Parto Normal: um direito que se tornou uma conquista?
escrito por: Tricia em quarta-feira, novembro 01, 2006 às 4:55 PM.
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por: Carla Beatriz***
Eu tive meus dois filhos de parto normal. Eu sempre quis ter um parto normal, desde muito pequena. Sempre encarei o parto normal com naturalidade e era isso que eu queria, quando tivesse meus filhos. Não conseguia entender e ficava extremamente desapontada, quando ouvia que as mulheres, uma atrás da outra, faziam cesárea para ter seus filhos, pelos mais variados motivos: falta de dilatação, falta de contração, cordão enrolado no pescoço, pressão alta, bebê muito grande, etc. Eu sempre fui a “diferente”, a que dizia para quem quisesse ouvir: que queria ter meus filhos de parto normal e, se possível, de cócoras e/ou na água. As pessoas me achavam, no mínimo, esquisita e com idéias loucas.
- Parto de cócoras? Igual às índias?
- Parto dentro d’água? Tá doida?!
- Espera para você entrar em trabalho de parto, para ver se você não vai implorar por uma cesárea!
Quando comecei a trilhar minha empreitada para ter um parto normal, não fazia idéia do que iria encontrar e o quanto a minha vida mudaria através dessa busca. Minha pesquisa na internet se iniciou pelo parto de cócoras, que era meu sonho de menina. Acabei descobrindo e encontrando muito mais do que poderia imaginar: descobri a humanização do nascimento. Descobri também o parto domiciliar, que não sabia ser uma opção viável no Brasil. Fiquei maravilhada com o que li e com as fotos que vi. Pensei comigo mesma: “É isso mesmo o que eu quero para mim!”. Mas claro, eu sempre fui a diferente, a esquisita, a radical, a que nunca fazia o que todo mundo faz. Sempre fui aquela que vai para a esquerda, se todo mundo vai para a direita. E vice-versa.
Mas será que as mulheres precisam ser assim na busca de um parto normal? O parto normal não deveria ser a regra, ao invés da exceção, como é hoje no Brasil? O próprio nome já diz: normal. Não é mais natural (normal!) deixar a natureza seguir o seu curso? Afinal de contas, nós mulheres, não fomos feitas para parir? Desde a nossa primeira menstruação, somos lembradas mensalmente que estamos prontas para abrigar um embrião em nossos úteros e para parir um bebê. Nosso corpo é especialmente preparado para abrigar um bebê por nove meses em nosso útero e, ao término desse prazo, ele se prepara para expelir esse bebê, culminando no parto. Será que somos assim tão diferentes das índias, das gregas, das romanas, das russas, das egípcias, das africanas, das esquimós ou das nossas mães, avós, bisavós e demais antecessoras, que desde sempre, tiveram seus filhos de parto normal?
Quando eu dizia às pessoas que queria ter um parto de cócoras e que não queria sofrer episiotomia, invariavelmente ouvia os seguintes comentários:
“As mulheres modernas não estão preparadas para um parto de cócoras. É necessário ter um bom condicionamento e estar em boa forma física.”
“A episiotomia protege o assoalho pélvico e previne problemas futuros na bexiga”
“Se os médicos fazem a episiotomia nas mulheres durante o trabalho de parto, é porque alguma razão tem. E não sou eu quem vai questionar isso.”
“Você vai fazer o que o médico mandar e pronto!” (Resposta de um estudante de medicina, ao me ouvir dizer que eu não queria sofrer uma episiotomia e que não iria permitir que o médico a fizesse em mim).
Será? Por que não posso questionar o procedimento que um médico vai realizar? Por que preciso ser uma atleta para ter meu filho de parto de cócoras? Por que tenho que me submeter a um procedimento a qual não desejo ser submetida? Por que tenho que me resignar a sofrer uma cesárea, se o que eu quero é um parto normal?
Eu resolvi desafiar esses questionamentos e provar, mais do que aos outros, a mim mesma, de que era capaz de ter meus filhos de maneira natural, de cócoras e sem episiotomia. Durante minha caminhada em busca disso, descobri que eu podia sim questionar o médico e não permitir que fizesse procedimentos em mim que eu não permitisse. Descobri que eu não precisava ficar do começo ao fim da gestação com o mesmo médico e que podia mudar segundo a minha vontade, até encontrar um médico que pensasse como eu. Vejo tantas mulheres que desejam ter um parto normal, mas que não querem trocar de médico, porque já estão acostumadas com esse, porque têm receio de mudar no final da gestação e, invariavelmente, acabam sofrendo uma cesárea desnecessária, quando podiam perfeitamente ter tido seus filhos de parto normal.
