Por telefone, mais de 100 mulheres são atendidas. Mesmo assim, um abismo separa os bancos de leite e as potenciais doadoras Brasil afora. No Leonor Mendes de Barros, por exemplo, existem cerca de 30 voluntárias. Elas doam aproximadamente 90 litros por mês. Neste mesmo banco é pasteurizado leite humano proveniente de mais dois locais, resultando em 105 litros coletados, prontos para o consumo. Mas, somente para abastecer a demanda interna da instituição, seria necessário o dobro.Graças a pessoas como Joana, o alimento mais completo do mundo, o leite materno, chega até bebês prematuros ou filhos de mulheres que, por algum motivo, não puderam amamentar - ao invés de escorrer pelo ralo do banheiro.
Você também pode.

As interessadas em doar leite devem procurar o Centro de Referência para Bancos de Leite Humano do seu estado. Nem todas as mulheres, entretanto, estão aptas para o ato. Entre os pré-requisitos do "controle de qualidade" dos bancos, é preciso estar amamentando o filho, ser saudável e ter leite excedente. A equipe analisa também o grau de acidez do leite. Depois de aprovadas, as futuras doadoras recebem um kit com touca, máscara e vidros, entre outros itens hospitalares.Os profissionais do banco também dão orientações sobre a retirada e o armazenamento do leite. Mais informações no site da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano: www.redeblh.fiocruz.br

Marcadores:

1 Respostas a “Amamentação solidária”

  1. # Blogger Geisa Cristina

    Oi Débora... eu estava com dificuldades para comentar aqui... é diferente, né!! Sobre a amamentação solidária, eu acho muito importante! Pena que eu não doei... nenhuma vez... amamento até hj, mas é só qdo minha filha está com sono ou nervosa... não sei se teria condições de retirar o leite agora... antes tinha bastante que o peito até inchava... agora ela já está com 2 anos e meio... os peitos já murcharam todos!!!! Um beijão e obrigada pelas visitas!!!  

Postar um comentário

---------------------------------



QUEM  SOMOS
 



Tricia Cavalcante: Doula na Tradição, formada pela ONG Cais do Parto, mãe de três, e doula pós-parto.Moro em Fortaleza-CE.


.


Assine o Parir é Nascer! (RSS)

Para receber as atualizações do Parir é Nascer, inscreva seu email abaixo:

Delivered by FeedBurner

---------------------------------



O  QUE  VOCÊ  PROCURA?
 















---------------------------------



INDICAÇÃO  DE  LEITURA
 
















---------------------------------



INTERESSANTES
 

---------------------------------



ONDE  NOS  ENCONTRAR
 

















Powered by Blogger




eXTReMe Tracker