Cada vez que eu converso com as gestantes, questiono o posicionamento do médico em relação ao parto normal e recebo as mais variadas respostas:
- Meu médico é favorável ao parto normal, mas ele disse que só na hora é que saberemos se dará para fazê-lo.
- Meu médico é favorável ao parto normal, mas só se o bebê pesar menos do que 3.400 gramas! Acima desse peso, ele só faz cesárea!
- É muito cedo para eu conversar com o meu médico sobre parto normal, mais no final da gestação eu discuto a respeito com ele.
- Meu médico disse para eu não engordar muito, porque senão não conseguirei ter meu filho de parto normal.
- Meu médico disse que o parto de cócoras é para índias, que hoje, com toda a tecnologia que temos, não tem sentido fazer um parto assim. Além disso, as mulheres modernas não estão preparadas para ter um parto assim, porque não nos exercitamos o suficiente para ter os filhos desse jeito. As índias vivem agachadas, de cócoras e é mais fácil para elas terem os filhos!
- Eu perguntei à minha médica sobre o parto de cócoras e ela disse que de jeito nenhum, que não vai arriscar a minha vida e a de meu bebê em um parto assim!
- Ah, mas você não me conhece, meu médico vai fazer um parto normal em mim, porque eu vou dizer a ele que é isso o que eu quero e ponto!
Qual foi o desfecho para todas essas gestantes? Cesárea. Se o médico não acredita na capacidade da mulher de parir, não será uma gestante isolada que irá conseguir mudar sua maneira de pensar. Mais. É um sistema de crenças e tradições, assim como a maioria dos médicos acredita que a episiotomia de rotina é benéfica para a mulher, mesmo que evidências de estudos atuais mostrem o contrário.
Alguns médicos acreditam que uma episiotomia protege o pavimento pélvico contra lacerações. Um estudo de 2005 publicado no Journal of the American Medical Association, bem como outros estudos recentes, provam que esse é um pressuposto incorreto. Estas descobertas também mostram que não há evidências de que um corte no períneo proteja os músculos pélvicos.
Outra razão frequentemente citada para a realização de uma episiotomia é a crença de que um rasgão natural cura-se mais lentamente do que um corte instrumental. Isto não é verdade. Um rasgão natural vai recuperar muito mais rapidamente. Rasgar é muito mais seguro do que cortar, de acordo com um estudo de 1987 feito por J.M. Thorp e outros médicos, publicado na Obstet Gynecol.
Outro fato interessante, e que alguns estudos demonstraram, é que as mulheres que rasgam naturalmente durante o parto, retornam à atividade sexual mais cedo do que as mulheres "cortadas" pelo médico (Esta descoberta foi reportada por P.G. Larsson e outros médicos na edição de 1991 da of Gynecol Obstet).
(HILL, Heather. Episiotomia… É mesmo necessária?” BEBES.com.pt [online]. [Citado em 25 de maio de 2006]. Disponível no link:.)
Será que as coisas devem continuar assim? As mulheres devem continuar sendo submetidas a procedimentos e cesáreas desnecessárias, mesmo quando não é seu desejo original? O que precisamos fazer para mudar esta realidade no Brasil?
As mudanças em uma sociedade nunca ocorrem de cima para baixo. É necessário que as pessoas comecem a mudar sua maneira de pensar e que lutem pelo que acreditam, para que mais e mais pessoas possam ver que é possível fazer as coisas de maneira diferente.
Ainda somos poucas mulheres que trilhamos o caminho da humanização do nascimento. Muito poucas de nós conseguiram ter seus filhos de parto natural – de cócoras, na água, em casa, no hospital – e muitas outras não o conseguiram, apesar de seu desejo muito grande. A maioria enfrenta enormes dificuldades para ter um parto normal, a começar pelos médicos, que não acreditam na capacidade da mulher para parir.
O importante é que se saiba que é possível parir naturalmente no Brasil. Que há mulheres que conseguiram ter seus filhos de parto natural e do jeito que queriam, sendo respeitadas em seus desejos e durante o trabalho de parto. E que essas mulheres não querem que suas conquistas fiquem restritas a elas e sim, divulgar para as outras mulheres que uma outra maneira de parir é possível sim. É preciso querer e lutar. Muitas vezes, não vamos conseguir, mas a cada vitória obtida, mais um ponto é contado a favor da humanização do parto. Nós queremos. Nós podemos. Nós somos capazes de parir naturalmente. Somos mulheres e essa é nossa maior força.
Carla Beatriz Piuma Maise
Mãe de Gabriel Thomas, nascido de parto natural hospitalar e
de Melissa Nicole, nascida de parto natural domiciliar.
Secretária executiva.
Eu tive meus dois filhos de parto normal. Eu sempre quis ter um parto normal, desde muito pequena. Sempre encarei o parto normal com naturalidade e era isso que eu queria, quando tivesse meus filhos. Não conseguia entender e ficava extremamente desapontada, quando ouvia que as mulheres, uma atrás da outra, faziam cesárea para ter seus filhos, pelos mais variados motivos: falta de dilatação, falta de contração, cordão enrolado no pescoço, pressão alta, bebê muito grande, etc. Eu sempre fui a “diferente”, a que dizia para quem quisesse ouvir: que queria ter meus filhos de parto normal e, se possível, de cócoras e/ou na água. As pessoas me achavam, no mínimo, esquisita e com idéias loucas.
- Parto de cócoras? Igual às índias?
- Parto dentro d’água? Tá doida?!
- Espera para você entrar em trabalho de parto, para ver se você não vai implorar por uma cesárea!
Quando comecei a trilhar minha empreitada para ter um parto normal, não fazia idéia do que iria encontrar e o quanto a minha vida mudaria através dessa busca. Minha pesquisa na internet se iniciou pelo parto de cócoras, que era meu sonho de menina. Acabei descobrindo e encontrando muito mais do que poderia imaginar: descobri a humanização do nascimento. Descobri também o parto domiciliar, que não sabia ser uma opção viável no Brasil. Fiquei maravilhada com o que li e com as fotos que vi. Pensei comigo mesma: “É isso mesmo o que eu quero para mim!”. Mas claro, eu sempre fui a diferente, a esquisita, a radical, a que nunca fazia o que todo mundo faz. Sempre fui aquela que vai para a esquerda, se todo mundo vai para a direita. E vice-versa.
Mas será que as mulheres precisam ser assim na busca de um parto normal? O parto normal não deveria ser a regra, ao invés da exceção, como é hoje no Brasil? O próprio nome já diz: normal. Não é mais natural (normal!) deixar a natureza seguir o seu curso? Afinal de contas, nós mulheres, não fomos feitas para parir? Desde a nossa primeira menstruação, somos lembradas mensalmente que estamos prontas para abrigar um embrião em nossos úteros e para parir um bebê. Nosso corpo é especialmente preparado para abrigar um bebê por nove meses em nosso útero e, ao término desse prazo, ele se prepara para expelir esse bebê, culminando no parto. Será que somos assim tão diferentes das índias, das gregas, das romanas, das russas, das egípcias, das africanas, das esquimós ou das nossas mães, avós, bisavós e demais antecessoras, que desde sempre, tiveram seus filhos de parto normal?
Quando eu dizia às pessoas que queria ter um parto de cócoras e que não queria sofrer episiotomia, invariavelmente ouvia os seguintes comentários:
“As mulheres modernas não estão preparadas para um parto de cócoras. É necessário ter um bom condicionamento e estar em boa forma física.”
“A episiotomia protege o assoalho pélvico e previne problemas futuros na bexiga”
“Se os médicos fazem a episiotomia nas mulheres durante o trabalho de parto, é porque alguma razão tem. E não sou eu quem vai questionar isso.”
“Você vai fazer o que o médico mandar e pronto!” (Resposta de um estudante de medicina, ao me ouvir dizer que eu não queria sofrer uma episiotomia e que não iria permitir que o médico a fizesse em mim).
Será? Por que não posso questionar o procedimento que um médico vai realizar? Por que preciso ser uma atleta para ter meu filho de parto de cócoras? Por que tenho que me submeter a um procedimento a qual não desejo ser submetida? Por que tenho que me resignar a sofrer uma cesárea, se o que eu quero é um parto normal?
Eu resolvi desafiar esses questionamentos e provar, mais do que aos outros, a mim mesma, de que era capaz de ter meus filhos de maneira natural, de cócoras e sem episiotomia. Durante minha caminhada em busca disso, descobri que eu podia sim questionar o médico e não permitir que fizesse procedimentos em mim que eu não permitisse. Descobri que eu não precisava ficar do começo ao fim da gestação com o mesmo médico e que podia mudar segundo a minha vontade, até encontrar um médico que pensasse como eu. Vejo tantas mulheres que desejam ter um parto normal, mas que não querem trocar de médico, porque já estão acostumadas com esse, porque têm receio de mudar no final da gestação e, invariavelmente, acabam sofrendo uma cesárea desnecessária, quando podiam perfeitamente ter tido seus filhos de parto normal.
Cada vez que eu converso com as gestantes, questiono o posicionamento do médico em relação ao parto normal e recebo as mais variadas respostas:
- Meu médico é favorável ao parto normal, mas ele disse que só na hora é que saberemos se dará para fazê-lo.
- Meu médico é favorável ao parto normal, mas só se o bebê pesar menos do que 3.400 gramas! Acima desse peso, ele só faz cesárea!
- É muito cedo para eu conversar com o meu médico sobre parto normal, mais no final da gestação eu discuto a respeito com ele.
- Meu médico disse para eu não engordar muito, porque senão não conseguirei ter meu filho de parto normal.
- Meu médico disse que o parto de cócoras é para índias, que hoje, com toda a tecnologia que temos, não tem sentido fazer um parto assim. Além disso, as mulheres modernas não estão preparadas para ter um parto assim, porque não nos exercitamos o suficiente para ter os filhos desse jeito. As índias vivem agachadas, de cócoras e é mais fácil para elas terem os filhos!
- Eu perguntei à minha médica sobre o parto de cócoras e ela disse que de jeito nenhum, que não vai arriscar a minha vida e a de meu bebê em um parto assim!
- Ah, mas você não me conhece, meu médico vai fazer um parto normal em mim, porque eu vou dizer a ele que é isso o que eu quero e ponto!
Qual foi o desfecho para todas essas gestantes? Cesárea. Se o médico não acredita na capacidade da mulher de parir, não será uma gestante isolada que irá conseguir mudar sua maneira de pensar. Mais. É um sistema de crenças e tradições, assim como a maioria dos médicos acredita que a episiotomia de rotina é benéfica para a mulher, mesmo que evidências de estudos atuais mostrem o contrário.
Alguns médicos acreditam que uma episiotomia protege o pavimento pélvico contra lacerações. Um estudo de 2005 publicado no Journal of the American Medical Association, bem como outros estudos recentes, provam que esse é um pressuposto incorreto. Estas descobertas também mostram que não há evidências de que um corte no períneo proteja os músculos pélvicos.
Outra razão frequentemente citada para a realização de uma episiotomia é a crença de que um rasgão natural cura-se mais lentamente do que um corte instrumental. Isto não é verdade. Um rasgão natural vai recuperar muito mais rapidamente. Rasgar é muito mais seguro do que cortar, de acordo com um estudo de 1987 feito por J.M. Thorp e outros médicos, publicado na Obstet Gynecol.
Outro fato interessante, e que alguns estudos demonstraram, é que as mulheres que rasgam naturalmente durante o parto, retornam à atividade sexual mais cedo do que as mulheres "cortadas" pelo médico (Esta descoberta foi reportada por P.G. Larsson e outros médicos na edição de 1991 da of Gynecol Obstet).
(HILL, Heather. Episiotomia… É mesmo necessária?” BEBES.com.pt [online]. [Citado em 25 de maio de 2006]. Disponível no link:
Será que as coisas devem continuar assim? As mulheres devem continuar sendo submetidas a procedimentos e cesáreas desnecessárias, mesmo quando não é seu desejo original? O que precisamos fazer para mudar esta realidade no Brasil?
As mudanças em uma sociedade nunca ocorrem de cima para baixo. É necessário que as pessoas comecem a mudar sua maneira de pensar e que lutem pelo que acreditam, para que mais e mais pessoas possam ver que é possível fazer as coisas de maneira diferente.
Ainda somos poucas mulheres que trilhamos o caminho da humanização do nascimento. Muito poucas de nós conseguiram ter seus filhos de parto natural – de cócoras, na água, em casa, no hospital – e muitas outras não o conseguiram, apesar de seu desejo muito grande. A maioria enfrenta enormes dificuldades para ter um parto normal, a começar pelos médicos, que não acreditam na capacidade da mulher para parir.
O importante é que se saiba que é possível parir naturalmente no Brasil. Que há mulheres que conseguiram ter seus filhos de parto natural e do jeito que queriam, sendo respeitadas em seus desejos e durante o trabalho de parto. E que essas mulheres não querem que suas conquistas fiquem restritas a elas e sim, divulgar para as outras mulheres que uma outra maneira de parir é possível sim. É preciso querer e lutar. Muitas vezes, não vamos conseguir, mas a cada vitória obtida, mais um ponto é contado a favor da humanização do parto. Nós queremos. Nós podemos. Nós somos capazes de parir naturalmente. Somos mulheres e essa é nossa maior força.
Carla Beatriz Piuma Maise
Mãe de Gabriel Thomas, nascido de parto natural hospitalar e
de Melissa Nicole, nascida de parto natural domiciliar.
Secretária executiva.
Marcadores: depoimento, parto, parto natural
É inacreditavel que ninguem até agora não tenha comentado um depoimento tão revelador, eu estou gravida de 6 mese e tambem quero um parto normal...E é claro vou ter...Depois volto aki para falar como foi beijossssssssss
E muito obrigada por mim dar mais motivos para ter um parto normal
bj
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